Relatório do governo Trump minimiza mudança climática e impacto de emissões; especialistas criticam
Incêndio florestal na Califórnia avança rápido e força evacuações perto de Malibu Um relatório do Departamento de Energia dos Estados Unidos afirma que as projeções de mudança climática futuras são exageradas e minimiza o papel das emissões no aquecimento do planeta. A posição é criticada por especialistas que sinalizam a posição como "uma agenda para promover combustíveis fósseis". ➡️ Contexto: na última semana, o governo Trump se mobilizou para revogar uma declaração de 2009 que determinava que o dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa colocam em risco a saúde e o bem-estar público. Isso ajudaria a revogar várias regulamentações climáticas e a política nacional sobre emissões e meio ambiente. Depois do movimento, o governo agora publicou o documento intitulado “Uma análise crítica dos impactos das emissões de gases de efeito estufa no clima dos Estados Unidos”. A análise foi elaborada por um grupo de cinco cientistas conhecidos por terem posições céticas em relação ao consenso científico sobre o aquecimento global. Entre eles, nomes como Judith Curry e Steven Koonin, frequentemente citados por negacionistas. O documento foi encomendado pelo secretário de Energia, Christopher Wright — entusiasta da indústria fóssil — que afirma oferecer uma “visão alternativa” às conclusões do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). O texto minimiza o papel dos gases do efeito estufa no aquecimento global e sugere que os modelos climáticos superestimam os impactos futuros das emissões. “Muitos se surpreenderão com as conclusões, que diferem em pontos importantes da narrativa dominante. Isso mostra o quão longe o debate público se afastou da própria ciência”, afirma o secretário Wright no prefácio do documento. Queima de combustíveis fósseis é uma das principais causas do aquecimento global. Divulgação - Pixabay. O que diz o relatório Com 130 páginas, o relatório argumenta que: O dióxido de carbono (CO₂) não deve ser considerado um poluente, uma vez que promove o crescimento vegetal e melhora a produtividade agrícola (o chamado global greening). Modelos climáticos seriam “exageradamente sensíveis” ao CO₂ e “inadequados” para prever o futuro climático. A maior parte dos eventos climáticos extremos nos EUA — como furacões, ondas de calor e enchentes — não apresentaria tendência de aumento ligada às emissões humanas. O aumento do nível do mar estaria dentro da média histórica e seria influenciado principalmente por fatores locais, como a subsidência do solo. O impacto de políticas dos EUA sobre o clima global seria “indetectável” e as medidas de mitigação poderiam causar mais danos econômicos do que benefícios. Além disso, o relatório critica duramente o uso do cenário RCP8.5 — considerado extremo — como “base” para projeções de impacto em políticas climáticas. Cientistas conhecidos por desafiar o consenso Todos os cinco autores do relatório já estiveram no centro de controvérsias sobre mudanças climáticas. Judith Curry, por exemplo, é frequentemente citada em audiências republicanas no Congresso por minimizar os riscos do aquecimento global. Steven Koonin, ex-conselheiro científico do Departamento de Energia no governo Obama, escreveu um livro em que critica o “alarmismo” climático. John Christy e Roy Spencer, ambos da Universidade do Alabama, são conhecidos por contestarem dados de aquecimento com base em medições por satélite. Reações e críticas Especialistas em clima e instituições acadêmicas reagiram com preocupação ao conteúdo e à forma de divulgação do relatório. O temor é que o documento seja usado como ferramenta política para desacreditar ações climáticas e enfraquecer regulações ambientais. “Esta é uma agenda para promover combustíveis fósseis, não para proteger a saúde pública, o bem-estar ou o meio ambiente,” afirma Rachel Cleetus, diretora da organização Union of Concerned Scientists e coautora da sexta Avaliação Nacional do Clima dos EUA, em entrevista ao jornal The Guardian. O jornal britânico também questionou o Departamento de Energia sobre as críticas de que o relatório estaria repleto de desinformação. Em resposta, o porta-voz Ben Dietderich afirmou: “Este relatório avalia criticamente muitas áreas de investigação científica em andamento que frequentemente recebem altos níveis de confiança — não pelos cientistas, mas por órgãos políticos envolvidos, como as Nações Unidas ou administrações presidenciais anteriores.” A Union of Concerned Scientists também aponta que o relatório ignora ou distorce evidências amplamente aceitas pela comunidade científica internacional — como o papel crescente das emissões humanas no agravamento de eventos extremos e a aceleração do aquecimento global nos últimos 50 anos. Um novo capítulo do negacionismo climático oficial Desde que voltou à presidência dos EUA, Trump tem retomado pautas antiambientais, desregulando setores da indústria fóssil, restaurando oleodutos e retirando investimentos em energia limpa. O relatório é a primeira g


