Nem tão bons, nem tão maus: o equilíbrio tático de Bolsonaro e Moraes
“Eu tenho que manter a minha fama de mal” — canta Erasmo Carlos, numa daquelas frases que viraram quase lei para quem constrói a própria imagem na marra. Mas nesta terça-feira, 10, ao que tudo indica, tanto Jair Bolsonaro quanto Alexandre de Moraes decidiram fazer exatamente o contrário. ” Eu tenho que perder a minha […]


“Eu tenho que manter a minha fama de mal” — canta Erasmo Carlos, numa daquelas frases que viraram quase lei para quem constrói a própria imagem na marra. Mas nesta terça-feira, 10, ao que tudo indica, tanto Jair Bolsonaro quanto Alexandre de Moraes decidiram fazer exatamente o contrário. ” Eu tenho que perder a minha fama de mal”.
Durante o interrogatório no STF, o que se viu foi um Bolsonaro sem bravatas, visivelmente contido. O homem que ficou conhecido por não ter papas na língua, que desafiou o Judiciário inúmeras vezes em lives e discursos inflamados, optou por não esticar a corda. Tropeçou no português aqui e ali, como de costume, mas não atacou. Não foi agressivo. Foi quase conciliador.
Do outro lado da mesa, Alexandre de Moraes, o ministro rotulado como algoz da direita, também baixou o tom. Conduziu o depoimento com formalidade, sim, mas sem tensão. Em vez do embate que muitos esperavam ou desejavam, o que se viu foram até sorrisos entre advogados, piadas leves, uma sessão em clima quase cordial. Houve cálculo. Dos dois lados.
Bolsonaro, acuado por investigações e desgastes, tenta mostrar que é capaz de dialogar ou pelo menos de não afrontar. Moraes, por sua vez, sabe que não pode parecer parcial ou emocional demais diante de uma figura tão simbólica para a polarização brasileira.
Foi como se, por algumas horas, os dois personagens mais duros da República tivessem trocado o figurino. Ao invés do embate, encenação estratégica. Ao invés de confronto, contenção. Ao invés de manter a “fama de mal”, parecia que ambos estavam interessados em perdê-la ou ao menos em suavizá-la
Se alguém esperava faísca, viu ensaio.
Se esperavam tensão, viram diplomacia.
Se esperavam guerra, viram jogo.
No fim, ficou uma certeza: até a “fama de mal” pode ser revista… quando o jogo político exige.
Por Joyce Moura- jornalista
@joycemourarealize
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