Paquistão diz que vai retaliar após acusar Índia de novo ataque; o que se sabe
Militares paquistaneses afirmam que novo ataque atingiu base na sede do quartel-general militar do país, que está a cerca de 10km da capital, Islamabad. Episódio aumenta temores de uma guerra entre as duas potências nucleares. Militares na base de Nur Kahn após ataque que Paquistão atribuiu à Índia Sohail Shahzad/EPA-EFE/Shutterstock Militares do Paquistão afirmam que a Índia voltou a atacar o país na madrugada de sábado (10), lançando mísseis contra três de suas bases aéreas. Em um comunicado na TV estatal, o tenente-general Ahmed Sharif Chaudhry declarou que o sistema de defesa aéreo do país havia conseguido interceptar a maioria dos mísseis indianos, mas que três haviam conseguido passar e atingido três bases, entre elas a de Nur Kahn, em Rawalpindi, sede do quartel-general militar do país, que está a cerca de 10km da capital, Islamabad. Chaudhry alertou a Índia que aguardasse "pela nossa resposta". O departamento de relações públicas do Exército paquistanês afirmou que o país está lançando uma contra-ofensiva, que foi chamada de "operação Banyan Marsus". O governo indiano ainda não se manifestou sobre as acusações. Nas últimas, horas a autoridade aeroportuária do país comunicou o fechamento de 32 aeroportos no norte e oeste do território até a manhã de 15 de maio. O episódio eleva os temores de uma guerra entre as duas potências nucleares. A tensão entre Índia e Paquistão na Caxemira, região fronteiriça reivindicada pelos dois países há décadas, vem escalando desde que Índia atacou, na última quarta-feira (7/5), diversos pontos do Paquistão e da área da Caxemira administrada por Islamabad, matando 31 pessoas e 57, segundo as autoridades paquistanesas. Segundo a Índia, a operação foi uma resposta ao ataque, semanas antes, de militantes contra turistas indianos próximo à cidade de Pahalgam, na Caxemira indiana — o Paquistão negou envolvimento. A Caxemira vive há décadas numa situação frágil e instável, dividida por um conflito que já fez milhares de vítimas. O território é reivindicado tanto a Índia quanto o Paquistão, dois países que possuem armas nucleares. Índia e Paquistão são potências nucleares, mas chance de uso no conflito atual é baixa Escalada de tensão No ataque do último dia 7 de maio, a Índia alegou estar agindo em retaliação ao ataque de 22 de abril que matou pelo menos 26 pessoas, a maioria turistas, próximo à pitoresca cidade de Pahalgam, na parte Caxemira administrada pela Índia. O país afirma ter "evidências que apontam para o claro envolvimento de terroristas externos baseados no Paquistão" no ataque. O Paquistão negou qualquer ligação com o ocorrido. Militantes abriram fogo contra visitantes no Vale do Baisaran, uma região de pradaria muito procurada pela natureza. Alguns dos sobreviventes disseram que homens hindus foram alvos específicos dos atiradores. O Paquistão negou envolvimento nos ataques, mas a polícia indiana alega que dois dos quatro militantes suspeitos eram cidadãos paquistaneses. As forças de segurança indianas ainda estão no encalço dos suspeitos. O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, chegou a dizer que o país os perseguiria "até os confins da Terra". Desde a tragédia, tanto a Índia quanto o Paquistão vinham anunciando medidas de retaliação mútuas, incluindo o fechamento de fronteiras e a suspensão de um tratado de compartilhamento de águas fluviais. Tropas de ambos os lados também já haviam trocado tiros com armas de pequeno porte. Operação Sindoor Segundo o governo indiano, os ataques aconteceram no âmbito da "operação Sindoor" e miraram a infraestrutura ligada ao terrorismo no Paquistão e na Caxemira administrada pelo Paquistão, onde ataques terroristas contra a Índia teriam sido planejados. "Nossas ações foram focadas, ponderadas e não tiveram a intenção de escalar. Nenhuma instalação militar paquistanesa foi atacada. A Índia demonstrou considerável contenção na seleção de alvos e no método de execução", afirmou o governo indiano um comunicado. Um porta-voz militar paquistanês disse que Islamabad responderia "no momento e local de sua escolha". "Todos os nossos caças estão no ar. Este é um ataque vergonhoso e covarde realizado a partir do espaço aéreo indiano", acrescentou o porta-voz. A Índia acusa o Paquistão de apoiar o terrorismo transfronteiriço, algo que o governo paquistanês nega. A Caxemira, uma região montanhosa ao sul do Himalaia, tem sido alvo de um longo conflito — e duas guerras — entre as duas potências nucleares. Os problemas começaram em 1947, com a partição da região do sul da Ásia até então colonizada pelo Reino Unido em dois países, o Paquistão e a Índia. O antigo principado da Caxemira ficou de fora da divisão e desde então tem sido disputado por ambas as nações (saiba mais a seguir). Reação internacional Questionado sobre os ataques, o presidente dos EUA, Donald Trump, lamentou o ocorrido Ele disse que só soube dos últimos acontecimentos quando estava entrando no Salão Oval, na Casa Branca, em Washington. "Só espero que isso acabe


