Entenda por que Gaviões abandonou Augusto em votação de impeachment

Principal torcida organizada do Corinthians, a Gaviões da Fiel ajudou na eleição de Augusto Melo para presidente, mas retirou apoio

May 26, 2025 - 23:30
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Entenda por que Gaviões abandonou Augusto em votação de impeachment

Augusto Melo, presidente afastado do Corinthians, fez um discurso aceitando a derrota na votação do impeachment que aconteceu na noite desta segunda-feira (26/5), na sede do clube social, zona leste de São Paulo. No discurso, o dirigente pediu desculpas à torcida e pediu para que os torcedores cobrem a gestão futura do mesmo jeito que lhe cobraram.

Muito desta cobrança veio da principal torcida organizada do Corinthians: a Gaviões da Fiel. A agremiação ajudou a eleger de Augusto Melo como presidente do clube, no final de 2023, mas retirou o apoio ao dirigente à medida que surgiam as denúncias contra o presidente.

Fim do apoio

A primeira vez em que a agremiação se posicionou de forma explícita contra a mandato de Augusto Melo foi no dia 5 de maio, quando a torcida apresentou três pontos para justificar a não oposição ao impeachment, ocorrido nesta segunda-feira (26/5).

Segundo a torcida, Augusto Melo repetiu erros de gestões anteriores, “como problemas recorrentes na base e nomeações com viés político”, o que, ainda conforme a Gaviões, mostrava a falta de aprendizado e compromisso com o clube.

Além disso, na época do comunicado, a torcida acreditava que a gestão estava em desmanche, com alto rodízio de cargos importantes e retorno de figuras “antes opositoras”, o que também levantou dúvidas na agremiação quanto aos “reais interesses por trás dessas movimentações”.

Por último, a organizada questionou a falta de transparência e de resposta aos questionamentos feitos pelo conselho do clube em reuniões realizadas no início do mês.

Dois dias depois, no dia 9 de maio, a torcida reafirmou seu posicionamento:

“Na última eleição, o Gaviões apoiou oficialmente o presidente Augusto Melo por acreditar que era hora de mudança. No entanto, isso não significa que apoiamos toda e qualquer decisão administrativa da atual gestão. Seguiremos firmes na cobrança por responsabilidade, transparência e respeito ao Corinthians.”

Tudo caminhou para a agremiação emitir, na última sexta-feira (23/5), uma nota pedindo explicitamente o afastamento de Augusto Melo da presidência do Corinthians. Segundo a torcida organizada, a medida se fez necessária “para preservar a imagem do Corinthians, que deve estar sempre acima de qualquer interesse pessoal, e evitar que os problemas que hoje recaem sobre o presidente impactem ainda mais o clube, que já enfrenta uma grave crise administrativa, financeira e institucional.”

Caminho do rompimento

Apesar de ter se posicionado contra dois processos de impeachment contra Augusto Melo, sempre pedindo que o Conselho Deliberativo do Corinthians apresentasse provas contra possíveis irregularidades, a primeira vez que a Gaviões aparentou ter perdido a paciência com Augusto Melo foi no dia 23 de abril, quando a agremiação pediu explicações do dirigente sobre a investigação policial em respeito ao caso Vai de Bet.

Na ocasião, a torcida já citou uma possível renúncia, mas ainda questionando uma eventual saída de Augusto da diretoria. “Como ficaríamos se lá na frente for comprovada uma inocência na justiça? Moralmente, é renúncia e ponto final? Que situação, meus caros corintianos…”, diz a nota do final de abril. 8 imagensO presidente do Corinthians, Augusto MelloDefesa de Augusto Melo entrou com HC horas antes de votação de impeachment.Conselho Deliberativo do clube aguarda fim das investigações.Dorival Jr estreou como técnico do Corinthians em 30 de abril, na vitória por 1–0 contra o Novorizontino pela Copa do Brasil.Impeachment de Augusto Melo será votado nesta segunda-feira (26/5)Fechar modal.1 de 8

Principal organizada do Corinthians pediu afastamento do dirigente.Agência Corinthians/Rodrigo Coca2 de 8

O presidente do Corinthians, Augusto MelloReprodução3 de 8

Defesa de Augusto Melo entrou com HC horas antes de votação de impeachment.Rodrigo Coca/Agência Corinthians4 de 8

Conselho Deliberativo do clube aguarda fim das investigações.Ricardo Moreira/Getty Images5 de 8

Dorival Jr estreou como técnico do Corinthians em 30 de abril, na vitória por 1–0 contra o Novorizontino pela Copa do Brasil.Sipa US / Alamy Stock Photo6 de 8

Impeachment de Augusto Melo será votado nesta segunda-feira (26/5)Reprodução 7 de 8

Memphis teve pênalti defendido por WalterReprodução8 de 8

No entanto, o jogador se recupera de uma lesão no tornozeloAndré Ricardo/Sports Press Photo/Getty Images

Menos de uma semana depois, no dia 29 de abril, a Gaviões da Fiel emitiu uma nota dizendo que havia acompanhado uma reunião do Conselho Deliberativo do Corinthians e que depois desse encontro teria ficado “claro – tanto para situação quanto oposição – que há problemas graves na condução da gestão do presidente Augusto Melo “.

