Projeto liderado por professor da UFRN reúne cientistas e cidadãos no monitoramento dos corais brasileiros

Famosos por sua beleza, os corais são seres vivos, que se alimentam e reproduzem, e representam apenas 1% do fundo marinho, mas sustentam cerca de 25% de toda a biodiversidade dos oceanos. São berçários para peixes, fonte de sustento para comunidades costeiras, barreiras contra a erosão e forte atrativo turístico. Mas esse patrimônio natural tão […]

Oct 9, 2025 - 10:00
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Projeto liderado por professor da UFRN reúne cientistas e cidadãos no monitoramento dos corais brasileiros

Famosos por sua beleza, os corais são seres vivos, que se alimentam e reproduzem, e representam apenas 1% do fundo marinho, mas sustentam cerca de 25% de toda a biodiversidade dos oceanos. São berçários para peixes, fonte de sustento para comunidades costeiras, barreiras contra a erosão e forte atrativo turístico. Mas esse patrimônio natural tão rico está sob risco crescente. Na semana em que se comemora o Dia Nacional do Mar (12/10), o #DeOlhoNosCorais, coordenado pelo Departamento de Oceanografia e Limnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), mostra o exemplo de ciência cidadã aplicada a um dos ecossistemas mais ameaçados do planeta.

O projeto envolve diversos públicos, que podem participar ativamente das pesquisas e ajudar a proteger os corais. Como explica o biólogo e professor da UFRN Guilherme Longo, que também é membro da Linha 1 (Coprodução e Engajamento Social em Iniciativas de Ciência Cidadã) do Instituto Nacional de Ciência Cidadã (INCC) e coordenador do #DeOlhoNosCorais, ondas de calor marinhas, poluição e sobrepesca têm levado a episódios cada vez mais frequentes de branqueamento – o que acontece quando os corais perdem suas algas simbióticas, ficam esbranquiçados e podem morrer. Nos últimos anos, o Brasil já enfrentou quatro eventos severos desse tipo, com perdas significativas de biodiversidade, e contar com cidadãos nesse enfrentamento tem feito a diferença.

“Nós ficamos surpresos com o engajamento e impacto da iniciativa. Rapidamente tivemos contribuições ao longo de toda a costa brasileira, durante eventos de branqueamento e até durante a crise do óleo. Acho que um dos resultados mais significativos foi a detecção de uma espécie invasora nos litorais potiguar e pernambucano, ambas feitas por diferentes cientistas cidadãos, e que desencadearam ações de controle dessa invasão na escala estadual e na federal”, comemorou o pesquisador.

A criação do projeto

Segundo o pesquisador, embora a gravidade da situação do aquecimento tenha avançado, o conhecimento também teve muitas conquistas e mais pessoas interessadas no assunto. “O ponto negativo é que desde 2016 tivemos outras três ondas de calor severas que causaram mortalidade muito significativa dos corais. Agora sabemos que perder corais significa também perder peixes associados e outros benefícios importantes como o turismo, temos previsões de mudanças de distribuição e das interações ecológicas entre organismos”, detalha. A equipe usa então essas informações para estimular soluções e mudanças de comportamento.

Foi nesse contexto de urgência que surgiu o #DeOlhoNosCorais como uma rede nacional de monitoramento colaborativo criada em 2016. A ideia, explica Longo, era dupla: comunicar a ciência como processo, mostrando incertezas, erros e acertos; e engajar a sociedade, permitindo que qualquer pessoa fotografasse ou filmasse corais e compartilhasse o material com a hashtag e a localização.

A estratégia deu certo e diversos registros passaram a chegar de toda a costa brasileira, que mostram exemplos de branqueamento e também em crises como a do óleo, em 2019, quando manchas de petróleo cru atingiram mais de 2.000 km do litoral do Nordeste, causando impactos duradouros no ecossistema e na fauna.

