Profissionais transformam o trabalho em entretenimento com lives
Com lives realizadas no local de trabalho, alguns trabalhadores estão entretendo outras pessoas em casa. Veja como funciona a prática
Profissionais de diferentes áreas estão encontrando nas lives uma nova forma de divulgar e valorizar seus trabalhos. De cortes de cabelo a viagens de caminhão, tudo vira conteúdo para mostrar a rotina e aproximar o público das profissões.
É o caso do barbeiro Tenorio do Corte. Ele realiza transmissões diárias mostrando o dia a dia na barbearia e conversando com os seguidores em tempo real. Com mais de 39 mil seguidores, Tenorio hoje une as rendas de barbeiro e de streamer e transformou o trabalho em entretenimento.
“Eu sempre gostei de trocar ideia enquanto corto cabelo. A barbearia sempre foi tipo um ponto de encontro, sabe? Aquele lugar onde a resenha rola solta. Aí um dia pensei: “por que não mostrar isso para internet?”. Foi aí que transformei meu trabalho em conteúdo”, explica ao Metrópoles.
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Tenório do Corte e Mafaelle são trabalhadores que realizam lives durante o expediente
Tenorio do Corte. Ele é barbeiro e realiza lives diárias com os clientesReprodução
Mafaelle. Ela é barista e realiza lives ocasionais durante o trabalho.Reprodução
Tenório do Corte e Mafaelle são trabalhadores que realizam lives durante o expedienteReprodução
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São oito anos realizando lives. E tudo com um propósito:
“Eu vejo as lives como uma ponte pra mostrar que a barbearia é mais do que só corte: é cultura, é conexão, é história de vida. As lives trouxeram um gás novo pra rotina. O que antes era só mais um dia de trabalho, agora vira um show ao vivo, o cliente corta o cabelo e já sai se sentindo uma estrela. Isso me motiva muito mais”, celebra.
O caso de Rafaella, conhecida como Mafaelle, também segue a mesma linha. Com 16 mil seguidores no Instagram, ela trabalha como barista e transmite o dia a dia no café em suas lives. Além de mostrar a rotina, Rafaella também dá dicas sobre a profissão. Para isso, contou com a autorização do chefe.
“Eu comecei a fazer as lives na cafeteria para me divertir e tirar as dúvidas dos internautas. Meu chefe me apoiou, pois trouxe um retorno gigantesco para a cafeteria dele”, conta.
Austin Min, chefe de Mafaelle, explica por que apoiou a novidade. “Nosso ambiente de trabalho é descontraído, nos damos bem e sempre buscamos trabalhar da melhor forma possível. Fazer as lives só torna tudo ainda mais dinâmico e animado’.
Rafaella, no entanto, conta que sofreu com a dinâmica das lives diárias e precisou diminuir o ritmo de produção de conteúdo on-line.
“No começo foi bem empolgante, porém é um pouco difícil manter o ritmo das lives todos os dias, pois existe um esforço tanto físico quanto mental”, revela.
Por que este conteúdo gera interesse?
Já pensou em chegar em casa após o expediente, tomar um banho e sentar para assistir outras pessoas trabalhando? Este comportamento é comum nesta nova geração. Para além do barbeiro Tenorio e da barista Mafaelle, diversas outras profissões são exercidas em live: motorista de caminhão, cobrador de ônibus, chef de cozinha e outras mais.
De certa forma, os internautas transformaram as lives de outros trabalhadores em uma forma de lazer. O Metrópoles conversou com a PhD em neurociências e doutora em psicologia Leninha Wagner para entender mais sobre o comportamento. A expecialista cita a questão do pertencimento.
“Do ponto de vista da psicologia clínica, esse comportamento pode ser entendido como uma forma de regulação emocional e simbólica. O cérebro reage ao observar o outro em ação como se também participasse da atividade. Pode ser até uma forma simbólica de explorar outras versões de si”, explica.
Leninha também fez questão de ressaltar a presença e a autenticidade das lives como algo importante para atrair um público em busca de um lazer confortável.
“É uma companhia silenciosa e constante, uma partilha de cotidiano que acalma a solidão e reduz a ansiedade. Em uma cultura que glorifica a produtividade, ver o outro trabalhando permite descansar sem culpa”, finaliza.
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