Pancreatite, coma e ansiedade: os efeitos do uso indevido do Mounjaro
À coluna, dois médicos especialistas explicam os perigos da automedicação e os possíveis danos à saúde
Após revelar o comércio ilegal das chamadas “canetas emagrecedoras” no Distrito Federal, a coluna mostra agora os riscos à saúde provocados pelo uso do Mounjaro sem orientação médica.
Desde que chegou ao Brasil, o medicamento, desenvolvido originalmente para o tratamento do diabetes tipo 2, passou a ser usado de forma indiscriminada, impulsionado por promessas de emagrecimento rápido e resultados estéticos.
Por trás da perda de peso imediata, porém, há riscos graves que podem comprometer o metabolismo, afetar órgãos vitais e causar dependência psicológica.
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À coluna, os médicos Sandro Ferraz, referência nacional em nutrologia, emagrecimento, longevidade e performance, e Andrea Pereira, nutróloga e cofundadora da ONG Obesidade Brasil, detalharam as principais complicações associadas ao uso sem acompanhamento profissional do medicamento que se transformou em fenômeno nas redes e nas farmácias.
Confira:
- Hipoglicemia grave
O Mounjaro é um análogo de GIP/GLP-1 originalmente indicado para o tratamento do diabetes tipo 2.
Sem supervisão médica, o medicamento pode provocar queda acentuada da glicose, levando a sintomas como tontura, desmaio, confusão mental e, em casos extremos, coma hipoglicêmico.
- Náuseas, vômitos e desidratação intensa
A tirzepatida, princípio ativo do Mounjaro, retarda o esvaziamento gástrico.
Quando usada em doses incorretas, pode causar enjoo persistente, refluxo e vômitos, evoluindo para desidratação e desequilíbrio eletrolítico — quadro perigoso para rins e coração.
- Pancreatite aguda
O uso inadequado do medicamento também pode aumentar o risco de inflamação no pâncreas.
Os sintomas incluem dor abdominal intensa, febre e mal-estar generalizado. Trata-se de uma complicação potencialmente grave, que exige internação imediata.
- Perda de massa magra e flacidez
Sem acompanhamento nutricional e prática regular de atividade física, o emagrecimento tende a ocorrer às custas de músculo e água, não apenas de gordura.
O resultado é um corpo debilitado, metabolismo lento e o chamado “efeito sanfona” após a suspensão do medicamento.
- Alterações hormonais e riscos psicológicos
A tirzepatida interfere na liberação de hormônios intestinais e na sinalização da saciedade.
Sem ajuste clínico, pode causar alterações de humor, ansiedade alimentar, compulsão após a interrupção do uso e até disfunções hormonais secundárias.
A médica Andrea Pereira destaca ainda que a aplicação incorreta também pode gerar complicações. “Essa medicação deve ser usada por via subcutânea. A aplicação errada pode causar hematomas ou comprometer o efeito do remédio”, explicou.
Riscos de produtos falsificados
Além dos perigos da automedicação, a venda do produto em locais sem fiscalização sanitária, como feiras e comércios populares, aumenta o risco de falsificação ou de perda da eficácia por armazenamento inadequado.
Segundo os especialistas, versões paralelas podem conter substâncias adulteradas, concentrações incorretas ou até ausência total do princípio ativo.
Nesses casos, os riscos ultrapassam os efeitos colaterais esperados e incluem:
- Infecções graves causadas por soluções contaminadas.
- Reações alérgicas severas devido a solventes não estéreis.
- Toxicidade hepática ou renal.
- Morte por anafilaxia ou embolia provocada por injetáveis falsos.
“A substância verdadeira é vendida apenas em farmácias credenciadas. Não há liberação para manipulação, por conta da patente. Qualquer outra forma de aquisição é irregular e sem fiscalização”, alertou Andrea.
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Se utilizado sem acompanhamento, o medicamento pode colocar a saúde em risco2 de 6
A compra do produto no comércio ilegal impulsiona o risco da compra de substâncias falsificadas3 de 6
O médicamento é vendido sem receita em farmácias localizadas no centro da capital federalDaniel Ferreira/Metrópoles4 de 6
A coluna constatou que a venda irregular ocorre no Plano Piloto, Taguatinga e Vicente PiresDaniel Ferreira/Metrópoles5 de 6
Na maioria das farmácias visitadas pela reportagem, as canetas chegam sob encomendaDaniel Ferreira/Metrópoles6 de 6
O medicamento é entregue em qualquer lugar do DFDaniel Ferreira/Metrópoles
Quem pode usar o Mounjaro
Para pacientes que necessitam de tratamento, o Mounjaro pode ser um aliado importante na busca por uma vida saudável.
“Com acompanhamento médico, ele é indicado a pacientes com diabetes tipo 2 que não conseguem controlar a glicemia apenas com dieta e exercícios”, explica Sandro Ferraz.
O medicamento também pode ser prescrito, sob orientação médica, para pessoas com obesidade ou sobrepeso associados a doenças como hipertensão, apneia do sono ou dislipidemia.
“Usar Mounjaro sem acompanhamento é brincar com o próprio metabolismo. O medicamento não é cosmético nem fórmula milagrosa. Seu uso incorreto pode gerar dependência psicológica, colapsar o metabolismo e causar danos irreversíveis à saúde.”
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