Militares paquistaneses afirmam que novo ataque atingiu base na sede do quartel-general militar do país, que está a cerca de 10km da capital, Islamabad. Episódio aumenta temores de uma guerra entre as duas potências nucleares. Militares na base de Nur Kahn após ataque que Paquistão atribuiu à Índia Sohail Shahzad/EPA-EFE/Shutterstock Militares do Paquistão afirmam que a Índia voltou a atacar o país na madrugada de sábado (10), lançando mísseis contra três de suas bases aéreas. Em um comunicado na TV estatal, o tenente-general Ahmed Sharif Chaudhry declarou que o sistema de defesa aéreo do país havia conseguido interceptar a maioria dos mísseis indianos, mas que três haviam conseguido passar e atingido três bases, entre elas a de Nur Kahn, em Rawalpindi, sede do quartel-general militar do país, que está a cerca de 10km da capital, Islamabad. Chaudhry alertou a Índia que aguardasse "pela nossa resposta". O departamento de relações públicas do Exército paquistanês afirmou que o país está lançando uma contra-ofensiva, que foi chamada de "operação Banyan Marsus". O governo indiano ainda não se manifestou sobre as acusações. Nas últimas, horas a autoridade aeroportuária do país comunicou o fechamento de 32 aeroportos no norte e oeste do território até a manhã de 15 de maio. O episódio eleva os temores de uma guerra entre as duas potências nucleares. A tensão entre Índia e Paquistão na Caxemira, região fronteiriça reivindicada pelos dois países há décadas, vem escalando desde que Índia atacou, na última quarta-feira (7/5), diversos pontos do Paquistão e da área da Caxemira administrada por Islamabad, matando 31 pessoas e 57, segundo as autoridades paquistanesas. Segundo a Índia, a operação foi uma resposta ao ataque, semanas antes, de militantes contra turistas indianos próximo à cidade de Pahalgam, na Caxemira indiana — o Paquistão negou envolvimento. A Caxemira vive há décadas numa situação frágil e instável, dividida por um conflito que já fez milhares de vítimas. O território é reivindicado tanto a Índia quanto o Paquistão, dois países que possuem armas nucleares. Índia e Paquistão são potências nucleares, mas chance de uso no conflito atual é baixa Escalada de tensão No ataque do último dia 7 de maio, a Índia alegou estar agindo em retaliação ao ataque de 22 de abril que matou pelo menos 26 pessoas, a maioria turistas, próximo à pitoresca cidade de Pahalgam, na parte Caxemira administrada pela Índia. O país afirma ter "evidências que apontam para o claro envolvimento de terroristas externos baseados no Paquistão" no ataque. O Paquistão negou qualquer ligação com o ocorrido. Militantes abriram fogo contra visitantes no Vale do Baisaran, uma região de pradaria muito procurada pela natureza. Alguns dos sobreviventes disseram que homens hindus foram alvos específicos dos atiradores. O Paquistão negou envolvimento nos ataques, mas a polícia indiana alega que dois dos quatro militantes suspeitos eram cidadãos paquistaneses. As forças de segurança indianas ainda estão no encalço dos suspeitos. O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, chegou a dizer que o país os perseguiria "até os confins da Terra". Desde a tragédia, tanto a Índia quanto o Paquistão vinham anunciando medidas de retaliação mútuas, incluindo o fechamento de fronteiras e a suspensão de um tratado de compartilhamento de águas fluviais. Tropas de ambos os lados também já haviam trocado tiros com armas de pequeno porte. Operação Sindoor Segundo o governo indiano, os ataques aconteceram no âmbito da "operação Sindoor" e miraram a infraestrutura ligada ao terrorismo no Paquistão e na Caxemira administrada pelo Paquistão, onde ataques terroristas contra a Índia teriam sido planejados. "Nossas ações foram focadas, ponderadas e não tiveram a intenção de escalar. Nenhuma instalação militar paquistanesa foi atacada. A Índia demonstrou considerável contenção na seleção de alvos e no método de execução", afirmou o governo indiano um comunicado. Um porta-voz militar paquistanês disse que Islamabad responderia "no momento e local de sua escolha". "Todos os nossos caças estão no ar. Este é um ataque vergonhoso e covarde realizado a partir do espaço aéreo indiano", acrescentou o porta-voz. A Índia acusa o Paquistão de apoiar o terrorismo transfronteiriço, algo que o governo paquistanês nega. A Caxemira, uma região montanhosa ao sul do Himalaia, tem sido alvo de um longo conflito — e duas guerras — entre as duas potências nucleares. Os problemas começaram em 1947, com a partição da região do sul da Ásia até então colonizada pelo Reino Unido em dois países, o Paquistão e a Índia. O antigo principado da