Ainda no posicionamento da época, a torcida exigiu que o presidente viesse a público “com urgência, assumir suas responsabilidades com transparência. O tempo das desculpas e discursos vazios acabou”.

Na nota, a Gaviões cobrou informações sobre o aumento da dívida, sobre o déficit financeiro do clube, sobre divergências contábeis em órgãos do Corinthians e pediu a exposição dos critérios usados na contratação de prestadores de serviços. Nesta ocasião, o Conselho Deliberativo já recomendava o afastamento de Augusto Melo da presidência do clube alvinegro.

Discurso de despedida

Pouco antes da votação, Augusto Melo fez um discurso assumindo a derrota antes da votação do impeachment. Na fala, ele ressaltou os feitos alcançados na gestão, principalmente na questão financeira, falou que sairá do cargo de cabeça erguida e pediu desculpas ao torcedor corintiano.

Em razão do teor de despedida da cadeira de presidente durante o discurso, houve um questionamento da imprensa, presente no Parque São Jorge, sobre a possibilidade de renúncia — interpretação rapidamente negada por Augusto.

“Não, não é renúncia. Ao contrário, eu não vou participar dessa palhaçada, porque a gente sabe tudo que está funcionando lá dentro, a gente sabe que lá tem a maioria. Não estou renunciando. Tem muita briga ainda, porque já que eles brigaram para me tirar daqui, eu vou brigar para continuar aqui”.

Indiciamento

Além de Augusto Melo, outras três pessoas foram indiciadas pelos crimes de associação criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro: dois ex-dirigentes do Corinthians, Marcelo Mariano e Sérgio Moura; e o responsável por intermediar a negociação, Alex Cassundé.

As autoridades apontaram no relatório policial uma série de contradições nos depoimentos dos envolvidos, especialmente no relato de Cassundé sobre a suposta intermediação do contrato da Vai de Bet com o Corinthians. Segundo o inquérito, a polícia tem certeza que essa negociação não foi intermediada por Cassundé, mas sim por outras três pessoas: Antônío Pereira dos Santos (conhecido como Toninho), Sandro dos Santos Ribeiro e Washinston de Araújo e Silva.

Cassundé conta em depoimento que tudo começou quando Sérgio Moura entrou em contato com ele no final de dezembro de 2023, pedindo para que procurasse patrocínio para o time feminino do Corinthians, visto que a chapa de Augusto Melo havia vencido a eleição para a presidência do clube e precisava começar a trabalhar nas questões do ano seguinte.

O intermediário, então, pesquisou em conversas com um amigo, buscas na internet e na inteligência artificial sobre como ter contatos, visto que ele não atuava na área de intermediação. Assim, ele teve a ideia de ir atrás da Vai de Bet, empresa de apostas que não figurava em nenhum patrocínio grande envolvendo clubes de futebol. Cassundé conta que achou um telefone fixo da empresa e começou o contato com um representante, chegando a elaborar uma proposta.

A informação sobre ter achado um telefone fixo da empresa já havia surpreendido a polícia, pois as autoridades estavam procurando um contato da empresa há muito tempo e, em todo esse período, os agentes encontraram apenas um e-mail de suporte.

Ainda segundo a sequência do depoimento, Cassundé então avisa Sérgio sobre o possível patrocínio. Sérgio, por sua vez, pede para que o homem fosse ao Parque São Jorge conversar sobre o assunto com Marcelo Mariano. A polícia diz que a história muda de versão a cada depoimento. Em um deles, os três (Marcelo, Sergio e Cassundé) estavam nesse encontro. Já em outros somente, dois dos três homens e, na versão de Augusto, o mandatário também estava presente: “Augusto se colocou no episódio”.

Apesar das diversas versões desse suposto encontro, a polícia acredita que Cassundé nunca esteve no Parque São Jorge durante o final de 2023. Para os investigadores, todos os depoimentos foram mentirosos. A conclusão das investigações possível a partir dos sinais do GPS do celular do indiciado no período.

Além das contradições neste primeiro encontro, as investigações também apontam algumas incongruências na cronologia da negociação e nas datas de eventos importantes, como as da assinatura do contrato. Neste aspecto, Augusto Melo afirmou na coletiva da última sexta que foi o último a assinar o documento que firmava o patrocínio e só o fez a partir da aprovação dos seus auxiliares jurídicos.

