Planalto celebra abraço de Lula com Trump e Bolsonaro escanteado
Auxiliares presidentes do Brasil e dos EUA começam a negociar tarifaço nesta 2ª, em cenário "melhor que o esperado" para o governo
Kuala Lampur – O Planalto considera que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conseguiu o que precisava politicamente do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. E até um pouco mais, na ótica das fontes palacianas. Nos bastidores, houve até um abraço entre os chefes de Estado que, meses atrás, sequer imaginava-se que poderiam sentar à mesma mesa.
Em entrevista coletiva já na manhã de segunda (27/10), Lula celebrou. “Está estabelecida a relação entre o Brasil e os Estados Unidos. Quem imaginava quem não ia ter [relação], perdeu. Vai ter e vai ter uma relação produtiva para os dois países e para a democracia”.
Mesmo com o encontro encaminhado, o presidente Lula deu sinais trocados na véspera. As críticas à perseguição de Trump ao Prêmio Nobel, e ao que o petista considera um cenário de “falta de liderança mundial” colocaram dúvidas sobre o tom que seria adotado.
Mas se de um lado Lula mordeu, do outro a diplomacia brasileira assoprou. Foram seguidas as exigências do governo norte-americano, e até as últimas horas a reunião seguiu fora da agenda oficial, sem sequer uma confirmação de que o encontro de fato aconteceria. E a palavra de ordem foi pragmatismo, de ambos os lados, o que o Planalto já considerou uma vitória.
O temor era que Trump armasse para Lula uma armadilha semelhante à montada para o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. O ucraniano foi convidado à Casa Branca em fevereiro, esperando apoio diplomático na guerra contra a Rússia, e saiu de lá humilhado publicamente. Nesse sentido, quatro fatores são atribuídos pelas fontes palacianas para a vitória brasileira.
Motivos
O primeiro ponto do plano do governo brasileiro foi a manutenção da postura crítica de Lula a Trump, mesmo diante do tarifaço. Isso foi permitido pelo ganho de popularidade do petista diante da medida. “Ninguém gosta de lambe-botas, de puxa-saco”, disse Lula em sua entrevista pós-encontro.
O segundo, foi paralela insistência brasileira para canais de diálogo, visando mostrar ao presidente dos EUA a vontade de negociar.
A terceira, foi a escolha de um “terreno neutro”, para que a Casa Branca não controlasse todos os fatores do encontro. A quarta é a inflação dos alimentos nos EUA, principalmente da carne, um dos principais produtos brasileiros exportados para o país norte-americano.
“Acho que vamos fazer um acordo com o Brasil, nós nos damos muito bem. Nos conhecemos pouco antes de o meu teleprompter ser desligado na Assembleia da ONU. Nos aproximamos, apertamos as mãos. (…) Tenho muito respeito pelo presidente, muito respeito pelo Brasil”, disse Trump à imprensa antes da conversa.
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Além da perspectiva de vitória econômica com a chance de suspensão do tarifaço, dizem auxiliares de Lula, o encontro também deu ao petista um trunfo sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O ex-mandatário teve o nome citado na pergunta da imprensa a Trump. O estadunidense disse que gostava dele, mas recusou garantir que colocaria a defesa do aliado como um dos pontos para a negociação.
Aos jornalistas, Lula relatou o que disse a Trump em privado: “Disse pra ele que foi o julgamento [de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal] sério, com provas contundentes. Disse a gravidade do que tentaram fazer, do plano para matar a mim, meu vice e o ministro Alexandre de Moraes. E que tiveram um direito de defesa que não tive. Ele sabe que rei ‘morto, rei posto’. Bolsonaro faz parte do passado”.
Dessa forma, o governo Lula entende que, conforme as negociações avancem, Bolsonaro deve perder capital político. Na avaliação de lideranças governistas, isso deve acirrar ainda mais as cobranças da família do ex-presidente por apoio interno, o que tem sido motivo de briga na direita após a condenação do ex-presidente no Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos de prisão, por tentativa de golpe de Estado.
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