A trajetória criminosa do ex-PM que virou líder da máfia dos concursos
Para investigadores, a trajetória de Wanderlan mostra como a experiência adquirida na Polícia Militar foi distorcida para blindar o esquema

Wanderlan Limeira de Sousa, 42 anos, é hoje o nome mais associado ao maior escândalo de fraudes em concursos públicos já investigado pela Polícia Federal. Ex-policial militar, ele deixou para trás a farda, mas não os métodos aprendidos na corporação. Usou seu conhecimento em segurança pública, combinado com uma rede familiar coesa, para estruturar uma organização criminosa que transformou aprovações em certames federais em um negócio milionário.
Wanderlan carrega um currículo criminal extenso. Responde por homicídio, roubo majorado, uso de documento falso, peculato, concussão e abuso de autoridade. Apesar disso, conseguiu ser aprovado em concursos de alto prestígio, como o do Banco do Brasil e o Concurso Nacional Unificado (CNU) de 2024, no qual foi classificado para o cargo de auditor fiscal do trabalho, com salário inicial de mais de R$ 22 mil. Ambos os casos estão agora sob suspeita de fraude.
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Para investigadores, a trajetória de Wanderlan mostra como a experiência adquirida na Polícia Militar foi distorcida para blindar o esquema. Ele era obcecado por reduzir riscos: apagava sistematicamente mensagens de celular após conversas com irmãos e comparsas, numa tentativa de eliminar rastros.
A quadrilha de sangue
O grupo liderado por Wanderlan tinha base quase totalmente familiar. Seus irmãos Valmir Limeira de Souza e Antônio Limeira das Neves, seu filho Wanderson Gabriel de Brito Limeira e a sobrinha Larissa de Oliveira Neves formavam o núcleo duro da quadrilha.
Essa “blindagem de sangue” garantia lealdade, mas também deixou pistas claras. Nos gabaritos do CNU, por exemplo, Wanderlan, Valmir e Larissa acertaram e erraram exatamente as mesmas questões, algo estatisticamente impossível de ocorrer por coincidência.
O filho de Wanderlan, Wanderson Gabriel, também mergulhou no esquema. Em 2024, foi preso na Operação Before, da Polícia Civil da Paraíba, durante fraude no concurso da Polícia Militar do estado. Ele foi flagrado em transações financeiras com Bianca Paskelina Pereira Freire, candidata que tentava trapacear com um ponto eletrônico no ouvido.
A prisão do filho não freou Wanderlan. Pelo contrário, ele continuou atuando e, em interceptações posteriores, aparece discutindo com Valmir estratégias para obstruir a investigação. Numa das conversas, Valmir sugere que toda a culpa seja atribuída a Ygor Thales Morais Félix, traficante assassinado em junho de 2025. “Coloca tudo pra ele”, disse.
Fraudes em série
A Polícia Federal aponta que Wanderlan não atuou apenas no CNU. Há indícios de que ele também fraudou ou planejou fraudes em concursos da Polícia Civil de Pernambuco, Polícia Civil de Alagoas, Universidade Federal da Paraíba, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil.
A PF pediu à Justiça Federal não só a prisão preventiva de Wanderlan, como também o afastamento de qualquer cargo público e a proibição de prestar novos concursos.
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