O ALIENÍGENA (PARTE XVIII)

 Clauder Arcanjo* Pintura Largo da Carioca (1816), de Nicolas-Antoine Taunay.   Os sinos repicaram juntos, tangendo todos para fora de casa. — Morreu tanta gente assim, Das Dores, para este despotismo enorme? — indagou Robertão Social, que passara a noite no Caneco Amassado e amanheceu ainda nos braços da competente rapariga. Das Dores nada lhe […]

May 18, 2025 - 01:00
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O ALIENÍGENA (PARTE XVIII)

 Clauder Arcanjo*

Pintura Largo da Carioca (1816), de Nicolas-Antoine Taunay.

 

Os sinos repicaram juntos, tangendo todos para fora de casa.

— Morreu tanta gente assim, Das Dores, para este despotismo enorme? — indagou Robertão Social, que passara a noite no Caneco Amassado e amanheceu ainda nos braços da competente rapariga.

Das Dores nada lhe respondeu; cuidou de sair do leito, meter o vestido da missa de domingo, ajeitar o coque e, em seguida, em passo ligeiro, cuidar de verificar o ocorrido na frente da Santa Igreja. Quando lá chegou, deparou-se com uma multidão de licanienses assustados.

— Ô terra de gente frouxa! — soprou baixinho, mas nem tão baixo assim, pois Brizolete Hernandes captou o que Das Dores dissera, interrogando-a:

— As mulheres também estão incluídas nessa sua lista, senhora?…

— Maria das Dores Anastácia, meu nome de batismo. Das Dores, para os de casa. Dorinha, para os mais… íntimos — respondeu, enquanto assentava melhor o vestido na bunda avantajada.

— Eu lhe fiz uma pergunta, Maria das Dores.

— Se as mulheres daqui são frouxas eu não sei dizer, porém as do Caneco Amassado são valentes, pois não fogem de cacete nenhum — disparou, contendo o riso.

— Senhora Maria das Dores, o que acha de se juntar ao grupo que está em busca de desvendar o mistério que aflige nossa província? Dado que se apresenta tão co-ra-jo-sa — cutucou Brizó.

Das Dores coçou a ponta do queixo, correu os olhos pelos presentes e, mais do que rapidamente, deu o caso por encerrado:

— Vocês cuidem do problema de vocês, eu já tenho muito macho frouxo para consolar nos lençóis da minha cama.

 

& & &

 

Sobre os telhados, a rapaziada montara campana para, daquele ângulo mais privilegiado, flagrar a aparição do matreiro alienígena.

Gazumba subiu no telhado da Matriz de Sant’Anna; Paulo Bodô, no da Igreja São João.

Zé Aguiar, após doze tentativas infrutíferas de subir até a cumeeira do Patronato Sant’Anna, decidiu aquietar-se em terra firme:

— Serei o que darei cobertura aos que observam do alto — defendeu.

Cabo Jacinto Gamão, João Américo, professor Galvino, Baltazar do Bozó e Belarmino nem se mexeram, os nervos já os deixavam em apuros numa caminhada em terra plana, quanto mais nas alturas.

O valente Goiaba ia e vinha em torno dos pontos de observação, como se quisesse estar presente no telhado.

Madame Brizolete Hernandes, agora já ladeada com o seu fiel escudeiro Robertão Social, pediu tento ao pobre cão:

— Se aquiete, Goiaba! Sua valentia não resiste ao primeiro sinal da presença do tal desconhecido. Quieto!

Madame Brizolete Hernandes reparou algo estranho nos céus de Licânia:

— Vejam lá, bem longe. Dá para ver?

— É um OVNI! — exaltou-se Acácio.

— É um avião! — rebateu João Américo.

— É o tal do alien… — Belarmino tentou concluir a sua suspeita, o medo garroteou-lhe a voz.

— …uuuuuuu… Auuuuuuu… uuu…

Todos os “corajosos” observadores abandonaram os seus postos, jogando-se do alto. O medo, porém, não lhes deu asas: um tombo enorme politraumatizou-lhes costelas, braços e canelas.

— …uuuuuuu… Auuuuuuu… uuu…

Paro por aqui para socorrer os meus personagens. Se tudo der certo, semana que entra estarei de volta.

 

*Clauder Arcanjo é escritor e editor, membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

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