Paquistanês líder de rota ilegal de migrantes abriu agência de viagens no DF
Sob a fachada de empresário, Sami ur Rahman, 35 anos, comandava rota clandestina que começava em Brasília e terminava na fronteira dos EUA
O paquistanês Sami ur Rahman (foto em destaque), 35 anos, apontado como líder de uma organização criminosa transnacional especializada no contrabando de migrantes, chegou a se estabelecer em uma região administrativa do Distrito Federal. De lá, ele comandava uma rota clandestina que começava em Brasília e terminava na fronteira dos Estados Unidos.
As operações de contrabando internacional eram encobertas pela identidade de suposto empresário no DF. Enquanto vivia na capital, o paquistanês abriu uma empresa no ramo de agência de viagens, com endereço na QR 502 de Samambaia Sul, que supostamente serviria de fachada para suas atividades ilegais.
Conforme informações disponíveis na Receita Federal, a empresa iniciou as atividades em março de 2018, com capital social de R$ 50 mil. A atividade principal do negócio consta como de agência de viagem, tendo como secundárias restaurantes e similares, além de serviços de lavagem, lubrificação e polimento de veículos automotores.
A suposta agência, no entanto, consta como inapta desde fevereiro de 2021, devido a omissão de declarações. Além disso, não há confirmação de que, de fato, o estabelecimento chegou a funcionar.
Em agosto de 2019, Sami abriu outra empresa, com nome fantasia Rahman Lava Jato. O endereço do estabelecimento está registrado na QS 612 de Samambaia Norte.
Tendo como atividade principal serviços de lavagem, lubrificação e polimento de veículos automotores, o negócio foi aberto com um valor investido de R$ 100 mil. Apesar de constar com CNPJ ativo, no endereço em que a empresa foi registrada não funciona nenhum lava-jato.
Tráfico internacional e corrupção
O paquistanês está no Brasil desde 2013, onde entrou por São Paulo, e solicitou refúgio no país. Posteriormente, ele passou a viver em Brasília.
Em 2015, Sami ur foi preso em flagrante, no Porto do Pecém (CE), por tentativa de suborno de R$ 20 mil a um funcionário do terminal portuário, visando a facilitação do embarque clandestino.
Sami estava acompanhado de um brasileiro e outros quatro paquistaneses. Eles queriam embarcar em um navio que tinha como destino Nova Iorque, nos Estados Unidos. O grupo almejava chegar no Canadá.
Segundo depoimento prestado às autoridades à época dos fatos, Samir afirmou que, ao chegar ao Brasil, conheceu em São Paulo um paquistanês, que se ofereceu para facilitar sua entrada e a de outros no Canadá. Já em Brasília, ele e um grupo de conhecidos teriam pago cerca de R$ 30 mil para providenciar a viagem.
Ainda conforme o relato, meses depois o grupo recebeu novas instruções e viajou para o Ceará, onde deveria encontrar contatos locais capazes de auxiliar o embarque clandestino em um navio que seguiria rumo à América do Norte. Posteriormente, o grupo foi orientado a tentar o embarque no Porto do Pecém, mediante o pagamento adicional de R$ 20 mil para acessar o terminal e o navio.
Tal episódio foi objeto de ação penal em que o paquistanês foi condenado à pena de 3 anos e 9 meses de reclusão convertida em penas restritivas de direitos, por tráfico internacional e corrupção ativa.
Líder de rota ilegal
As investigações da Polícia Federal (PF) revelaram que o paquistanês liderava uma organização criminosa transnacional especializada no contrabando de migrantes, com núcleo operacional no Distrito Federal, e conexões em países como Paquistão, Afeganistão, México e Estados Unidos.
Sami seria o responsável por coordenar a entrada clandestina de migrantes oriundos do Sul da Ásia nos EUA, utilizando o território brasileiro como rota de passagem.
Os migrantes ingressavam no Brasil por vias legais ou com pedidos de refúgio, posteriormente eram conduzidos por rotas terrestres e marítimas até a fronteira com o México, ingressando clandestinamente nos EUA mediante o pagamento de valores entre US$ 4.000 e US$ 15.000.
Constatou-se que o paquistanês atuava de forma reiterada e estruturada na facilitação da migração ilegal, sendo reconhecido por diversas vítimas e cooperadores internacionais, tendo envolvimento direto no recrutamento, logística, financiamento e falsificação de documentos migratórios, inclusive por meio de interlocução com diplomatas estrangeiros, conforme relatado nas investigações.
Há ainda menção a outros integrantes da organização, apontados como elo com emissários estrangeiros e responsáveis pelas negociações de vistos falsos.
Prisão temporária
A PF deflagrou, na quarta-feira (19/11), a Operação Rota Ilegal, com o objetivo de desarticular a organização criminosa liderada pelo paquistanês. A ação ocorreu exclusivamente no Distrito Federal, onde foram cumpridos mandados de busca e apreensão, bloqueio e sequestro de bens, além da prisão temporária de Sami ur Rahman.
O paquistanês foi preso em Samambaia Sul, na residência da namorada. Ele passou por audiência de custódia e teve a prisão mantida pela 10ª Vara Federal.
A Justiça determinou ainda medidas cautelares como apreensão de passaportes e restrição de deslocamento dos demais suspeitos. A operação contou com apoio de órgãos de inteligência estrangeiros.
Também foi autorizado o bloqueio de R$ 5,94 milhões em ativos, incluindo contas bancárias, imóveis, veículos, embarcações, aeronaves e criptoativos, atribuídos ao esquema.
A PF calcula que o grupo movimentou ao menos US$ 1,1 milhão (aproximadamente R$ 5,94 milhões) em cinco anos, sem contar ganhos paralelos obtidos com venda de documentos falsos, orientações pagas online e monetização de canais digitais voltados para migrantes interessados em chegar aos EUA.
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