Incêndio florestal na Califórnia avança rápido e força evacuações perto de Malibu Um relatório do Departamento de Energia dos Estados Unidos afirma que as projeções de mudança climática futuras são exageradas e minimiza o papel das emissões no aquecimento do planeta. A posição é criticada por especialistas que sinalizam a posição como "uma agenda para promover combustíveis fósseis". ➡️ Contexto: na última semana, o governo Trump se mobilizou para revogar uma declaração de 2009 que determinava que o dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa colocam em risco a saúde e o bem-estar público. Isso ajudaria a revogar várias regulamentações climáticas e a política nacional sobre emissões e meio ambiente. Depois do movimento, o governo agora publicou o documento intitulado “Uma análise crítica dos impactos das emissões de gases de efeito estufa no clima dos Estados Unidos”. A análise foi elaborada por um grupo de cinco cientistas conhecidos por terem posições céticas em relação ao consenso científico sobre o aquecimento global. Entre eles, nomes como Judith Curry e Steven Koonin, frequentemente citados por negacionistas. O documento foi encomendado pelo secretário de Energia, Christopher Wright — entusiasta da indústria fóssil — que afirma oferecer uma “visão alternativa” às conclusões do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). O texto minimiza o papel dos gases do efeito estufa no aquecimento global e sugere que os modelos climáticos superestimam os impactos futuros das emissões. “Muitos se surpreenderão com as conclusões, que diferem em pontos importantes da narrativa dominante. Isso mostra o quão longe o debate público se afastou da própria ciência”, afirma o secretário Wright no prefácio do documento. Queima de combustíveis fósseis é uma das principais causas do aquecimento global. Divulgação - Pixabay. O que diz o relatório Com 130 páginas, o relatório argumenta que: O dióxido de carbono (CO₂) não deve ser considerado um poluente, uma vez que promove o crescimento vegetal e melhora a produtividade agrícola (o chamado global greening). Modelos climáticos seriam “exageradamente sensíveis” ao CO₂ e “inadequados” para prever o futuro climático. A maior parte dos eventos climáticos extremos nos EUA — como furacões, ondas de calor e enchentes — não apresentaria tendência de aumento ligada às emissões humanas. O aumento do nível do mar estaria dentro da média histórica e seria influenciado principalmente por fatores locais, como a subsidência do solo. O impacto de políticas dos EUA sobre o clima global seria “indetectável” e as medidas de mitigação poderiam causar mais danos econômicos do que benefícios. Além disso, o relatório critica duramente o uso do cenário RCP8.5 — considerado extremo — como “base” para projeções de impacto em políticas climáticas. Cientistas conhecidos por desafiar o consenso Todos os cinco autores do relatório já estiveram no centro de controvérsias sobre mudanças climáticas. Judith Curry, por exemplo, é frequentemente citada em audiências republicanas no Congresso por minimizar os riscos do aquecimento global. Steven Koonin, ex-conselheiro científico do Departamento de Energia no governo Obama, escreveu um livro em que critica o “alarmismo” climático. John Christy e Roy Spencer, ambos da Universidade do Alabama, são conhecidos por contestarem dados de aquecimento com base em medições por satélite. Reações e críticas Especialistas em clima e instituições acadêmicas reagiram com preocupação ao conteúdo e à forma de divulgação do relatório. O temor é que o documento seja usado como ferramenta política para desacreditar ações climáticas e enfraquecer regulações ambientais. “Esta é uma agenda para promover combustíveis fósseis, não para proteger a saúde pública, o bem-estar ou o meio ambiente,” afirma Rachel Cleetus, diretora da organização Union of Concerned Scientists e coautora da sexta Avaliação Nacional do Clima dos EUA, em entrevista ao jornal The Guardian. O jornal britânico também questionou o Departamento de Energia sobre as críticas de que o relatório estaria repleto de desinformação. Em resposta, o porta-voz Ben Dietderich afirmou: “Este relatório avalia criticamente muitas áreas de investigação científica em andamento que frequentemente recebem altos níveis de confiança — não pelos cientistas, mas por órgãos políticos envolvidos, como as Nações Unidas ou administrações presidenciais anteriores.” A Union of Concerned Scientists também aponta que o relatório ignora ou distorce evidências amplamente aceitas pela comunidade científica internacional — como o papel crescente das emissões humanas no agravamento de eventos extremos e a aceleração do aquecimento global nos últimos 50 anos. Um novo capítulo do negacionismo climático oficial Desde que voltou à presidência dos EUA, Trump tem retomado pautas antiambientais, desregulando setores da indústria fóssil, restaurando oleodutos e retirando investimentos em energia limpa. O relatório é a primeira grande peça “científica” do novo mandato, reforçando a retórica de que as políticas ambientais representam uma ameaça ao crescimento econômico americano. Ao mesmo tempo, os autores do relatório insistem que seu objetivo é promover o “debate científico honesto” e corrigir o que veem como exageros na narrativa climática predominante. Para os especialistas em clima citados nesta reportagem, porém, trata-se de uma estratégia com aparência técnica, mas motivação política clara — enfraquecer as bases científicas das ações climáticas em nome de interesses econômicos de curto prazo. Assim que assumiu, Trump vem adotando medidas contra o clima. Em seu primeiro ato, retirou o país do Acordo de Paris. Um tratado assinado em 2015 em que os países pelo mundo assumiram um compromisso para manter o aquecimento global do planeta bem abaixo de 2°C até o final do século e buscar esforços para limitar esse aumento até 1.5°C. Alguns meses depois, o chefe da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês), Lee Zeldin, anunciou a revogação de 31 regulamentações ambientais, incluindo regras cruciais sobre mudanças climáticas, poluição de usinas a carvão e veículos elétricos. Além disso, cientistas climáticos foram demitidos. ➡️ Na NOAA, por exemplo, quase 10% da força de trabalho foi demitida, o que dá cerca de mil funcionários. A agência reúne alguns dos melhores cientistas do clima do mundo e é responsável pela previsão do tempo, monitoramento de furacões, tornados e tsunamis no país, além de fornecer dados que ajudam a monitorar a mudança climática e seus impactos no mundo. Para se ter uma noção do impacto, funcionários disseram em entrevistas à imprensa internacional que a redução afeta diretamente a capacidade do país de se preparar para eventos extremos, especialmente após uma temporada recorde de furacões no ano passado.
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