Bolsonaro parou de conversar com Eduardo para obedecer STF, diz defesa
Advogados tinham até às 20h34 para justificar a Moraes o pedido de asilo de Bolsonaro

A defesa de Jair Bolsonaro (PL) informou ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, nesta sexta-feira (22/8), que o ex-presidente deixou de trocar mensagens com o filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), em 17 de julho, dia em que o magistrado lhe impôs medidas cautelares. O motivo: obedecer a decisão.
Uma das restrições definidas por Moraes na ocasião foi justamente vedar a comunicação de Bolsonaro com Eduardo e investigados dos quatro núcleos da trama golpista, além de embaixadas e de autoridades estrangeiras. Outras medidas foram o monitoramento por tornozeleira eletrônica, recolhimento domiciliar, proibição de uso de redes sociais e busca e apreensão pessoal e domiciliar.
“De toda a forma, o que está presente nas trocas e mensagens, ainda que não tenha sido destacado pelo trabalho policial, é que a conversa com Eduardo termina quando Vossa Excelência proíbe o Peticionário de falar com o filho, em mais uma demonstração de obediência às decisões desta C. Suprema Corte”, escreveram os advogados.






Jair e Eduardo Bolsonaro têm perfis na Truth Social, de Donald TrumpIgo Estrela/Metrópoles
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Jair Bolsonaro ofereceu ajuda financeira para Eduardo Bolsonaro (PL-SP) permanecer nos Estados Unidos e articular contra Alexandre de Moraes, apurou a colunaIgo Estrela/Metrópoles
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O deputado federal Eduardo Bolsonaro Igo Estrela/Metrópoles4 de 5
Hugo Barreto/Metrópoles5 de 5
O ex-presidente Jair Bolsonaro no casamento do filho 03, deputado federal Eduardo Bolsonaro, em 2019Reprodução/Twitter
No documento encaminhado a Moraes, a defesa de Bolsonaro também negou a existência de um “plano de fuga”, que teria sido evidenciado a partir do rascunho de um pedido de asilo político à Argentina, encontrado pela Polícia Federal (PF) no celular dele. O ex-presidente afirma ser perseguido no Brasil “por motivos e por delitos essencialmente políticos”.
“De início, devo dizer que sou, em meu país de origem, perseguido por motivos e por delitos essencialmente políticos. No âmbito de tal perseguição, recentemente, fui alvo de diversas medidas cautelares. Para decretação de tais medidas foram mencionados os delitos dos Arts. 359-I e 359-M do Código Penal brasileiro”, escreveu Bolsonaro na carta.
O relator do inquérito do golpe de Estado havia dado 48 horas para que a defesa explicasse o conteúdo das mensagens obtidas pela PF. O prazo, que terminava às 20h34 desta sexta, foi cumprido.
As mensagens de Eduardo e Bolsonaro
Eduardo se licenciou da Câmara dos Deputados no fim de fevereiro para ir aos Estados Unidos, onde permanece até hoje, articular medidas contra o Brasil. A primeira delas foi a sanção contra Moraes, a partir da Lei Magnitsky, em 30 de julho. Como a coluna mostrou na quarta-feira (20/8), mensagens obtidas pela PF mostram que parlamentar sabia dessa decisão da Casa Branca duas semanas antes.
“Se você disser algo sobre EUA que não se encaixar com o que estamos fazendo aqui, pode enterrar algumas ações”, escreveu Eduardo Bolsonaro. “[A Lei] Magnitsky no Moraes está muito, muito próxima”, frisou Eduardo, também denunciado, em 15 de junho em conversa com o pai.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também aplicou um “tarifaço” de 50% a produtos importados do Brasil a partir de 6 de agosto. O republicano, no entanto, abriu quase 700 exceções, levando a medida a ser apelidada de “tarifaço light”.
Ainda nas mensagens obtidas pela PF, Eduardo escreveu ao pai que precisavam escolher entre uma “anistia light” para os manifestantes dos atos antidemocráticos do 8 de janeiro e “brecar o STF”, alvo dos bolsonaristas. A conversa se deu em 7 de julho, dia em que Trump anunciou que o “tarifaço” passaria a valer a partir de 1º de agosto, data que acabou adiada.
A coluna mostrou que o objetivo do filho 03, segundo a corporação, era fazer com que o pai ficasse impune – e não defender a liberdade daqueles que participaram dos atos de 8 de janeiro. A anistia, portanto, acabou sacrificada em troca de ajuda dos Estados Unidos.
“Se a anistia light passar, a última ajuda vinda dos EUA terá sido o post do Trump. Eles não irão mais ajudar. […] Temos que decidir entre ajudar o Brasil, brecar o STF e resgatar a democracia OU enviar o pessoal que esteve num protesto que evoluiu para uma baderna para casa num semiaberto”, escreveu Eduardo.

Para a PF, Eduardo teve uma “ação consciente e voluntária” junto a autoridades norte-americanas para coagir ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), responsáveis por julgá-los.
“Ainda no dia 07.07.2025, no período da noite, EDUARDO BOLSONARO envia mensagens ao pai evidenciando que a real intenção dos investigados não seria uma anistia para os condenados pelos atos golpistas realizados no dia 08 de janeiro de 2022, mas sim, interesses pessoais, no sentido de obter uma condição de impunidade de JAIR BOLSONARO na ação penal em curso por tentativa de golpe de Estado e Abolição Violenta do Estado Democrático de Direito, mediante ações de grave ameaça para coagir e restringir exercício da Suprema Corte brasileira”, escreveu a PF.
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