BBB e a Caixa de Pandora (por Lucio Reiner)

A execrável teocracia iraniana agora dispõe de um belo pretexto para retaliar seus desafetos na região do Golfo Pérsico

Jun 24, 2025 - 11:30
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BBB e a Caixa de Pandora (por Lucio Reiner)

Mais uma vez, o chefão da Casa Branca não resistiu ao brilho dos holofotes. Obcecado por manter-se permanentemente nas manchetes mundiais, decidiu iniciar uma nova guerra. Lançou sua BBB (Big Beautiful Bomb) contra centros de produção de urânio da República Islâmica do Irã, abrindo — sem qualquer delicadeza — a temida Caixa de Pandora do Oriente Médio.

A execrável teocracia iraniana agora dispõe de um belo pretexto para retaliar seus desafetos na região do Golfo Pérsico (ou seja, praticamente todos os países vizinhos), atingir bases americanas, instalações petrolíferas, navios no estreito de Ormuz, e espalhar, urbi et orbi, o terrorismo de seus “mártires”.

Os aiatolás querem a bomba atômica. As “narrativas” sobre fins pacíficos só convencem inocentes úteis ou cínicos bem treinados. Se o programa nuclear é de fato pacífico, por que então as pesquisas e o enriquecimento de urânio são conduzidos em locais secretos, enterrados a 90 metros de profundidade?

Considerando o histórico do regime iraniano — promotor do terrorismo em escala mundial contra os Estados Unidos e Israel em particular, e o Ocidente em geral (vide atentados em Buenos Aires, Tel Aviv, Jerusalém, Boston, entre outros) — é compreensível que não se deseje vê-lo com armas nucleares.

Contudo, mesmo após sucessivos ataques de Israel e agora dos Estados Unidos, o Irã mantém relativa coesão interna, reforçada pela reação tradicional contra agressões externas. Resta-lhe, portanto, o último recurso dos fracos: o terrorismo indiscriminado. Diferente dos mísseis, esse tipo de ataque é quase impossível de conter, podendo ocorrer a qualquer hora, em qualquer lugar, por meio de atentados suicidas.

É previsível uma forte turbulência nos mercados internacionais, crises de abastecimento, medo difuso no Ocidente e, pior ainda, a perda de muitas vidas. E tudo isso com a agravante possibilidade de que todo esse sacrifício de nada sirva — ou seja, que não resulte na substituição da autocracia por um governo democrático.

Alguém sabe onde está a oposição iraniana? Reza Pahlavi, filho do deposto xá, apresenta-se como alternativa, propondo a restauração da monarquia. Exilado desde 1979, é provavelmente um completo desconhecido para a maioria da população atual, aliás, quem o conhece não guarda boas lembranças da ditadura de seu pai. Os candidatos mais viáveis estão no próprio país — dissidentes que buscaram abrir o regime e foram brutalmente reprimidos. Contudo, esses não nutrem simpatia nem pelos Estados Unidos, nem, muito menos, por Israel.

O futuro, portanto, não é promissor. A ditadura teocrática pode persistir ou dar lugar a um caos semelhante ao do Iraque e da Líbia, aumentando ainda mais a instabilidade na região e no mundo. O programa nuclear pode não ser erradicado, considerando a existência de locais secretos espalhados por todo o território iraniano. Mas Mr. Trump poderá vangloriar-se de sua Big Beautiful Bomb — e, no final das contas, é isso que lhe importa. A conta, como sempre, será paga por outros.

 

Bacharel em Relações Internacionais (ScPo Paris). Mestre em Relações Internacionais (UnB). Foi Chefe da Assessoria Internacional e Protocolo do Presidente da Câmara dos Deputados

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