Ritual e app que muda voz: veja trechos do depoimento de serial killer
Ana Paula e sua irmã gêmea, Roberta, estão presas sob suspeita de participação em ao menos quatro assassinatos em SP e no RJ

Em depoimento prestado no 1º DP de Guarulhos, logo após a prisão, em 7 de setembro, Ana Paula Veloso Fernandes, de 36 anos — suspeita de envenenar quatro pessoas — admitiu envolvimento em dois dos casos e detalhou a relação e o contato que manteve com as vítimas pouco antes dos homicídios.
O interrogatório, que durou mais de três horas, foi obtido pelo Metrópoles, que selecionou trechos nos quais a polícia expõe alguns dos recursos usados pela acusada — entre eles, um aplicativo que alterava sua voz para a de um homem — com o objetivo de desviar o foco das investigações (assista abaixo). Ela também mencionou um suposto ritual com sangue de galinha que teria realizado após constatar uma das mortes
Veja vídeo:
Ana Paula está presa preventivamente, e a irmã gêmea, Roberta Cristina Veloso Fernandes, também continua detida. Ela soube, nesta quarta-feira (15/10), que foi indiciada pelo suposto envolvimento nos quatro homicídios. Segundo a defesa, Roberta nega todas as acusações.
Além das irmãs, Michele Paiva da Silva, que teria contratado as gêmeas para matar o próprio pai, Neil Corrêa da Silva, em 26 de abril no Rio de Janeiro, foi presa pela Polícia Civil paulista, em território fluminense, e trazida à carceragem do 1º DP da Grande São Paulo, onde é mantida em cela separada de Roberta. Ana, após 60 dias em Guarulhos, foi transferida para a penitenciária feminina de Santana, na zona norte paulistana.
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Ana Paula Veloso Fernandes, apontada pela polícia como a serial killer de GuarulhosReprodução/TV Globo2 de 14
Roberta Veloso, irmã da serial killer de Guarulhos Ana Paula Veloso, também foi indiciada por 4 mortesReprodução/TV Globo3 de 14
Ana matou Neil por encomenda, no Rio de JaneiroReprodução/TJSP4 de 14
Uma da vítimas foi morta após encontro via appReprodução/TJSP5 de 14
Acusada está envolvida em ao menos quatro mortes por envenenamento Reprodução/TJSP6 de 14
Ana Paula confessou ter matado colega de moradia à polícia Reprodução/TJSP7 de 14
Reprodução/Redes Sociais8 de 14
Na casa dela foi encontrado veneno Reprodução/TJSP9 de 14
Criminosa está presa desde setembroReprodução/TJSP10 de 14
Ana Paula Veloso Fernandes, apontada pela polícia como a serial killer de GuarulhosReprodução/TV Globo11 de 14
Serial killer de Guarulhos relatou com frieza a morte de uma das vítimasReprodução12 de 14
Investigação aponta que Ana testou veneno em cachorros antes dos crimesReprodução13 de 14
Arte Alfredo Henrique/Metrópoles14 de 14
Ela usava “TCC” como código para planejar homicídiosReprodução
Enquanto permaneceu no 1º DP, acompanhada do advogado Almir da Silva Sobral, Ana Paula explicou calmamente sobre a viagem ao Rio e como ficou de olheira para que nenhuma eventual testemunha interferisse no envenenamento de Neil, do qual acompanhou a agonia da vítima até a morte.
Ela e Roberta teriam negociado um valor com Michele para que o assassinato fosse concretizado, como consta em trocas de mensagens entre as irmãs, interceptadas pela polícia.
“Estou com o valor em espécie, peguei”, teria escrito Ana para Roberta, que teria ficado chateada e respondido: “Michele [filha de Neil] te deu o dinheiro e você está guardando só pra você”.
O Metrópoles revelou que as irmãs teriam se desentendido, como afirmado por Ana em depoimento, após discussão pela divisão de valores. A origem do dinheiro, argumenta Ana, seria pelo pagamento da feitura de TCCs (Trabalhos de Conclusão de Curso) — o que seria um código, segundo a polícia, para referirem-se aos homicídios.
Voz mudada e ritual com sangue
Ana também usou um aplicativo para ficar com voz de homem e, com isso, enviar mensagens a pessoas ligadas a algumas vítimas, O objetivo era tentar atribuir os crimes a outras pessoas.
Como consta na investigação, obtida pela reportagem, ela também enviou mensagens de texto, se passando por um policial militar — do qual diz ter sido amante — para tentar atribuir a ele um dos crimes.
Por fim, após acompanhar a morte de Hayder Mhazres em um hospital, Ana enviou mensagem a Roberta, comentando o caso e solicitando à irmã para que lhe conseguisse sangue de galinha “para realizar um ritual”. Ela não detalhou a motivação para isso e nem se de fato realizou o trabalho.
As quatro vítimas das “gêmeas do crime”
- Marcelo Hari Fonseca — encontrado morto em 31 de janeiro, em Guarulhos. Segundo a denúncia, Ana Paula teria colocado veneno nos alimentos após desentendimentos para assumir o controle do imóvel onde morava.
- Maria Aparecida Rodrigues — morreu entre 10 e 11 de abril, em Guarulhos. A vítima era amiga de Ana Paula. O crime teria sido cometido para incriminar o ex-amante de Ana.
- Neil Corrêa da Silva — morto em 26 de abril, no Rio de Janeiro, por feijoada supostamente envenenada. Investigação aponta que o homicídio teria sido encomendado por Michele Paiva da Silva, filha da vítima, também presa.
- Hayder Mhazres — morto em 23 de maio, em São Paulo. Segundo denúncia, Ana Paula teria oferecido bebida adulterada após encontro via app, motivada por vantagem financeira. Ela alegou falsa gravidez para reivindicar parte de bens da vítima.
As investigações também indicam que Roberta teria participado indiretamente na ocultação de provas. Em depoimento, ela admitiu ter queimado um sofá, onde o corpo de Marcelo foi encontrado, para eliminar vestígios de decomposição.
Com base nas conexões instrumentais entre os casos e na robustez das evidências digitais obtidas após a quebra do sigilo telemático de Ana Paula, o juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo determinou que todos os processos fossem centralizados em Guarulhos.
Entraves e próximos passos da investigação
Ana Paula está presa preventivamente desde 4 de setembro. Em decisão judicial, ela foi qualificada como “verdadeira serial killer” em virtude da reiteração, do planejamento e do uso de dissimulação para realizar os crimes.
Roberta Cristina Veloso Fernandes também está presa e responde a inquérito para aprofundar a individualização no esquema. Ela prestou depoimento no 1º DP de Guarulhos, na tarde dessa terça-feira (14/10). Há cautela por parte da polícia em responsabilizá-la diretamente, considerando que parte da atuação dela é atribuída à “consultoria” da irmã.
Os investigadores preveem diligências como exumações, perícias toxicológicas, apreensão de dispositivos de comunicação e análise de movimentações financeiras para traçar eventuais cúmplices ou supostas ramificações da rede de assassinatos.
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