Economia circular é uma forte geradora de emprego e renda no mundo
Para especialista, grande desafio a ser vencido no Brasil está na conquista de “corações e mentes” da sociedade para uma mudança de hábitos
                                “Ainda não caiu a ficha no Brasil sobre o potencial da economia circular. E a Europa já viu isso em 2013.” A frase do engenheiro e professor universitário Flávio de Miranda Ribeiro, doutor em ciências ambientais, resume a perspectiva do caminho, na visão dele, que o país precisa trilhar nessa área, tanto no que tange a geração de emprego e renda como propriamente a preservação do meio ambiente.
Para ele, que é embaixador do Movimento Circular e consultor das Nações Unidas para economia circular no Brasil, quando se trata desse tópico é preciso antes de tudo desmistificar o termo.
“A economia circular é um conjunto de estratégias que todos nós já conhecemos muito bem, para que os recursos retirados da natureza permaneçam mais tempo em uso, com mais valor e mais utilidade para a sociedade”, resume.
“Na prática, a reciclagem trata disso, as políticas de reuso e de materiais retornáveis e até mesmo os brechós, por exemplo, que hoje tem até um setor de luxo forte. É uma política contra a sociedade do descartável”, explica Ribeiro.
Ao citar o exemplo europeu datado de mais de uma década, ele relembra que o ponto de virada no Velho Mundo foi em uma edição do Fórum Econômico de Davos, na Suíça, no auge da discussão sobre as saídas para a crise de empregos que então assolava os países da Europa.
Na ocasião, conta o professor, as estratégias do que hoje é conhecido como economia circular passaram a ser vistas como uma política indutora da geração de emprego e renda. O recolhimento e tratamento de resíduos, conserto de materiais e outros pontos passaram a ser política de Estado.
“A maior parte dos países desenvolvidos e muitos em desenvolvimento, bem como empresas de grande e médio porte, hoje já contam com políticas e ações a respeito da economia circular. A economia circular é um forte gerador de emprego e renda”, destaca o especialista.
Para ele, o grande desafio a ser vencido está na conquista de “corações e mentes”, no que depende da mudança de hábitos da sociedade, atualmente centrada e condicionada a um estilo de vida e de consumo que privilegia o uso de descartáveis, bem como a obsolescência programada da maioria dos bens duráveis disponíveis no mercado.
“Temos que discutir uma situação entre a sedução do novo e o apego ao que dure. E isso só é possível de se fazer a partir de uma educação ambiental transformadora e crítica”, pontua o autor de “Economia Circular – uma nova visão de negócios”, primeira obra didática sobre o assunto no Brasil.
Em maio de 2025, o Governo Federal lançou o Plano Nacional de Economia Circular, resultado do Fórum Nacional instituído no ano anterior. O plano tem 18 objetivos e 71 ações a serem tomadas dentro dos próximos dez anos. E nesse momento, a Câmara dos Deputados debate o projeto de lei que trata da Política Nacional de Economia Circular.
O professor Flávio de Miranda Ribeiro acredita que as medidas são benéficas para o posicionamento do Brasil no incentivo à economia circular, mas por si só ainda não são garantia.
“Vejo com bons olhos essas iniciativas, porque apontam para uma política de desenvolvimento realmente. O Governo Federal está bem intencionado, as medidas claramente são avanços, temos também a promessa de que a economia circular será incorporada às políticas climáticas”, comemora.
What's Your Reaction?