Wall Street Journal revela carta de Trump pra Epstein (Pedro Guerreiro

"Temos certas coisas em comum, Jeffrey”

Jul 18, 2025 - 09:20
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Wall Street Journal revela carta de Trump pra Epstein (Pedro Guerreiro

Presidente norte-americano nega autoria de missiva para banqueiro acusado de abuso de menores

A antiga relação de amizade entre Donald Trump, o atual Presidente dos Estados Unidos, e Jeffrey Epstein, um influente gestor de fortunas falecido em 2019, acusado de ter abusado sexualmente de centenas de adolescentes e jovens mulheres, volta a ser objeto de escrutínio numa altura em que o republicano enfrenta uma pressão crescente por parte de apoiantes e adversários para divulgar detalhes de um processo que o Departamento de Justiça anunciou ter encerrado definitivamente no início do mês.

Esta quinta-feira, o Wall Street Journal (WSJ) divulgou o que diz ser uma carta que Trump terá enviado a Epstein, e que constará de um álbum de recortes e memórias que Ghislaine Maxwell, agora a cumprir 20 anos de cadeia pelo seu papel no recrutamento de vítimas para os abusos, terá preparado em 2003 como um presente para assinalar o então 50.º aniversário do gestor. Trump nega a autoria da carta, anuncia que vai processar o jornal, e ordenou, entretanto, à procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, para tornar pública toda a informação “pertinente” do processo de Epstein, numa aparente cedência à pressão dos últimos dias.

O álbum, encadernado a pele, que foi apreendido pelo Departamento de Justiça no âmbito da investigação às suspeitas de abusos, e que faz parte do arquivo de documentos que permanece até hoje por divulgar, incluirá uma carta de Trump para Epstein com a reprodução de um diálogo imaginário entre os dois, emoldurado com um desenho de uma mulher nua atribuído ao agora Presidente, que o WSJ transcreve:

“Voz de fundo: Tem de haver mais qualquer coisa na vida do que ter tudo

Donald: Sim, há, mas não te digo o que é

Jeffrey: Nem eu, uma vez que também sei o que é

Donald: Temos certas coisas em comum, Jeffrey

Jeffrey: Sim, temos, agora que falas nisso

Donald: Os enigmas nunca envelhecem, já reparaste?

Jeffrey: Por acaso, isso ficou claro para mim da última vez que te vi

Trump: Um amigo é uma coisa maravilhosa. Feliz aniversário – e que cada dia seja outro segredo maravilhoso”.

Segundo o jornal, a missiva termina com a assinatura de Trump, “Donald”, escrita como se fosse os pelos púbicos da mulher desenhada.

A notícia da alegada carta surge numa altura sensível para o Presidente norte-americano. Trump passou parte da campanha eleitoral de 2024 a prometer que, se vencesse as presidenciais de novembro, divulgaria os ficheiros do caso Epstein, que segundo uma popular teoria conspiratória incluiria uma lista de supostos “clientes” de uma rede de abuso de menores operada pelo gestor nova-iorquino. Da alegada lista, especulavam destacados apoiantes de Trump, constariam figuras da elite política, empresarial e mediática norte-americana, sobretudo conotadas com o Partido Democrata.

No entanto, e no início deste mês, o Departamento de Justiça, liderado pela procuradora-geral Pam Bondi, que recentemente tinha alegado ter os referidos documentos em cima da sua secretária, veio declarar que a alegada lista não existe afinal e que do processo não consta matéria que justifique a abertura de novas investigações contra terceiros. A morte de Epstein em 2019, na cela de uma prisão nova-iorquina, antes de ter sido julgado pelos crimes de que estava acusado, terá resultado de suicídio, conclui a mais recente revisão do caso pela Administração Trump, que reitera as conclusões oficiais anteriormente conhecidas.

O anúncio do arquivamento suscitou a ira de diversos apoiantes de Trump – não só de figuras anônimas nas redes sociais, mas também de personalidades como o ex-general Michael Flynn, o polemista de extrema-direita Matt Walsh, a congressista Marjorie Taylor Greene e mesmo o líder da maioria republicana na Câmara dos Representantes, Mike Johnson, que defendeu esta semana que todo o dossier deve ser publicado.

Trump, que tinha prometido a divulgação dos documentos em posse da justiça norte-americana, afirmou nos últimos dias que a alegada lista de “clientes” de Epstein não passa de um “embuste” fabricado pelos seus adversários políticos democratas, e instou os seus apoiantes a esquecerem o caso. Passou a ser acusado, dentro e fora do universo MAGA, de estar a tentar ocultar informação possivelmente comprometedora.

Após a publicação da notícia do WSJ, Trump recorreu nesta madrugada à rede social Truth Social para anunciar que solicitou à procuradora-geral, Pam Bondi, a divulgação de “todos e quaisquer testemunhos pertinentes do grande júri, sujeitos a aprovação do tribunal”, perante a “quantidade ridícula de publicidade dada a Jeffrey Epstein”.

“Este embuste, perpetuado pelos democratas, tem de acabar agora mesmo!”, escreveu Trump. Bondi afirmou, entretanto, que solicitará nesta sexta-feira a divulgação dos documentos.

O Presidente norte-americano desmente a autoria da carta revelada pelo WSJ, que reforça o retrato de uma amizade a dada altura próxima com Epstein, e ameaça processar o jornal. “Nunca escrevi um desenho na minha vida. Não faço desenhos de mulheres. (…) Não é a minha linguagem. Não são as minhas palavras”, disse Trump à publicação. “Vou processar o Wall Street Journal como processei toda a gente”, acrescentou.

Na Truth Social, o Presidente assume ter recorrido a Rupert Murdoch, chairman emérito da News Corp, empresa proprietária do WSJ, para travar a publicação: “O Sr. Murdoch disse que ia tratar do assunto mas, claramente, não tinha o poder para fazê-lo.”

Trump nunca foi designado como um eventual suspeito no caso Epstein. Outrora próximo do milionário – “É muito divertido estar com ele. Diz-se que ele gosta de mulheres bonitas tanto quanto eu gosto, e muitas delas são novinhas. Sem dúvida, o Jeffrey aprecia a sua vida social”, disse Trump à New York Magazine, num perfil sobre Epstein publicado em 2002 – o agora Presidente alega ter cortado relações com o amigo após a revelação das primeiras suspeitas de abuso de menores, ainda em 2005.

Também nesta quinta-feira, o New York Times noticiou que o senador democrata Ron Wyden reuniu informações sobre transferências bancárias suspeitas envolvendo Epstein, no valor de 1,5 mil milhões de dólares, que poderão ajudar a fazer luz sobre o funcionamento da eventual rede de exploração de menores.

 

(Transcrito do PÚBLICO)

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