Os verdadeiros intermediadores

  • A Polícia Civil ouviu em depoimento os três apontados como os verdadeiros intermediadores. A versão trabalhada como a mais provável na intermediação do contrato entre Vai de Bet e Corinthians começa quando Toninho recebeu a missão de um dos diretores da empresa de apostas de conseguir contato com o clube alvinegro.
  • Ele então entrou em contato com o amigo Washington, esse sim com contatos dentro do clube. Uma reunião foi marcada no final de dezembro de 2023, época em que o contrato foi firmado. Sandro Ribeiro também participou dessa negociação.
  • Apesar da participação dos três, na hora de fechar contrato, Toninho disse que foi passado para trás pelo Corinthians. O clube afirmou que já havia cadastrado uma empresa para intermediar essa negociação. A empresa era a Rede Social Media Design. O dono? André Cassundé.
  • “Note-se que, com isso, o inquérito aparentava desvendar o porquê a versão especialmente de Alex [Cassundé] havia sido tão desconexa da realidade. Simples, não fora ele o intermediário”, diz o relatório policial
  • Na coletiva de imprensa realizada na sexta-feira (23/5), Augusto Melo negou saber da atuação de intermediários no contrato. Ele explicou que ouviu falar do Alex Cassundé – peça central no relatório policial e apontado como um dos pivôs do esquema criminoso – pela primeira vez ao usar um estúdio da agência dele para gravar com alguns influenciadores de blogs segmentados.
  • Na negociação com a Vai de Bet, contou que conversou com Marcelo Mariano – outro indiciado no esquema – no final de dezembro de 2023, nas alamedas do Parque São Jorge, visto que, por não estar empossado, não tinha uma sala fixa ainda. Nesta conversa, Marcelo falou de Cassundé e sobre um encontro com o presidente da empresa de apostas, que estaria em São Paulo naquela época.
  • A partir deste momento, Augusto afirmou que deixou a negociação sobre a responsabilidade de Marcelo e só ficou sabendo de outro intermediário depois. O contrato foi assinado no início de janeiro.

Transferência para o PCC

Um relatório da Polícia Civil anterior já havia indicado que parte da comissão paga pelo Corinthians à empresa que intermediou o patrocínio da Vai de Bet, no valor de R$ 1.074.150, foi transferida para a conta bancária de uma empresa ligada ao Primeiro Comando da Capital (PCC).

Após uma sequência de operações, a investigação identificou que o dinheiro recebido pela intermediadora foi parar nas contas da empresa UJ Football Talent, apontada pela investigação como um dos braços do PCC no futebol. Cassundé nega conhecimento dessas movimentações.

A relação da empresa com a facção foi descrita em delação premiada de Antonio Vinícius Gritzbach, que foi assassinado a tiros no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, em novembro passado. Segundo o delator, o empresário de futebol Danilo Lima de Oliveira, conhecido como Tripa, tem participação na UJ Football Talent — ele é tratado pela polícia como suspeito de lavar dinheiro do PCC.

De acordo com o inquérito, o Corinthians foi a vítima de um esquema que desviou dinheiro do clube.

“Parece-nos nítido, destarte, que aqueles que deram causa ao desvio de dinheiro dos cofres do Sport Club Corinthians Paulista se utilizaram das tradicionais estratégias de lavagem de dinheiro para, não só introduzir os valores no sistema financeiro e distanciar o capital ilícito da sua origem, visando, assim, evitar uma associação direta com a infração antecedente” escreveu o delegado Tiago Correia, responsável pelo caso.

Agora com o indiciamento dos envolvidos, a polícia acredita que o dinheiro foi repassado à UJ Football Talent “possivelmente para fazer frente a contraprestações e compromissos pendentes da direção [do clube]”.

“Não se trata de coincidência, muito menos de mero acaso, o dinheiro ter saído das contas de um renomado clube brasileiro para ser abocanhado por uma afamada agência de assessoria esportiva”.

À época do relatório policial, o Corinthians se manifestou em nota oficial. “O Sport Club Corinthians Paulista informa que, até o momento, não há qualquer demonstração de autoria relacionada aos fatos mencionados. O presidente do clube reafirma seu total apoio às investigações em andamento, bem como a todas as iniciativas que visem apurar eventuais envolvimentos do crime organizado no futebol brasileiro”, diz o texto.

O clube afirma ser vítima das movimentações investigadas e que “não possui controle sobre o que terceiros fazem com valores recebidos em decorrência de contratos firmados”.

Na época do relatório, a empresa Lion Soccer Sports, da qual Danilo Lima de Oliveira é sócio, afirma que ele “nunca integrou, sob qualquer forma, o quadro societário ou de gestão da empresa UJ Football”. O comunicado também diz que o empresário “não possui qualquer envolvimento com os fatos sob investigação, tampouco figura como parte no processo”, além de não conhecer “os elementos que compõem o referido caso”.

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