Um porta-aviões ao largo da COP-30 (por Marcos Magalhães)

Donald Trump estará bem longe, nas próximas duas semanas, das salas de reunião da COP-30

Nov 11, 2025 - 09:30
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Um porta-aviões ao largo da COP-30 (por Marcos Magalhães)

Donald Trump estará bem longe, nas próximas duas semanas, das salas de reunião da COP-30 de Belém, onde representantes do resto do mundo debatem a crise climática do planeta. Ao longo desses dias, porém, já navega rumo ao Caribe o porta-aviões USS Gerald R. Ford, o maior e mais moderno da Marinha dos Estados Unidos.

O presidente americano parece disposto a estacionar sua potente máquina de guerra em frente à Venezuela, a pouco mais de 2 mil quilômetros da capital do Pará. A partir dela pretende atingir supostas bases do narcotráfico. E, de quebra, corroer as bases do regime de Nicolás Maduro.

O timing é curioso. Enquanto o porta-aviões cruza o Atlântico, a partir da Europa, centenas de negociadores enfrentam duras conversas para tentar recolocar nos eixos a difícil tarefa de conter o aquecimento do planeta.

O presidente dos Estados Unidos optou pela ausência da conferência de Belém. Até porque não acredita na crise climática. Ao mesmo tempo, quer mostrar ao resto do mundo que não se negará a usar o poderio militar para impor sua presença. Especialmente nas Américas, ou no que chamam de Hemisfério Ocidental.

O provável ataque à Venezuela aguarda a chegada ao Caribe do USS Gerald R. Ford e uma ordem de Trump. Pode ocorrer durante as negociações sobre o clima em Belém. Ou depois que as delegações estiverem no caminho de volta a seus países.

O simples deslocamento em direção ao Caribe do porta-aviões durante a ocorrência da COP-30, porém, mostra que a maior potência mundial optou por um caminho solo.

Ao mesmo tempo em que esnoba um encontro internacional destinado a encontrar soluções para o futuro da Terra, o presidente americano está prestes a lançar um ataque a um país soberano na América do Sul.

Se cair, como parece cada vez mais provável, Nicolás Maduro não deixará muitas saudades. Seu regime há muito tempo tomou os contornos de uma ditadura, e o êxodo de venezuelanos comprova o fracasso de seu governo.

Não soa bem, no entanto, a queda de um regime, em país vizinho, diante da presença de um poderoso porta-aviões. Traz à memória um tempo de intervenções militares na região que não deixou saudades.

A opção militar também indica que, enquanto Trump estiver na Casa Branca, não se deve contar com os Estados Unidos para a busca de soluções coletivas para os problemas mundiais. O multilateralismo não tem muitos amigos hoje em Washington.

Os céticos de sempre dirão que essas soluções coletivas são apenas sonhos distantes em um mundo onde predomina a busca dos próprios interesses por parte de cada país.

As dificuldades na implantação do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas parecem lhes dar razão. Assinar um acordo é fácil. Trazê-lo ao mundo real, nem tanto. Quando as ações ambientais prejudicam o ritmo da economia, muitos países hesitam.

Mas aqui convém fazer uma pausa e ajustar o foco. Sim, é verdade que os interesses próprios dos países têm prevalecido ao longo dos últimos séculos. Ao se abrir a lente, porém, será fácil perceber os problemas comuns do mundo onde estão todos esses países.

Para enfrentar esses problemas comuns é preciso liderança. E isso está em falta. Os Estados Unidos sequer enviaram uma delegação a Belém, onde se tenta traçar um roteiro de combate ao risco climático. E Trump prefere enviar um porta-aviões ao Caribe.

O exercício da liderança possível, portanto, dependerá de uma conjugação de esforços de diversos países espalhados pelo mundo, da América do Sul à Ásia e à África, quem sabe com a ajuda de uma hoje hesitante Europa.

Não será fácil, especialmente quando o assunto principal é dinheiro. O Brasil já percebeu isso ao ver que poucos países decidiram apoiar com recursos sua proposta de um grande fundo de financiamento de preservação das florestas.

Não custa lembrar, porém, como fez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura oficial da COP-30, que recursos existem e podem ser usados de forma mais generosa.

“É muito mais barato colocar US$ 1,3 trilhão para a gente acabar com o problema que mata, do que colocar US$ 2,7 trilhões para fazer guerra, como no ano passado”, disse Lula em Belém.

Pode soar como retórica vazia em um mundo cada vez mais conturbado. Mas não deixa de ser verdade.]

 

Marcos Magalhães. Jornalista especializado em temas globais, com mestrado em Relações Internacionais pela Universidade de Southampton (Inglaterra), apresentou na TV Senado o programa Cidadania Mundo. Iniciou a carreira em 1982, como repórter da revista Veja para a região amazônica. Em Brasília, a partir de 1985, trabalhou nas sucursais de Jornal do Brasil, IstoÉ, Gazeta Mercantil, Manchete e Estado de S. Paulo, antes de ingressar na Comunicação Social do Senado, onde permaneceu até o fim de 2018.

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