Quer saber de uma coisa, Tarcísio? Eu acho é pouco para você
Quem mandou se endividar com Bolsonaro?

De duas, uma. Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, sente-se devedor de Bolsonaro e por isso o corteja, ajuda e defende sempre que provocado. Ou de fato Tarcísio compartilha boa parte das ideias de Bolsonaro e pouco os separa. Estilo, talvez.
De quem o segue, Bolsonaro espera irrestrita obediência às suas ordens. É verdade que ele nunca foi muito obediente quando vestia farda. Desonrou-a ao planejar atentados terroristas a quartéis. Foi garimpeiro às escondidas dos seus superiores.
Bolsonaro jamais poderá dizer que Tarcísio o traiu alguma vez. Nem quando foi ministro do seu governo, nem quando disputou a primeira eleição de sua vida, nem no exercício do cargo de governador do mais desenvolvido estado brasileiro. Não obstante…
Por mais que Tarcísio faça para salvar Bolsonaro da degola, Bolsonaro acha pouco. Não confia inteiramente nele. Não confia inteiramente em ninguém, a não ser em sua família de sangue. É coisa de mafioso italiano. Bolsonaro descende de italianos.
Tarcísio depôs ontem (30) no Supremo Tribunal Federal como testemunha de defesa de Bolsonaro, acusado por tentativa de golpe de estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa armada e danos ao patrimônio público.
Disse ter se reunido cinco vezes com Bolsonaro depois de sua derrota para Lula e sua partida para os Estados Unidos em 30 de dezembro de 2022. Bolsonaro estava amargurado e com erisipela. Mas em nenhum momento falou em golpe:
“O único comentário [de Bolsonaro] era que lamentava. Foi um período de situações difíceis, crises graves, Brumadinho, Covid, crise hídrica, guerra da Ucrânia e todas elas da melhor forma possível, terminamos com superávit. A preocupação era que a coisa desandasse, uma preocupação com o futuro do país”.
Bolsonaro esperava mais de Tarcísio. Esperava que ele adotasse uma postura mais incisiva em linha com os ataques que Bolsonaro e os seus capachos costumam dirigir ao tribunal e, especialmente, ao ministro Alexandre de Moraes, o relator do processo.
Mas não foi assim. Pareceu haver um acordo tácito entre Tarcísio e Moraes: Eu não o criticarei nem aos seus colegas. Em compensação, você não me fará perguntas embaraçosas. Moraes nada perguntou a Tarcísio. O depoimento foi curto e indolor.
Paulo Gonet, Procurador-Geral da República, comportou-se da mesma maneira de Moraes: nada perguntou a Tarcísio. Só quem perguntou foi o advogado de defesa de Bolsonaro que adiantou a Tarcísio as perguntas que faria. Tudo conforme o script.
É natural que Tarcísio não queira confusão com a mais alta Corte de justiça do país. É natural que uma Corte formada por uma maioria de juízes conservadores admire Tarcísio, tão conservador quanto eles, e que um dia poderá se eleger presidente.
Tudo indica, porém, que não será no próximo ano. Porque Tarcísio não será candidato sem o apoio de Bolsonaro. E Bolsonaro encena a farsa de que o candidato será ele ou então um dos seus familiares. Palermo, berço da máfia, aprova.
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