Chinês morto admitiu renda mensal de R$ 100 mil com pedras preciosas
O microempresário chinês Su Jingwei disse à Justiça, em 2017, que trabalhava de forma autônoma e informal com a venda de pedras preciosas
O microempresário chinês Su Jingwei, morto aos 35 anos de idade na madrugada do último sábado (15/11) no bairro da Liberdade, na região central de São Paulo, ganhava cerca de R$ 100 mil por mês com a venda de joias e pedras preciosas. A renda foi informada por ele próprio à Justiça em 2017.
Na ocasião, o imigrante havia sido denunciado pela então companheira por violência doméstica e ameaça. Quando os policiais chegaram ao imóvel do casal, no bairro de Perdizes, na zona oeste da capital paulista, encontraram um revólver calibre 22, 17 munições íntegras e um silenciador.
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Su JingweyReprodução
Documento de Su Jingwei apresentado à Justiça
Arma calibre 22 e munições apreendidas com Jingwei em 2017
Documento de Su Jingwei apresentado à Justiça
Sem documentação e sem porte de arma, Jingwei foi preso em flagrante, em 31 de julho de 2017. Em audiência de custódia, ele afirmou trabalhar de forma autônoma e informal com a venda de pedras preciosas, o que lhe rendia o montante de R$ 100 mil mensais.
O microempresário contou ainda que usava a arma, que tinha sido presente de um cliente, para se proteger, pois tinha medo da atenção que o seu trabalho poderia atrair. Posteriormente, uma testemunha reforçou a versão à Justiça.
O judiciário requereu um ofício à Receita Federal para que a renda fosse apurada, mas não houve manifestação do órgão fiscalizador nos processos em que Jingwei configura como réu.
Jingwei foi solto logo após esta audiência, após um dia preso, ao pagar uma fiança no valor de R$ 5 mil. Enquanto esteve detido, ele também informou às autoridades que era usuário de álcool e metanfetamina.
Violência doméstica, ameaça e porte ilegal de arma
Em 31 de julho de 2017, Jingwei foi denunciado por ameaça e violência doméstica pela então companheira, uma mulher brasileira com quem tinha uma filha de 15 dias de idade na data.
Segundo o relato da mulher à polícia, desde que engravidou, ela passou a ser humilhada por Jingwei. As ofensas evoluíram para agressões físicas, com tapas na cara, chutes, apertos nos braços e cabeçadas no nariz da vítima. Ele também teria a ameaçado de morte.
Ao ver que Jingwei tinha uma arma, a mulher sentiu medo e acionou a polícia. Os agentes foram até o imóvel do casal, no bairro de Perdizes, e encontraram uma pistola calibre 22 com 17 munições íntegras e um silenciador. O microempresário não possuía porte e registro da arma. Por isso, foi preso em flagrante. À época, informou aos agentes que trabalhava com o comércio de pedras preciosas e que era usuário de álcool e metanfetamina.
No dia seguinte à prisão, ele foi solto, após a Justiça estipular o valor de R$ 5 mil de fiança em audiência de custódia, montante que foi pago dentro de duas horas. Ao ser feito o pagamento, foi expedido e cumprido o alvará de soltura.
Com a liberdade provisória, Jingwei foi submetido a medidas cautelares, como afastamento do lar e apresentação de novo comprovante de endereço. Ele também ficou impedido de se aproximar da então companheira e contatá-la por qualquer meio, além de ser obrigado a comparecer a todos os atos do processo e não se mudar sem comunicar a Justiça.
Em dezembro de 2019, o empresário foi condenado em primeiro grau a dois anos de prisão em regime aberto, substituível por duas penas restritivas de direito. E, em 9 de agosto de 2021, a sentença foi aumentada, em segundo grau, para três anos de reclusão, também em regime aberto com a substituição por penas restritivas de direitos.
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Fora do radar da Justiça
Jingwei deveria então cumprir a prestação de serviços à comunidade pelo mesmo prazo da pena, além de pagar um salário mínimo a uma entidade social. O empresário, no entanto, nunca cumpriu suas obrigações com o judiciário.
