Tapas e beijos
Valério Mesquita* Tivemos a oportunidade de expor uma tese, que desde os anos 50, até hoje, via de regra, prevaleceu o triunfo eleitoral dos candidatos naturais ao governo do Estado. Do mesmo modo, outro tabu político sempre manteve a escrita: em todas as eleições para governo sucederam rupturas partidárias e rompimentos políticos. Nenhum pleito ocorreu […]


Valério Mesquita*
Tivemos a oportunidade de expor uma tese, que desde os anos 50, até hoje, via de regra, prevaleceu o triunfo eleitoral dos candidatos naturais ao governo do Estado. Do mesmo modo, outro tabu político sempre manteve a escrita: em todas as eleições para governo sucederam rupturas partidárias e rompimentos políticos. Nenhum pleito ocorreu sem que os partidos e alianças mantivessem os compromissos do presente ou do passado. Assim foi, primeiramente, em 1950, quando o PSD do governador José Varela se dividiu para apoiar Manoel Varela. Em 1955, Jocelim Vilar e Jessé Freire, candidatos do PSD contra Dinarte Mariz da UDN, não receberam o apoio do pessedista José Varela que havia migrado para outro partido.
Já em 1960, a implosão do PSD foi vulcânica. Aluízio e Djalma Marinho dividiram as preferências do velho PSD, por causa do rompimento Alves x Mariz, ambos udenistas. O quadro da eleição de 1965, não foi diferente. Muitos que integraram a “Cruzada da Esperança” para eleger Aluízio, não ficaram com o monsenhor Walfredo Gurgel, seu candidato. Dentre prefeitos, líderes políticos do interior, além de Odilon Ribeiro Coutinho, Grimaldi Ribeiro e deputados estaduais. Em 1970, 74 e 78, época dos governadores indiretos (Cortez, Tarcísio e Lavô), nem porisso, deixaram de acontecer estocadas, escaramuças, dentro dos partidões Arena (verde e vermelha) e PDS, verdadeiras Arcas de Noé, com a oposição (MDB) influindo por linhas tortas e invisíveis na sucessão dos governadores nomeados.
Chega 1982, época do candidato naturalíssimo José Agripino. ajudado pelo voto vinculado, que somou todas as forças para derrotar o que sobrou da oposição: Aluízio Alves, ressuscitado dos direitos políticos cassados mas enfraquecido pelo acordão de 1978. Da derrota ficou a lição eterna: jamais Alves e Maia caberão no mesmo palanque. Mas em 1986, o então PDS mais o PFL, sofreram fraturas internas e expostas que imobilizaram João Faustino no leito de uma derrota surpreendente para Geraldo Melo. Entre tapas e beijos as tecituras de candidatos ao governo continuariam. Em 1990, Lavô e Vilma, entre outros, afastaram-se do sistema Maia e foram brigar com o primo José Agripino. Este, na sucessão seguinte, em 1994, consegue reagrupar Lavoisier, invertendo-se o jogo. O PDT de Lavô rompe com os ex-aliados do PMDB que ganharam, de quebra, o então PPB do vice-governador Fernando Freire.
Em 1998, dois nomes, para governador, já conhecidos, foram forçados à colisão, por força das circunstâncias: José Agripino Maia e Garibaldi Filho. Haviam deixado de ser, naturais para serem conjunturais. Compelidos em favor das legendas partidárias, para cada um, unificar o seu próprio sistema.
No novo milênio, as eleições foram cruentas, antropofágicas. Vale lembrar, certa vez, a definição que Dinarte Mariz havia deixado: “Política, meu filho, nunca deixou de ser, uns empurrando os outros”. No inicio do novo milênio, a candidatura natural se revelou em Vilma Maria de Faria, que, por dois mandatos, governou o Rio Grande do Norte. Foi sucedida por Rosalba Ciarlini, já senadora, com expressão política à nível estadual pelas repetidas vitórias como prefeita de Mossoró. Mas, não deixaram de ocorrer rupturas.
A eleição seguinte desmascarou a crendice da candidatura natural ao derrotar o deputado federal Henrique Eduardo Alves, superado pela zebra Robinson Faria. Chega 2018, finalmente, com outro resultado surpreendente: o pretenso candidato natural Carlos Eduardo Alves, não reuniu conteúdo, consistência ou unidade partidária, foi derrotado pela candidata Fátima Bezerra. Teria sido ela a candidata natural, efetivamente? Não! Porque nem do Rio Grande do Norte é natural.
Este ano da graça de 2026, quem é o candidato natural? Pela oposição não existe. Além do mais, nunca se viu então tantas tapas e beijos como agora. Política é circunstância. A lua engravidou de marte e nasceram alianças confusas, complexas e contraditórias que logo se desfarão.
Publicado em Tribuna do Norte
Valério Mesquita é escrito e Conselheiro do TCERN
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