Cheira ruim ou faz muito barulho? O que seu pum revela sobre sua saúde

Apesar de causar nojo na grande maioria das pessoas, é normal e esperado que todas elas produzam e eliminem gases diariamente. O coloproctologista Danilo Munhoz explica que, em média, uma pessoa saudável libera gases cerca de 10 a 20 vezes por dia.

“Esse número pode variar de indivíduo para indivíduo – algumas pessoas soltam menos gases, outras um pouco mais, sem que isso represente, por si só, um problema de saúde”, comenta o médico.

Ele acrescenta que muitas dessas flatulências, dos cerca de 0,5 a 1,5 litro de gases que cada pessoa produz por dia, costumam acontecer de forma imperceptível.

O que não é comum nos gases e pode indicar problemas de saúde, segundo o médico

• Flatulências barulhentas

Embora possa ser motivo de constrangimento, puns muito altos não indicam, necessariamente, um problema de saúde. O coloproctologista explica que o volume da flatulência varia conforme fatores mecânicos, como a quantidade de gás liberada de uma vez, a velocidade de expulsão e a tensão muscular do esfíncter anal.

“Quando o pum sai com muito som, geralmente é porque houve acúmulo de um volume maior de gases ou a pessoa consumiu algo que gerou mais pressão e rapidez na saída do gás”, explica.

A boa notícia, de acordo com o médico, é que, nesses casos, as flatulências não têm odor forte, pois são formados principalmente por dióxido de carbono, hidrogênio e metano e contêm pouco enxofre, componente responsável pelo mau cheiro.

• Cheiro intenso e muito ruim

O odor pode variar bastante e, diferentemente do barulho, pode trazer pistas sobre o que está acontecendo no intestino. Em geral, flatulências muito fedidas estão associadas à presença de compostos sulfurados, como o enxofre, no gás. O consumo de alimentos com muita proteína costuma ter esse efeito.

A digestão de carnes vermelhas, ovos e alguns laticínios não é completa no intestino delgado. Elas chegam ao intestino grosso e são fermentadas por bactérias, produzindo gases com enxofre, que tem mau cheiro.

Por outro lado, Danilo esclarece que diferentes tipos de alimento produzem odores distintos. Carboidratos fermentáveis, como feijão, repolho, cebola e brócolis, também causam gases em abundância, mas costumam gerar um cheiro mais suave ou menos marcante, justamente por não produzirem tanto enxofre.

Gorduras em excesso e um desequilíbrio na microbiota intestinal são outros fatoes que podem alterar o cheiro do pum. Se a flora intestinal está alterada, como ocorre em casos de disbiose, pode ocorrer a proliferação de bactérias produtoras de compostos malcheirosos.

Embora seja, na maioria das vezes, consequência da alimentação, em alguns casos o cheiro ruim e persistente pode sinalizar problemas de saúde. Entre eles, intolerâncias alimentares, Síndrome do Intestino Irritável e infecções ou desequilíbrios específicos. “Flatulências com cheiro de ovo podre persistentemente podem indicar infecção pela bactéria H. pylori no estômago, que produz sulfeto de hidrogênio”, exemplifica o médico.

Ele menciona ainda a disbiose intestinal, um desequilíbrio da microbiota, por uso de antibióticos ou dieta inadequada, por exemplo, que pode resultar em mais compostos fétidos. O estresse constante pode causar inflamações

• Ausência completa de flatulências

Não é comum, uma vez que todos produzimos gases como um processo natural do trato digestivo e intestinal. Segundo Danilo, essa ausência pode indicar desequilíbrios na dieta ou flora intestinal. Uma dieta muito pobre em fibras ou com poucos alimentos fermentáveis reduz a produção de gás e pode criar um desequilíbrio na flora intestinal, reduzindo a fermentação que gera gases.

Também pode indicar problemas mais sérios, como obstrução intestinal ou constipação severa. A ausência de flatulência associada à falta de evacuação e outros sintomas, como dor intensa, distensão abdominal, vômitos, pode indicar um bloqueio no intestino.

“Uma obstrução intestinal impede a passagem tanto das fezes quanto dos gases e é uma emergência médica. Nesses casos, além de não soltar nenhum pum, o paciente costuma apresentar cólicas abdominais fortes e distensão”, explica o médico, que atua na clínica DuoProcto.

• Excesso de gases

Em geral, considera-se excesso quando a flatulência vem acompanhada de sintomas incômodos, como distensão abdominal, dores e odor muito forte, ou quando ultrapassa significativamente o padrão normal. “Por exemplo, soltar mais de 20 puns por dia de forma frequente, especialmente se houver cheiro intenso, dor ou inchaço, é motivo para investigação” acrescenta Danilo.

As principais causas para o excesso de gases incluem uma dieta rica em alimentos fermentáveis; e o consumo de muitos carboidratos difíceis de digerir, como fibras em leguminosas, repolho, batata-doce, açúcar em excesso, laticínios ou adoçantes artificiais.

“Esses alimentos não são totalmente absorvidos no intestino delgado e acabam fermentados por bactérias no intestino grosso, gerando mais gás. Engolir muito ar ao comer rápido, mascar chiclete ou beber refrigerantes pode contribuir para mais gases”.

O problema também pode ser um sinal de intolerância à lactose, intolerância ao glúten e outras síndromes de má absorção. “Nesses casos, o excesso de flatulência vem associado a outros sintomas, como diarreia crônica, perda de peso ou desconforto abdominal”, comenta o médico.

As flatulências constantes também podem indicar distúrbios funcionais ou infecciosos, infecções gastrointestinais ou supercrescimento de bactérias no intestino delgado.

“Vale destacar que soltar muitos gases nem sempre significa doença. É preciso avaliar o contexto. Se a pessoa mudou a alimentação recentemente ou está tomando algum medicamento, pode haver aumento temporário de gases”.