O ALIENÍGENA (PARTE XXXIV)

Clauder Arcanjo* Pintura “A ressurreição de Lázaro”, de Rembrandt.   Licânia deserta. Sem habitantes, sem cães pelas ruas, tão somente o silêncio. Pesado, como se de uma terra abandonada. De repente, um chamado aos gritos: — Sócrates! Platão! Aristóteles! Com pouco mais, um ganido alto: — Au!… Au!… Au!… Nem o latido assentara, um miado […]

Sep 7, 2025 - 09:00
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O ALIENÍGENA (PARTE XXXIV)

Clauder Arcanjo*

Pintura “A ressurreição de Lázaro”, de Rembrandt.

 

Licânia deserta. Sem habitantes, sem cães pelas ruas, tão somente o silêncio. Pesado, como se de uma terra abandonada.

De repente, um chamado aos gritos:

— Sócrates! Platão! Aristóteles!

Com pouco mais, um ganido alto:

— Au!… Au!… Au!…

Nem o latido assentara, um miado agourento:

— Miauuu!… Miauuu!…

Na sequência, sete tiros secos:

“Pei! Pei! Pei! Pei! Pei! Pei! Pei!”

No ruge-ruge, segue-se um arrastado de lata velha. Era uma mula mascarada, em desembestamento total, percorrendo a Avenida São João em direção à Matriz.

No alto da Igreja São João, um vaticínio:

— É o fim do mundo!

O sino repica como se em chamado para uma missa de corpo presente:

“Bein! Bein!… Bein! Bein!… Bein! Bein!…”

Pela amplificadora do Mercado Público, a ordem pela “Voz do Município”:

— Todos os que restaram serão castigados. E, depois, cremados em plena Praça do Poeta, para que seja expurgada para sempre a desdita que caiu sobre esta terra. Todos que ainda aqui ficaram serão açoitados. No tronco do tamarineiro, nus e flagelados, sob chibata, no cacete de jucá do Cabo Jacinto Gamão. Hah… Hah… Hah…

Após a risada fúnebre, correu cabra de porta afora. Mal dobravam a esquina do Alto da Liberdade, eram recebidos e presos dentro do Grupo do Alto.

Ao todo, sete capangas. Foram logo desarmados e submetidos ao arrocho do Cabo Jacinto Gamão. Na primeira lapada, tudo foi descoberto.

O que eles revelaram?!

Calma, curioso leitor, nem só de revelações sobrevive este drama. Aguardemos o próximo capítulo.

Todo o mistério será desvendado.

— Sócrates! Platão! Aristóteles!

— Au!… Au!… Au!…

— Miauuu!… Miauuu!…

— Hah… Hah… Hah…

Licânia foi varrida por um vento novo. Os cães e os gatos voltaram para as ruas, e o silêncio evaporou-se. Depressa, como se a província renascesse num ato mágico.

João Américo, o protofilósofo de Licânia, exortou:

Licania fera renascitur! Gloria deo.

 

*Clauder Arcanjo é escritor e editor, membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

 

Pintura “A ressurreição de Lázaro”, de Rembrandt.

 

Licânia deserta. Sem habitantes, sem cães pelas ruas, tão somente o silêncio. Pesado, como se de uma terra abandonada.

De repente, um chamado aos gritos:

— Sócrates! Platão! Aristóteles!

Com pouco mais, um ganido alto:

— Au!… Au!… Au!…

Nem o latido assentara, um miado agourento:

— Miauuu!… Miauuu!…

Na sequência, sete tiros secos:

“Pei! Pei! Pei! Pei! Pei! Pei! Pei!”

No ruge-ruge, segue-se um arrastado de lata velha. Era uma mula mascarada, em desembestamento total, percorrendo a Avenida São João em direção à Matriz.

No alto da Igreja São João, um vaticínio:

— É o fim do mundo!

O sino repica como se em chamado para uma missa de corpo presente:

“Bein! Bein!… Bein! Bein!… Bein! Bein!…”

Pela amplificadora do Mercado Público, a ordem pela “Voz do Município”:

— Todos os que restaram serão castigados. E, depois, cremados em plena Praça do Poeta, para que seja expurgada para sempre a desdita que caiu sobre esta terra. Todos que ainda aqui ficaram serão açoitados. No tronco do tamarineiro, nus e flagelados, sob chibata, no cacete de jucá do Cabo Jacinto Gamão. Hah… Hah… Hah…

Após a risada fúnebre, correu cabra de porta afora. Mal dobravam a esquina do Alto da Liberdade, eram recebidos e presos dentro do Grupo do Alto.

Ao todo, sete capangas. Foram logo desarmados e submetidos ao arrocho do Cabo Jacinto Gamão. Na primeira lapada, tudo foi descoberto.

O que eles revelaram?!

Calma, curioso leitor, nem só de revelações sobrevive este drama. Aguardemos o próximo capítulo.

Todo o mistério será desvendado.

— Sócrates! Platão! Aristóteles!

— Au!… Au!… Au!…

— Miauuu!… Miauuu!…

— Hah… Hah… Hah…

Licânia foi varrida por um vento novo. Os cães e os gatos voltaram para as ruas, e o silêncio evaporou-se. Depressa, como se a província renascesse num ato mágico.

João Américo, o protofilósofo de Licânia, exortou:

Licania fera renascitur! Gloria deo.

 

*Clauder Arcanjo é escritor e editor, membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

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