Vereadora é ré por perseguir mulher que acusou ela e marido de estupro
Janaina Ballaris, vereadora da Praia Grande, pode ser condenada por perseguição. Defesa da parlamentar nega qualquer prática de crime

Janaina Ballaris, vereadora da Praia Grande, no litoral de São Paulo, é ré em uma ação criminal no Tribunal de Justiça do Estado (TJSP) por perseguição (stalking) e violência psicológica contra a mulher, por supostamente importunar, de forma pública e privada, uma jovem que denunciou a parlamentar e o marido dela por estupro, em junho de 2022.
Janaina é casada com Whelliton Silva, ex-jogador de Flamengo e Santos, e também ex-vereador da Praia Grande. Os dois são acusados de estupro por Letícia Almeida Holanda de Albuquerque, de 27 anos. A denúncia gerou um inquérito policial, que foi arquivado por falta de provas.
2 imagens
Fechar modal.
1 de 2
Janaina Ballaris (União Brasil) foi eleita vereadora da Praia Grande em 2012, 2016 e 2024Reprodução/Redes sociais2 de 2
A parlamentar, investigada por stalking e denunciada por estupro, divulga ações em prol das mulheres no InstagramReprodução/Redes sociais
A jovem afirmou à reportagem que mantinha uma relação amorosa com o casal quando o episódio aconteceu, em abril de 2022.
Na ocasião, os três teriam ido a uma festa, onde Letícia bebeu dois copos de gin e se sentiu tonta. Ela lembra apenas de ter acordado na cama do casal, por volta das 3h da manhã, com a blusa do avesso e sem roupas íntimas.
Letícia formalizou uma denúncia por estupro dois meses depois, em junho daquele ano, após ser informada por Janaina e Whelliton que não seria mais nomeada para um cargo na Câmara Municipal de Praia Grande, como os dois haviam acordado com ela. Segundo os autos, obtidos pelo Metrópoles, o casal mudou de ideia sobre a indicação por conta dos comportamentos da jovem enquanto esta esteve em período de teste, que teriam desagradado os vereadores.
Leia também
-
São Paulo
Ex-jogador de Santos e Flamengo acusado de estupro perde ação no TJSP
-
Mirelle Pinheiro
Preso por pedofilia e série de estupros, vereador tinha sete namoradas
-
São Paulo
Vereador de Peruíbe, litoral de SP, é preso por estupro de vulnerável
-
Brasil
A cada 7 minutos, uma mulher é vítima de stalking no Brasil. Entenda
De acordo com Letícia, ela levou algumas semanas para formalizar a denúncia de estupro pela fragilidade emocional e psicológica em que se encontrava. Janaína usou do fato como argumento para instaurar diversas ações judiciais contra a jovem por calúnia, alegando que a denúncia era falsa – todos processos foram arquivados.
O mesmo ocorreu com Whelliton. Em 12 de agosto, o ex-jogador de futebol perdeu uma ação na Justiça em que pedia R$ 50 mil de indenização por danos morais para Letícia, no contexto da denúncia do estupro.
9 imagens
Fechar modal.
1 de 9
Whelliton Silva já jogou no Flamengo, no Santos e em times da EuropaReprodução2 de 9
Ele é casado com a vereadora da Praia Grande, Janaina Bellalis (União Brasil)Reprodução3 de 9
Casal mantinha relação com jovem que os acusou de estupro. Eles iriam indicar a mulher a um cargo na Câmara Municipal de Praia Grande, em 2022Reprodução4 de 9
Whelliton Silva já jogou no Flamengo, no Santos e em times da EuropaReprodução5 de 9
Whelliton Silva já jogou no Flamengo, no Santos e em times da EuropaReprodução6 de 9
Whelliton Silva já jogou no Flamengo, no Santos e em times da EuropaReprodução7 de 9
Whelliton Silva já jogou no Flamengo, no Santos e em times da EuropaReprodução8 de 9
Whelliton Silva já jogou no Flamengo, no Santos e em times da EuropaReprodução9 de 9
Whelliton Silva já jogou no Flamengo, no Santos e em times da EuropaReprodução
Segundo ele, a repercussão do caso gerou prejuízos à sua imagem pessoal e profissional. Na época, um processo chegou a ser instaurado na Câmara, o que poderia gerar a cassação do mandato do vereador. A ação, no entanto, foi arquivada, e ele concluiu o mandato.
Ré por stalking
- Letícia registrou um boletim de ocorrência contra Janaina em maio de 2023 alegando que estaria sofrendo ameaças e violência psicológica por parte da vereadora, o que teria lhe causado dano emocional.
- Segundo o relato da jovem, após a denúncia de estupro, Janaina e Whelliton, mas especialmente a mulher, teriam passado a persegui-la, tanto presencialmente quanto de forma virtual.
- Janaina, na posição de advogada, chegou a se habilitar em processos privados e sigilosos de Letícia, como inventário familiar, para levantar informações pessoais sobre a jovem.
- Ela teria compartilhado as informações nas redes sociais, zombando de laudos psiquiátricos e vícios de Letícia.
- Letícia relata ainda que a vereadora também ligava para sua família, seus ex-namorados e diversas pessoas do seu círculo social, “criando fake news” e pedindo que incentivem a jovem a se retratar no atual processo por perseguição.
- A jovem conta que chegou a mudar de endereço por conta do stalking, saindo da Baixada Santista e indo para o interior paulista, por conta das perseguições.
- Os fatos teriam agravado os problemas psicológicos de Letícia, que estava grávida e fazia uso de remédios controlados. Em 2023, ela tentou tirar a própria vida.
- O BO gerou um inquérito policial e, em maio de 2024, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) apresentou à Justiça denúncia contra Janaina, alegando se tratar de crime permanente, já que as perseguições não teriam cessado até o momento da instauração do processo.
- O TJSP aceitou a denúncia ainda em maio, tornando Janaina réu. O processo está na fase das alegações finais, em que defesa e acusação irão apresentar os últimos argumentos antes de uma decisão da Justiça.
Advogado de vereadora fala em perseguição política
Em nota, o advogado Fabio Menezes Ziliotti, que faz a defesa de Janaina, afirmou que “manifesta profunda estranheza” por informações de um processo que tramita sob segredo de Justiça estarem repercutindo na imprensa. “Ressalte-se que a preservação do sigilo processual é dever legal, cuja violação pode configurar ilícito funcional e penal”, disse.
Sobre as acusações, o advogado diz que “a ação em curso decorre de evidente instrumentalização do Poder Judiciário como meio de perseguição política, situação já reconhecida em decisões que afastaram a aplicação da Lei Maria da Penha por inexistência de vínculo doméstico ou afetivo entre as partes”.
“A Sra. Janaína mantém plena confiança de que, ao final, sua inocência será reconhecida e que restará evidenciado o abuso a que vem sendo submetida por meio da utilização indevida da máquina judiciária”, finaliza a nota.
What's Your Reaction?






