Tarcísio projeta “voo próprio” com autonomia do bolsonarismo e Centrão
Aliados de Tarcísio apostam que governador terá mais liberdade política em eventual 2º mandato em SP, mirando projeto presidencial em 2030
Com o avanço da pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência da República, parte do entorno do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) projeta o início de um “voo próprio” do governante paulista.
A leitura desses aliados próximos é de que, após passar quase todo o primeiro mandato como alvo de especulações do Centrão e do bolsonarismo sobre uma eventual candidatura presidencial, Tarcísio poderá, em tese, passar a tocar seu projeto político, sem necessariamente estar atrelado às expectativas desses dois grupos.
De acordo com essa avaliação, a expectativa é de que Tarcísio pode ter uma reeleição relativamente tranquila em 2026. No eventual segundo mandato, ele teria mais independência e autonomia para projetar uma candidatura presidencial em 2030.
“O projeto é dar sequência ao trabalho em São Paulo para se firmar como administrador e político. Com isso, ele encerra esse ciclo de formação”, afirmou um auxiliar do governador.
Desgaste à vista
Esses aliados também esperam, reservadamente, que a eventual “desistência” do Centrão em empurrar Tarcísio para a corrida ao Planalto, uma vez que Flávio Bolsonaro está como pré-candidato bolsonarista até o momento, pode ser a chance do governador se desvincular do grupo.
Isso porque, em Brasília, há um temor de que os partidos desse campo político podem sofrer, como parte de seus parlamentares já tem sofrido, alto desgaste com o avanço das investigações sobre emendas parlamentares, sob a relatoria do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Antes da indicação de Flávio, [o senador e presidente nacional do PP] Ciro Nogueira ficava usando Tarcísio como produto”, afirmou uma fonte palaciana.
Na última sexta, Nogueira afirmou à coluna de Paulo Cappelli, no Metrópoles, que prefere Flávio a Tarcísio “um milhão de vezes”. A declaração ocorre em um momento em que o “filho 01” do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) busca atrair partidos de centro, como o próprio PP, para seu arco de alianças em 2026.
O partido, assim como seus caciques, sofreu um revés na última sexta-feira (12/12). Uma ex-assessora do deputado federal Arthur Lira (PP-AL), por exemplo, Mariângela Fialek, foi alvo de uma operação da Polícia Federal por suspeitas de desvio em emendas parlamentares. Ela atualmente está lotada na Liderança do PP na Câmara dos Deputados.
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“Sem pegar na mão”
Outro elemento de maior independência de Tarcísio, apontado por aliados, seria a escolha do vice na chapa para concorrer à reeleição em 2026.
Ao contrário de 2022, quando precisava usar a vaga para atrair um partido como o PSD, de Gilberto Kassab, dessa vez o governador teria mais liberdade para uma escolha pessoal, sem a necessidade de usar o cargo como moeda de troca para angariar apoio.
Caso a candidatura de Flávio fique de pé, Tarcísio tem afirmado publicamente que apoiará seu nome. O governador, no entanto, não tem intenção de se engajar na campanha, segundo aliados ouvidos pela reportagem.
“Ele não deve pegar na mão do Flávio como fez com Ricardo Nunes”, afirmou um interlocutor, comparando com o papel que Tarcísio teve na campanha à reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB) na capital paulista. À época, o governador teve papel central e serviu como uma espécie de padrinho do emedebista.
Apesar dessa análise, esses aliados de Tarcísio admitem que, no cenário em que Flávio desista da candidatura, a pressão para que o governador paulista dispute a Presidência pode voltar com força.
“Foco em São Paulo”
Tarcísio tem enfatizado em entrevistas e discursos que seu objetivo é lançar projetos considerados estruturantes, deixando um “legado” para o estado.
No final deste ano, passou a adotar o mote do “impossível” para listar ações do primeiro mandato que, segundo ele, os paulistas não acreditavam mais serem possíveis de se concretizar, como a retomada da obra do trecho norte do Rodoanel e o “fim” da Cracolândia, dando o tom da campanha para a reeleição.
“É natural que coloquem um governador de São Paulo como presidenciável, isso faz parte, sempre tem sido assim. Mas eu sempre disse que o meu foco era o estado de São Paulo e eu continuo focado no estado de São Paulo. Não teve mudança nenhuma, apesar de especulação para cá, muita especulação, mas nunca a gente se colocou como candidato, pelo contrário, sempre disse que o nosso projeto é São Paulo”, disse Tarcísio durante agenda na última sexta-feira (19/12).
No dia anterior, no evento em que apresentou um balanço de sua gestão até aqui, o governador também falou do projeto de ficar em São Paulo pelo próximos quatro anos.
“Obviamente, a gente tem uma perspectiva e um planejamento de não parar de entregar. Do contrário, por que eu estaria fazendo o projeto da nova descida da Imigrantes? Só estamos fazendo porque acreditamos em planejamento de longo prazo. Por que a gente investiria em um projeto para iniciar uma obra ano que vem e que vai ficar pronta em 2030?”, questionou, sem considerar que na vida de um governante não é incomum tirar do papel grandes projetos para que seus sucessores os entreguem à população.
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