Congresso, assembleias e câmaras alienados (Eduardo Fernandez Silva)
Nossos legislativos e outros poderes, nos vários níveis desta desequilibrada Federação, se desconectaram completamente da população

Há muitos anos nossos legislativos e outros poderes, nos vários níveis desta desequilibrada Federação, se desconectaram completamente da população, se é que alguma vez já representaram, de fato, o interesse da maioria.
Informação recente (FSP, 13/08/25) mostra que políticos e juízes federais ganham cerca de 22 vezes o salário médio da população. Isso, sem considerar os penduricalhos, o cartão corporativo e outras fontes de renda desses dirigentes. Entre estas, o cash back das emendas, como atestam as frequentes descobertas das polícias sobre esquemas de roubo do dinheiro do contribuinte com “retorno”, aos parlamentares, do dinheiro das emendas, ou da venda de sentenças.
Há muitas outras evidências, mas basta essa informação para constatar a completa desconexão entre eleitores e eleitos, assim como entre as partes em ações judiciais e juízes. Afinal, como pode alguém que ganha, em um mês, muito mais do que a maioria ganha em dois anos, conhecer os problemas e as prioridades destes?
Nos parlamentos, a proporção de réus em ações penais é várias vezes mais elevada que entre a população total; o patrimônio desses dirigentes também supera, e muito, o da população; o seu nível educacional é bem mais elevado, embora isso não garanta que o conhecimento também o seja. Nossos legislativos e judiciários são, pois, corpos estranhos ao conjunto da população. Isso, a tal ponto que um tribunal superior recém decidiu gastar o nosso dinheiro construindo uma sala VIP num aeroporto para que seus membros não sejam importunados por pessoas tidas inconvenientes. E, lembrem-se, a maioria dos brasileiros não frequenta aeroportos, excluídos que são dessa modalidade de transporte!
A alienação de políticos e magistrados com relação à realidade da maioria se evidencia, ainda, por outros fatores: acabada uma eleição e apurados os votos, a principal conversa entre políticos é como tal escrutínio impactará suas chances no próximo pleito, enquanto o grosso dos brasileiros se pergunta se alguma promessa dos então candidatos será, de fato cumprida.
Outra evidência: a política nacional dos mais variados assuntos, tornada lei dez, quinze ou mais anos atrás, trouxe de fato os resultados esperados? Raros são os exemplos que merecem uma firme resposta afirmativa. Por importantes que sejam as leis Maria da Penha, dos Resíduos Sólidos, o Código Florestal, a lei das Águas e tantas outras, elas estão longe de alcançar seus objetivos! Um pouquinho aqui, outro quase nada ali, no geral a violência contra a mulher continua vergonhosa, o lixo se espalha em ruas, rios, campos, mares, escolas e onde mais, as florestas seguem desaparecendo, os rios secando, a dependência digital cresce!
E nossos “dirigentes”, que fazem, além de viajar e dizer que aprovaram leis em benefício da população?
A radicalidade das mudanças de que necessitamos para possibilitar boa qualidade de vida aos brasileiros/as exige abertura mental, criatividade e experimentação de inovações que a alienação dos dirigentes inviabiliza. Tristes trópicos?
Eduardo Fernandez Silva. Ex-Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados
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