Tráfico de animais: criminosos exibem espécies em catálogos on-line
A ação deflagrada nessa terça-feira (15/6) foi classificada como a maior ação já registrada no país contra o tráfico de animais silvestres

A operação São Francisco, deflagrada nessa terça-feira (16/9) pela Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro (PCRJ), descortinou um esquema robusto de tráfico e comércio ilegal de animais silvestres — a ação policial foi classificada como a maior operação já deflagrada no Brasil no âmbito dos bichos selváticos.
A Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) investigou o modus operandi de uma das maiores organizações criminosas do país. Conforme constatado, a rede traficava e comercializava pássaros, primatas e tartarugas, entre outros bichos, de forma ilegal e cabalmente irresponsável.
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A investigação revelou que o esquema contava com, ao menos, 145 integrantes, identificados em diferentes eixos: caçadores, atravessadores, falsificadores e até um grupo voltado apenas para a captura e venda de primatas.
O esquema incluía, ainda, a falsificação de anilhas, selos públicos e documentos para dar aparência legal aos animais retirados da natureza.
Como se fossem produtos
Os animais eram comercializados como se fossem inanimados. Por meio da internet, os criminosos criavam grupos intitulados “rolo de animal ou feiras do rolo” — comércio informal onde se vende produtos de procedência duvidosa, incluindo itens roubados, falsificados ou até mesmo animais, como neste caso.
Nos aplicativos de conversa, os bichos eram expostos por meio de vídeos e fotografias, como numa espécie de catálogo de venda.
A coluna teve acesso a capturas de tela usadas na investigação. Nos bate-papos, os investigados solicitavam os bichos e faziam propaganda dos que tinham para “dar em troca”.
Em um dos prints, um homem escreve: “Alguém com um macaco prego pra um amigo? (sic)”. Prontamente, um suspeito responde com um vídeo de dois filhotes da espécie interagindo. Sem dar muitos detalhes, ele se limita a dizer “E$4,5 mil cada. Retirada em São Gonçalo”, ofereceu.
Em outro momento, um terceiro envolvido envia um vídeo de um macaco da espécie “mão-de-ouro” ou “mico-de-cheiro”. Ele diz: “Macaco mão de ouro raridade no Rio, retirada comigo no quadrado vem ‘cas’ nota R$ 3, 5 mil preço final para sair hoje (emojis de macaco)”.
Nesse último caso, além da propaganda, um segundo ponto chama a atenção: o animal, que é, aparentemente, filhote, está vestido com uma camisetinha estampada, tal qual um bebê.
Em grupo chamado “Feira de Caxias Oficial (emojis de aves)” alguém, usando a foto de um bebê no perfil, envia um vídeo em que seis filhotes de papagaio aparecem em pé em cima de uma superfície de mármore.
“Papagaio bahaino [papagaio baiano] filhote R$ 600 retirada no centro de Caxias. Não entrego só venda (emojis de notas de dinheiro) (sic)”.
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Uma imagem de um macaco vestido foi enviada no grupo Divulgação/PCERJ2 de 4
Um homem solicitou filhotes de macaco-prego e prontamente um participante mandou imagens d dois filhotesDivulgação/PCERJ3 de 4
Cnetenas de tartarugas foram encontradas Divulgação/PCERJ4 de 4
Filhotes de papagaio também eram comercializadosDivulgação/PCERJ
A maldade por trás da ambição
As espécies eram caçadas e retiradas de seus habitats em larga escala. Conforme apontado pela polícia, eram transportadas ilegalmente em condições precárias e vendidas em centros urbanos.
Em decorrência da exposição ao estresse e a transferência sem o aparato necessário, muitos morriam no trajeto. Entre os pontos de captura estavam o Parque Nacional da Tijuca e o Horto Florestal.
Para dar suporte à ação, uma base foi montada na Cidade da Polícia, na capital fluminense. Ali, os animais apreendidos recebem cuidados veterinários antes de serem encaminhados a centros de triagem, com o objetivo de reintegração à natureza.
Ex-deputado investigado
O ex-deputado estadual Tiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, preso há duas semanas por ligação com o tráfico de drogas, foi um dos alvos a operação. o de negociações envolvendo primatas silvestres. Endereços ligados a ele, na Zona Oeste do Rio, foram alvos da Operação São Francisco, deflagrada nesta terça-feira (16/9) pela Polícia Civil.
Fontes da investigação confirmaram que TH Joias aparece em apurações relacionadas à negociação de macacos traficados, um dos mercados mais lucrativos da organização. Em áudios obtidos pela coluna, um traficante negocia a venda de um macaco-prego e afirma que o animal é “inteligente”. Em outro trecho, faz referência direta ao primata adquirido pelo ex-deputado Tiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, dizendo que o bicho estava “super esperto”.
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