Documentos revelam que ex-delegado-geral estava na mira do PCC
G1 O Fantástico deste domingo (21) trouxe novos detalhes da investigação sobre a morte do ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, assassinado em uma emboscada em Praia Grande, onde atuava como secretário de Administração desde 2023. A reportagem revelou, com exclusividade, documentos que mostram que Ruy estava na mira do Primeiro Comando da Capital (PCC). Histórico de […]


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O Fantástico deste domingo (21) trouxe novos detalhes da investigação sobre a morte do ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, assassinado em uma emboscada em Praia Grande, onde atuava como secretário de Administração desde 2023. A reportagem revelou, com exclusividade, documentos que mostram que Ruy estava na mira do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Histórico de combate ao crime organizado e ameaças
Ruy ingressou na Polícia Civil de São Paulo nos anos 1980 e se destacou no combate ao PCC. Em 1999, foi o responsável pela prisão de Marcos Willian Camacho, o Marcola, que viria a se tornar o principal líder da facção. Em maio de 2006, Ruy esteve à frente das investigações de uma onda de ataques do PCC em São Paulo.
Em 2019, logo após assumir o cargo de delegado-geral — o mais alto da Polícia Civil de São Paulo—, comandou a transferência de 22 líderes do PCC para presídios federais de segurança máxima. Meses depois, a polícia prendeu o grupo conhecido como “Bonde dos 14”. Em audiência sobre o caso, o próprio Ruy revelou que seu nome estava em uma lista de alvos dos criminosos.
Relatório secreto e ordens de dentro da prisão
Ruy ficou no cargo de delegado-geral até 2022 e se aposentou em 2023, mas deixar a polícia não o afastou das ameaças.
O Fantástico teve acesso a um relatório de 2024, chamado “Bate Bola”, que detalhava planos de atentados contra autoridades. As ordens saíam de dentro dos presídios.
“O que eu quero deixar bem claro que não saíram bilhetes ou cartas da Penitenciária Federal. O que saíram de lá foram ordens verbais codificadas através de advogados, através de familiares, não só de presos da cúpula, mas de outros presos que conviviam com a cúpula na mesma unidade prisional”, afirmou o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Ministério Público de SP .
O item 16 do relatório falava de perseguição a Gakiya e Ruy Fontes.
“Ele me disse: ‘Doutor Lincoln, o senhor está mais tranquilo porque está muito bem protegido pela sua escolta. Eu, como aposentado, não tenho esse direito’”, relatou o promotor.
Em entrevista a um podcast do jornal O Globo em parceria com a rádio CBN, Ruy também demonstrou preocupação:
“Eu vivo sozinho aqui na Praia Grande, que é o meio deles. Se eu fosse um policial da ativa, teria estrutura para me proteger. Hoje, não tenho nenhuma.”
Segundo o governo de São Paulo, Ruy não chegou a pedir proteção. A legislação atual não prevê escolta para policiais aposentados. Ele também não usava carro blindado no momento do crime.
Prisões e investigações em andamento
Até o momento, quatro pessoas foram presas suspeitas de envolvimento no assassinato:
- Dahesly Oliveira Pires – teria transportado um dos fuzis usados no crime.
- Luiz Henrique Santos Batista, o “Fofão” – suspeito de ajudar na fuga.
- Rafael Dias Simões – se entregou à polícia e é apontado como participante direto.
- Willian Marques – dono da casa usada como base, também se entregou.
Outros três suspeitos estão foragidos: Flávio Henrique de Souza, Felipe Avelino da Silva (Mascherano) e Luiz Antônio Rodrigues Miranda, que teria ordenado a busca pela arma.
A defesa de Willian Marques, dono da casa de Praia Grande, disse que foi surpreendida com a decretação da prisão dele e reafirma a disposição de colaborar com as investigações. Já o advogado de Rafael Dias Simões negou a participação do cliente no assassinato.
A reportagem não conseguiu contato com os advogados de Dahesly Oliveira Pires e Luiz Henrique Santos Batista.
Os investigadores seguem em busca dos foragidos e da motivação do crime.
“A gente não descarta as possibilidades. Se a execução foi motivada pelo combate ao crime organizado durante toda a carreira do delegado ou por conta de uma atuação atual como secretário municipal em Praia Grande. Mas que há participação do crime organizado para não nos restam dúvidas”, afirmou o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite.
“Mesmo que o crime tenha sido cometido por outros atores, dificilmente teria ocorrido sem a anuência do PCC”, completou o promotor Lincoln Gakiya.
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Infográfico: ex-delegado-geral de SP é assassinado no litoral sul — Foto: Arte/g1
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