Em outubro de 2022, um Oficial de Justiça constatou que o paradeiro do empresário era desconhecido há aproximadamente cinco anos. Desde então, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) impetrou ao menos dois pedidos pela prisão preventiva do réu.
No último andamento do processo, em 30 de setembro deste ano, antes da morte de Jingwei, o juízo determinou que o condenado fosse intimado por edital, com prazo de 30 dias para resposta da defesa, para só então um pedido de prisão ser expedido.
O prazo da intimação se iniciou em 13 de outubro e se encerrou nesta semana, em que Jingwei foi morto.
A reportagem procurou a defesa do empresário nesta ação penal e não obteve retorno. O espaço segue aberto.
Devendo mais de R$ 300 mil a uma maternidade
Enquanto estava “desaparecido” para a 5ª Vara das Execuções Criminais, Jingwei respondia a outra ação no TJSP. Neste processo, ele deu à Justiça um endereço na rua Frei Caneca, na região da Avenida Paulista, como seu imóvel residencial.
Ele foi condenado pouco antes de ser assassinado, em 3 de outubro deste ano, junto de outra mulher brasileira, pelo não pagamento de custas hospitalares do Hospital e Maternidade Santa Joana, localizado no bairro da Liberdade.
O hospital acionou a Justiça com uma ação de cobrança em janeiro de 2023 contra a dupla exigindo o pagamento de mais de R$ 300 mil pelos custos de um parto e da internação da mãe do bebê e de um recém-nascido.
De acordo com os autos, Jingwei e a mulher procuraram o pronto atendimento do hospital em 11 de setembro de 2021.
A instituição, que é privada e não é conveniada ao Sistema Único de Saúde (SUS), internou a mulher após o chinês assinar o contrato de prestação de serviços médicos e hospitalares, assumindo a responsabilidade pelo pagamento da conta médica.
A mulher deu à luz no mesmo dia em que foi internada. Ela recebeu alta em 13 de setembro e a criança somente em 12 de outubro daquele ano. A conta do hospital ficou em R$ 237.076,64 – valor que foi corrigido para R$ 318.583,76 com a atualização monetária.
O hospital nunca conseguiu localizar Jingwei ou a mulher, e a ação cível correu sem qualquer manifestação da dupla.
Após quase três anos de andamento do processo, a 29ª Vara Cível do TJSP condenou os dois à revelia – quando o réu não apresenta defesa e se presume a veracidade dos fatos alegados.
Eles foram sentenciados ao pagamento integral da dívida, além das despesas processuais e dos honorários advocatícios.
Os autos não especificam se o bebê nascido na maternidade é filho de Jingwei. O Metrópoles tentou contato com a mulher sentenciada junto com o empresário chinês, sem sucesso.
Morto a tiros no centro de São Paulo
Jingwei foi morto a tiros aos 35 anos de idade na rua Senador Felício dos Santos, no bairro da Liberdade, no centro de São Paulo, na madrugada do último sábado (15/11). Uma câmera de segurança registrou o homicídio. Veja:
As imagens mostram Jingwei sendo perseguido e morto ao ser atingido com três tiros pelas costas. Quando o socorro chegou, constatou a morte da vítima ainda no local.
Nenhum pertence do empresário foi levado, o que indica a possibilidade de que tenha ocorrido uma execução, e não um assalto.
O Metrópoles mostrou anteriormente, no especial Tentáculos da Máfia Chinesa, que a região central de São Paulo é marcada pelos crimes de extorsão e homicídio contra imigrantes sinos, principalmente empresários. Os algozes costumam ser conterrâneos das vítimas.
De acordo com o boletim de ocorrência, o suspeito de efetuar os disparos ainda não foi identificado.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirma que o celular de Jingwei foi apreendido. Tanto a perícia quanto o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) foram acionados para acompanhar o caso. “Diligências estão em andamento visando o total esclarecimento dos fatos”, informou a pasta.
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