O pecado capital de Sóstenes, líder da extrema-direita na Câmara
Muito ainda está por vir
“Dinheiro na mão é vendaval” é uma expressão portuguesa que significa que o dinheiro é efêmero e pode desaparecer tão rapidamente como chega, se não for gerido com cuidado. Realça a facilidade com que o dinheiro pode ser gasto ou perdido.
Paulinho da Viola eternizou a expressão na música composta em apenas um dia de 1975 para a novela “Pecado Capital”, da TV Globo. Diz a letra do samba-canção:
“Dinheiro na mão é vendaval
É vendaval!
Na vida de um sonhador
De um sonhador!
Quanta gente aí se engana
E cai da cama
Com toda a ilusão que sonhou
E a grandeza se desfaz
Quando a solidão é mais
Alguém já falou…”
Sóstenes Cavalcanti (RJ), líder do PL na Câmara, quase caiu da cama quando agentes federais bateram ontem à porta do seu apartamento em Brasília para depois saírem de lá com 430 mil reais, em dinheiro vivo, encontrados dentro de um guarda-roupa.
Um vendaval abateu-se sobre a vida do pastor que prega fidelidade aos desígnios de Deus e de Bolsonaro, e tão cedo se dissipará. De onde veio tanto dinheiro? Por que guardar em casa, e sujeito a roubo, tremenda fortuna? Por que não a depositou em um banco?
Atordoado, Sóstenes ensaiou respostas pouco convincentes, algumas retiradas de um papel que lhe deu um assessor. O dinheiro foi fruto da venda de um imóvel em Minas Gerais, embora Sóstenes more no Rio e passe a semana em Brasília.
Que tipo de imóvel? Ele não disse. Em que município de Minas fica o imóvel? Ele tampouco disse, por não se lembrar. A quem ele vendeu o imóvel? Sóstenes não respondeu. Limitou-se a repetir que é um perseguido político porque defende ideias conservadoras.
Quanto a ter preferido guardar o dinheiro em casa ao invés de depositá-lo em um banco, Sóstenes atribuiu ao fato de que é um homem muito ocupado, sem tempo para nada. Foi “um lapso”, desculpou-se. Um lapso que lhe custará caro.
Por fim, espalhou uma cortina de fumaça ao citar Lulinha, o filho mais velho de Lula, que poderia estar metido no escândalo de desvio de dinheiro do INSS, e a mulher do ministro Alexandre de Moraes que teria advogado para o extinto Banco Master.
O que Lulinha e a advogada têm a ver com a desventura de Sóstenes? Nada. Moraes não é juiz do caso Master. Sua mulher pode advogar para quem quiser e cobrar quanto queira. Lulinha ainda não foi chamado para depor em parte alguma.
Além de Sóstenes, a Operação Galho Fraco teve também como alvo o deputado Carlos Jordy (PL-RJ). Ela tem como objetivo aprofundar investigações que decorrem há um ano sobre o desvio de recursos públicos oriundos de cotas parlamentares.
Segundo Flávio Dino, ministro do Supremo, há provas da ocorrência de lavagem de dinheiro em função do fracionamento de saques e depósitos não superiores ao valor de R$ 9.999 – prática conhecida como “smurfing” e adotada para evitar alertas automáticos do sistema financeiro.
Há suspeita do uso da cota parlamentar para custear despesas consideradas “inexistentes”; conversas de WhatsApp que tratam de pagamentos “por fora”; utilização de “empresas de fachada”; e “elevadas” movimentações financeiras “sem origem dos recursos” rastreadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras.
Em 2022, Sóstenes declarou à Justiça Eleitoral que tinha em seu nome apenas 4,9 mil reais em duas contas correntes: uma com 4,3 mil, a outra com cerca de 600. Melhorou de vida desde então. A política opera milagres.
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