O projeto se apoia em múltiplas frentes. Nas redes sociais, alcança mergulhadores, jovens e entusiastas do mundo marinho. Já no Museu dos Corais, que fica em Maracajaú (RN), o público é formado por turistas e estudantes. Além disso, há atividades com mergulhadores recreativos e até técnicos de órgãos ambientais. “Eu vejo o engajamento como uma relação humana. Não tem receita de bolo. A gente precisa ouvir e conectar para dar certo”, resume Longo.

O resultado desse trabalho é visto dia a dia. A descoberta no litoral do RN, por exemplo, citada por Guilherme, contou com a bióloga, fotógrafa subaquática e instrutora de mergulho Erika Beux. Ela registrou colônias do coral-sol em um naufrágio. Esse acontecimento a aproximou da equipe de pesquisadores. “Um tempo depois, o professor Guilherme entrou em contato comigo e me convidou para participar das expedições de pesquisa. Foi uma experiência maravilhosa e aprendi muito com a equipe do #DeOlhoNosCorais.”

Em seu perfil e na rotina profissional, Erika incentiva as pessoas a serem cientistas cidadãs e ajudarem os projetos. “Saber que minhas fotografias contribuem para a ciência e para a preservação da natureza é um sentimento de imensa realização. É como se cada foto tivesse um propósito maior: transformar a beleza que vejo em informação, em conscientização e, principalmente, em ação”.

Ciência cidadã e tecnologia

Um dos avanços mais inovadores do projeto foi transformar as milhares de fotos enviadas pelos cidadãos em um banco de dados científico, usado também para treinar modelos de inteligência artificial. Em 2023, a equipe publicou na revista PeerJ um estudo que descreve como essas imagens passaram a compor um conjunto de dados de mais de 1.400 registros, com bilhões de pixels anotados e categorizados.

Com esse material, foram testados modelos como redes neurais voltadas para visão computacional. No processo, a máquina aprende a reconhecer padrões de corais a partir de imagens já identificadas pelos cientistas e, depois, consegue classificar automaticamente novas fotos. Como mostra o estudo, a IA alcançou até 86% de precisão e reduziu em quase 200 vezes o tempo de análise, custando apenas 1% do valor do processamento manual.

A automação não substitui o trabalho humano, mas amplia sua escala. Os cidadãos continuam enviando registros, os cientistas seguem validando os resultados e, nesse processo, a inteligência artificial ajuda a organizar e processar o grande volume de dados.

Outra frente é o uso de modelos 3D, que permitem tanto análises científicas detalhadas quanto impressões utilizadas em exposições educativas. O laboratório também emprega abordagens moleculares e genéticas para entender quais espécies de algas associadas aos corais são mais resistentes ao aumento da temperatura.

Contribua com o #DeOlhoNosCorais

Qualquer pessoa pode contribuir com o monitoramento dos recifes brasileiros: basta registrar fotos ou vídeos de corais e compartilhar com a hashtag #DeOlhoNosCorais. Cada imagem pode ser essencial para entender, proteger e preservar a vida marinha do Brasil.

Apesar das questões que preocupam em relação à vida marinha, o pesquisador mantém o otimismo. “Os recifes não vão desaparecer, eles vão mudar. Isso é certo. Já sabemos quais caminhos eles podem tomar caso a gente não aja. Agora é nossa vez de decidir se vamos lidar com essas mudanças ou não”.

Sobre o INCC

O Instituto Nacional de Ciência Cidadã (INCC) visa promover o avanço do conhecimento científico e tecnológico, de caráter inter e transdisciplinar, para o desenvolvimento, a inovação e a disseminação de conceitos, práticas, metodologias e usos da Ciência Cidadã no Brasil. A instituição executora, e também sede do projeto, é o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict). A iniciativa conta ainda com um conjunto de instituições colaboradoras, em diferentes regiões do país e do exterior.

– Instagram do INCC: https://www.instagram.com/inctcienciacidada/
– Instagram do #DeOlhoNosCorais: https://www.instagram.com/deolhonoscorais
– Link do artigo citado: https://peerj.com/articles/16219/

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