Desenho de orixás: parlamentares acionam MPSP após PM entrar em escola

Conforme revelado pelo Metrópoles, policiais foram chamados após pai de aluna se incomodar com atividade inspirada em livro sobre orixás

Nov 18, 2025 - 18:30
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Desenho de orixás: parlamentares acionam MPSP após PM entrar em escola

A deputada federal Sâmia Bomfim (PSol) pediu que o Ministério Público de São Paulo (MPSP) investigue o caso dos policiais que entraram armados em uma escola da zona oeste de São Paulo após uma atividade sobre orixás. Conforme revelado pelo Metrópoles, os agentes foram acionados pelo pai de uma aluna de 4 anos após ele se incomodar com um desenho da orixá Iansã feito pela filha. Ele também é da corporação. 6 imagensDesenho da orixá Iansã que motivou pai de aluna de escola infantil de São Paulo a chamar a políciaDesenhos de alunos do EMEI Antônio Bento, em São Paulo, em atividade intitulada "Ciranda de Aruanda"Capa do livro "Ciranda em Aruanda", de Liu Olivina, publicado pela Editora Quatro CantosNo livro, a autora traz desenhos e informações sobre dez orixásLiu Olivina, autora de livro que inspirou atividade denunciada à PMFechar modal.1 de 6

Desenhos que alunos do EMEI Antônio Bento, em São Paulo, fizeram em atividade sobre religiões de matriz africanaMaterial cedido ao Metrópoles2 de 6

Desenho da orixá Iansã que motivou pai de aluna de escola infantil de São Paulo a chamar a políciaMaterial cedido ao Metrópoles3 de 6

Desenhos de alunos do EMEI Antônio Bento, em São Paulo, em atividade intitulada "Ciranda de Aruanda"Material cedido ao Metrópoles4 de 6

Capa do livro "Ciranda em Aruanda", de Liu Olivina, publicado pela Editora Quatro CantosReprodução/Liu Olivina/Editora Quatro Cantos5 de 6

No livro, a autora traz desenhos e informações sobre dez orixásReprodução/Liu Olivina/Editora Quatro Cantos6 de 6

Liu Olivina, autora de livro que inspirou atividade denunciada à PMAcervo Pessoal

O documento enviado ao MPSP cita trechos da reportagem e argumenta que a conduta dos policiais e do pai da aluna configura racismo religioso e abuso de poder.

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A solicitação é assinada por Sâmia Bomfim em colaboração com a deputada estadual Mônica Seixas e a vereadora Luana Alves, ambas do PSol. Elas pedem, além da investigação, que o Ministério Público solicite a identificação dos agentes para a Secretaria de Segurança Pública (SSP), além de uma cópia da gravação das câmeras corporais dos policiais e do circuito interno da escola.

Pai acionou a PM após filha de 4 anos desenhar orixá

Quatro policiais militares armados entraram na Escola Municipal de Ensino Infantil (Emei) Antônio Bento, no Caxingui, zona oeste de São Paulo, após o pai de uma aluna de 4 anos se incomodar com o conteúdo de uma atividade sobre orixás. Um dos agentes portava uma metralhadora.

O homem acionou a Polícia Militar (PM) depois de descobrir que a filha fez um desenho da orixá Iansã. No dia anterior ao ocorrido, ele já havia demonstrado insatisfação com o conteúdo escolar, baseado no currículo antirracista da rede municipal de ensino, e chegou a rasgar um mural com desenhos das crianças que estava exposto na escola, segundo a mãe de um estudante.

Depois do episódio, a direção do colégio indicou que o homem participasse, na quarta-feira, da reunião do Conselho da Escola, prevista para acontecer às 15h. Ele não compareceu ao encontro, mas chamou a PM.

Atividade sobre Orixás

  • O desenho fazia parte de uma atividade com o livro infantil Ciranda Em Aruanda, da autora Liu Olivina, que está no acervo oficial da rede municipal de São Paulo.
  • A obra, publicada pela Editora Quatro Cantos, traz ilustrações de 10 orixás e apresenta, em textos curtos, as características das divindades.
  • Oxóssi, por exemplo, é retratado como “o grande guardião da floresta”.
  • A direção da Emei citou as leis nº 10.639/03 e nº 11.645/08, que tornam obrigatório em todo o território nacional o ensino de história e cultura afro-brasileira, e afirmou que a atividade não tinha caráter doutrinário.
  • As crianças teriam apenas ouvido a história do livro e fizeram um desenho na sequência.
  • Ciranda Em Aruanda recebeu o selo Altamente Recomendável da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) e de Acervo Informativo de Qualidade da Cátedra UNESCO de Leitura – PUC – Rio.

Os policiais, que não fazem parte da ronda escolar, foram até a escola por volta das 16h. Eles teriam dito para a direção da instituição que a atividade escolar configurava “ensino religioso” e destacaram que a criança estava sendo obrigada a ter acesso ao conteúdo de uma religião que não é a da família dela. A abordagem foi considerada hostil por testemunhas.

Segundo uma mãe, que preferiu não ser identificada, os policiais demonstraram “abuso de poder, assustando crianças e funcionários” enquanto estiveram na escola. A situação também teria feito com que a diretora passasse mal.

Os PMs permaneceram dentro da Emei por pouco mais de uma hora. “Foi preciso que um grupo de pais fosse conversar com eles para irem embora”, relatou a mulher. A ação foi gravada pela câmera corporal de um dos agentes e pelo sistema de segurança da escola.

Autora de livro classifica ação como “absurda”

Em entrevista ao Metrópoles, Liu Olivina lamentou a atitude do pai. “Fiquei muito triste. Pensei nas artes que foram destruídas pelo pai e nos educadores da escola. Mas o que mais me pegou foi a criança que ele reprimiu, porque isso gera traumas. Ela fez uma arte e isso fez o pai dela chamar a polícia. É muito absurdo”, afirmou.

“Vi o desenho da criança e gostaria de falar para ela que está muito lindo, ela usou cores muito bonitas e Iansã deve estar muito feliz pelo desenho. Também gostaria de dizer que ela não precisa ter medo dos orixás. Mesmo que ela não seja da religião, eles estão aí, é para se encantar com eles. Mas as pessoas, com preconceito e racismo religioso, fazem com que esse encanto seja apagado pelo medo.”

Nas redes sociais, a Editora Quatro Cantos compartilhou a reportagem do Metrópoles e afirmou que seguirá “publicando livros de autores e ilustradores negros e continuará acreditando num futuro em que o racismo, inclusive o religioso, não faça mais parte de nossa sociedade”.

O que diz a SSP

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmou que, ao atender a ocorrência, os policiais conversaram com as partes – pai e diretora da instituição de ensino.

“Ambos foram orientados a registrar boletim de ocorrência, caso julgassem necessário. A Corregedoria da PM está à disposição para apurar eventuais denúncias sobre a conduta policial”, disse a pasta.

A SSP acrescentou, ainda, que o uso do armamento, que inclui metralhadora, faz parte do Equipamento de Proteção Individual (EPI) dos policiais e é portado durante todo o turno de serviço.

Prefeitura diz que pai foi orientado sobre atividade

Já a Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Educação (SME), informou que o pai da estudante recebeu esclarecimentos de que o trabalho apresentado pela filha integra uma produção coletiva do grupo.

“A atividade faz parte de propostas pedagógicas da escola, que tornam obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena dentro do Currículo da Cidade de São Paulo”, reforçou a gestão municipal.

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