Valas do crime: as vítimas dos cemitérios das facções criminosas
Sequestrados e torturados, eles foram dados como mortos mesmo sem terem os corpos encontrados
Vítimas de crimes sanguinários, eles tiveram os corpos ocultados de forma brutal. Alguns foram encontrados; outros jamais voltaram a ser vistos. Segundo as investigações, todos teriam sido vítimas dos chamados cemitérios clandestinos erguidos e mantidos por facções criminosas.
Em entrevista à coluna, o delegado da Polícia Civil de Mato Grosso, Caio Albuquerque, titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Cuiabá, explicou que, após homicídios violentos, os criminosos costumam utilizar covas e o fogo para dar fim aos corpos, com o objetivo de apagar vestígios.
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Torturados e mortos
Em janeiro deste ano, cinco maranhenses foram sequestrados, torturados e mortos. À época, a Polícia Civil de Mato Grosso informou que as vítimas haviam chegado ao estado no dia anterior ao rapto para trabalhar na região.
Eles foram retirados pelos criminosos do alojamento onde estavam, no bairro Jardim Primavera, e levados para outro local, onde foram submetidos ao chamado tribunal do crime.
Após as sessões de tortura, os cinco homens foram executados e tiveram os corpos ocultados.
As vítimas foram identificadas como Wallison da Silva Mendes, 21 anos; Wermison dos Santos Silva, 21; Diego de Sales Santos, 22; Mefibozete Pereira da Solidade, 25; e Walyson da Silva Mendes, 25.
As investigações constataram que nenhuma das vítimas tinha relação com o crime organizado.
Os cadáveres de dois deles foram encontrados no bairro Perinel. Os outros três corpos nunca foram localizados.
Trio desaparece após churrasco
Em abril deste ano, Vítor Juan Santiago, 18 anos; Carolina Oliveira de Lima, 19; e Pedro Henrique Di Benedetto Rodrigues, 23, saíram de um churrasco, em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre (RS), após receberem uma ligação misteriosa — e nunca mais foram vistos.
Conforme apontado pelos investigadores, há indícios de que os três estariam envolvidos com o crime organizado e participariam de uma espécie de “tele-entrega” de drogas.
A principal suspeita é de que eles tenham ido a uma área considerada dominada por uma facção rival para realizar a entrega, momento em que teria ocorrido o desaparecimento.
No início de novembro, a Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) tornou réus sete denunciados pelo Ministério Público do Estado (MPRS) por envolvimento no desaparecimento e possível homicídio do trio.
Mesmo sem a localização dos corpos, o caso passou a ser investigado como triplo homicídio, além de fraude processual e ocultação de cadáver.
Adolescentes brutalmente assassinados
Em novembro deste ano, um crime de extrema violência chocou Cuiabá (MT). Dois irmãos, de 13 e 16 anos, foram submetidos ao tribunal do crime por integrantes do Comando Vermelho (CV), após serem identificados como supostos membros de uma facção rival, o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Elias Gabriel dos Santos Lima e João Victor dos Santos Lima ficaram três dias desaparecidos, até que os corpos foram encontrados em 12 de novembro.
O crime causou comoção entre moradores, familiares e até mesmo entre autoridades experientes. Segundo o delegado Caio Albuquerque, responsável pela investigação, a execução dos irmãos foi registrada em vídeo e posteriormente compartilhada nas redes sociais.
A mãe dos adolescentes reconheceu os filhos nas imagens em que eles aparecem decapitados.
Mapa dos cemitérios
Em outubro, o Ministério Público Federal (MPF) pediu que o governo criasse um grupo de trabalho para mapear, dentro de seis meses, todos os cemitérios e valas clandestinas mantidos por facções criminosas na Região Metropolitana do Rio.
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