Caxemira ficou de fora da divisão e desde então tem sido disputado por ambas as nações (saiba mais a seguir). Reação internacional Questionado sobre os ataques, o presidente dos EUA, Donald Trump, lamentou o ocorrido Ele disse que só soube dos últimos acontecimentos quando estava entrando no Salão Oval, na Casa Branca, em Washington. "Só espero que isso acabe logo", acrescentou Trump. O Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou no X (o antigo Twitter) que monitoraria a situação de perto. A embaixada indiana nos EUA chegou a informar que o Conselheiro de Segurança Nacional da Índia, Ajit Doval, havia conversado com Rubio "e o informado sobre as medidas tomadas". Rubio disse que concordava com os comentários do presidente dos EUA e esperava que "isso termine rapidamente". Ele também afirmou que continuaria a dialogar com as lideranças indianas e paquistanesas "para uma resolução pacífica". Um porta-voz do Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou estar "muito preocupado com as operações militares indianas". "Ele [Guterres] pede a máxima contenção militar de ambos os países. O mundo não pode se dar ao luxo de um confronto militar entre a Índia e o Paquistão." O Secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, David Lammy, afirmou que as tensões atuais entre a Índia e o Paquistão são uma "séria preocupação". "O governo do Reino Unido insta a Índia e o Paquistão a demonstrarem contenção e a se engajarem em um diálogo direto para encontrar um caminho diplomático rápido", afirmou ele em um comunicado. Lammy afirmou que o Reino Unido mantém um relacionamento próximo e único com ambos os países. "Deixei claro aos meus colegas na Índia e no Paquistão que, se isso se agravar ainda mais, ninguém sairá ganhando", disse ele. O Ministério das Relações Exteriores da Rússia declarou em comunicado que está "profundamente preocupado com o aprofundamento do confronto militar". "A Rússia condena veementemente os atos de terrorismo, opõe-se a qualquer uma de suas manifestações e enfatiza a necessidade de unir os esforços de toda a comunidade internacional para combater eficazmente esse mal", afirma o comunicado. 'Escalada dramática' Anbarasan Ethirajan, editor de Sudeste Asiático do Serviço Mundial da BBC, classificou a situação como uma "escalada dramática" e lembrou que os dois rivais têm armas nucleares. "Embora houvesse expectativas de que a Índia pudesse lançar algum tipo de ação militar, a intensidade dos ataques com mísseis dentro do Paquistão surpreendeu muitos", escreve ele, sobre os eventos do último dia 7 de maio. "A Índia afirma que alguns dos locais bombardeados estavam ligados a militantes, e que eles não tinham como alvo instalações militares paquistanesas. O Paquistão prometeu retaliação, e a natureza e os alvos dessa retaliação determinarão a contra-reação de Delhi." "Ambos os países acreditam que podem administrar a escalada, mas as tensões estão altas e é difícil prever o curso de qualquer conflito militar." Ethirajan destacou que, no passado, os EUA e outros países intervieram para conter as tensões na região. "Com o foco do governo Trump desviado a outras questões globais, resta saber com que rapidez Washington intervirá para apaziguar a situação. Líderes políticos em ambos os países vão querer mostrar ao público que agiram de forma decisiva e reivindicar a vitória", analisa o editor. Já Jeremy Bowen, editor de Internacional da BBC, pontuou que Índia e Paquistão sabem o que está em jogo numa retomada do conflito. "Será necessário um grande esforço diplomático para impedir que as tensões se intensifiquem", anteviu ele. Histórico de conflitos Desde a criação dos Estados em 1947, a Índia e o Paquistão travaram múltiplas guerras — a maioria centrada na Caxemira. A primeira eclodiu poucos meses após a fundação dos dois países, e terminou num cessar-fogo mediado pela ONU em 1949. A região foi dividida, mas as duas nações continuaram a reivindicar controle total do território. Em 1965, o conflito foi retomado quando as forças paquistanesas cruzaram para a Caxemira administrada pela Índia, o que gerou a ferozes batalhas terrestres e aéreas. Em 1971, a guerra eclodiu no Paquistão Oriental, onde a Índia apoiava as forças de independência, o que levou à criação de Bangladesh. O conflito de Kargil, em 1999, viu tropas paquistanesas infiltrarem-se na Caxemira administrada pela Índia. Foi o primeiro confronto entre os rivais com armas nucleares, o que gerou um alarme global. Nos últimos anos, as tensões aumentaram após ações de grupos militantes: a Índia lançou "operações cirúrgicas" em 2016 após um ataque em Uri e realizou ações militares perto de Balakot em 2019, após um bombardeio em Pulwama. O Paquistão respondeu com incursões aéreas, o que marcou uma das escaladas mais perigosas em duas décadas.
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