Esquerda se inspira em eleito em NY contra progressismo “envergonhado”
Eleição de Zohran Mamdani, socialista a favor do passe livre, foi comemorada por nomes da esquerda que vão de Gleisi a Erika Hilton
A eleição do socialista e muçulmano Zohran Mamdani como prefeito de Nova York virou inspiração para nomes mais jovens da esquerda brasileira que criticam o abandono de bandeiras importantes com acenos ao centro e à governabilidade.
Mamdani prega o passe livre no transporte público, congelamento de aluguéis e taxação dos ricos. Em seu primeiro discurso, ainda desafiou Donald Trump.
A deputada federal Erika Hilton (PSol), por exemplo, compartilhou um textão em suas redes exaltando as características do novo prefeito novaiorquino, que demonstrou na campanha estar bem à esquerda em seu partido. A parlamentar lembrou as bandeiras que, em muitos casos, lembram as de candidatos de seu partido e fez referência às concessões eleitorais da esquerda.
“Pros grandes “analistas” que dizem que, pra esquerda vencer, ela precisa deixar de ser esquerda: Mamdani não apenas venceu dizendo tudo isso, como venceu dizendo que tudo isso vai ser financiado taxando as grandes fortunas, e sem medo de sair em foto com pessoas trans, de defender o aborto legal público e gratuito ou de denunciar, num debate televisionado, os casos de assédio sexual e violência de gênero de seu adversário, Andrew Cuomo”, escreveu a parlamentar, que é cotada para disputar o governo paulista.
Glauber Braga (PSol), que assim como ela é um dos nomes cotados para disputar o Executivo estadual — no caso dele, o do Rio de Janeiro —, também usou o exemplo de Mamdani como inspiração. Ele postou a foto do novo prefeito novaiorquino com a seguinte legenda: “Rio de Janeiro, bora construir o impossível?”.
No PSol, as comemorações foram generalizadas. No PT, a ministra de Relações Institucionais do governo Lula, Gleisi Hoffmann, também à esquerda da ala mais pragmática do partido, celebrou a eleição do político socialista Zohran Mamdani para a Prefeitura de Nova York.
“A eleição de Zohran Mamdani coloca um socialista, filho de imigrantes e defensor da causa palestina na Prefeitura de Nova York. É uma forte mensagem de rejeição às políticas de extrema-direita de Donald Trump, por parte dos eleitores da maior cidade dos Estados Unidos. É também um sinal de esperança para as forças que defendem a paz e a democracia em todo o mundo”, escreveu a ministra nas redes sociais.
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O democrata Zohran Mamdani foi eleito prefeito de Nova York na terça-feira (4/11) Stephanie Keith/Getty Images
Zohran MamdaniStephani Spindel/VIEWpress
Democrata Zohran Mamdani leva primárias e é candidato a prefeito de NYRoy Rochlin/Getty Images
Zohran MamdaniAndrew Lichtenstein/Corbis via Getty Images
Zohran MamdaniAndrew Lichtenstein/Corbis via Getty Images
Eleito simbólico
O cientista político Marco Antonio Teixeira, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), vê um efeito simbólico que anima a esquerda brasileira.
“Do ponto de vista simbólico, foi uma relação contra o Trump, com o Trump fazendo todo esforço para inviabilizar o candidato. E o discurso dele em relação ao Trump foi bastante duro”, diz.
“Sem dúvida nenhuma, inspira a esquerda brasileira até por conta da trajetória. E era um político que não era político, que estava na linha de frente, e ele tem dentro dele aquilo que o trumpismo rejeita: muçulmano, é do partido democrata, tem um discurso contra o desmonte da política de estado”, disse.
Teixeira alerta, porém, que a eleição brasileira terá características diferentes do quadro norte-americano atual, onde se diferenciar de Trump é um ativo para a esquerda. “No Brasil o contexto é outro, o presidente da República é Lula.”
Quem é Mamdani
Mamdani, de 34 anos, nasceu em Kampala, Uganda, é filho de mãe indiana e de pai ugandês. Cresceu na Cidade do Cabo, na África do Sul, e mudou-se para Nova York aos 7 anos. Ele cresceu no Queens e tornou-se fluente em seis idiomas.
Mamdani frequentou a prestigiada Bronx High School of Science e graduou-se em artes pelo Bowdoin College. É filho de Mahmood Mamdani, professor da Universidade de Columbia, e de Mira Nair, cineasta indiana com trabalhos reconhecidos, como nas obras Mississippi Masala e Monsoon Wedding.
Antes de ingressar na política, teve experiência como artista de hip-hop e conselheiro habitacional, mas sua carreira ganhou destaque em 2020, ao se eleger deputado estadual pelo Partido Democrata.
Diferentemente de outros democratas tradicionais, Mamdani faz parte da ala considerada de esquerda do partido, e é filiado aos Socialistas Democráticos da América.
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Carismático e próximo de influenciadores digitais, Mamdani conquistou atenção rápida, derrotando o ex-governador Andrew Cuomo nas primárias democratas com 56% dos votos. Ele fez uma campanha bem-sucedida nas primárias, com foco na produção constante de vídeos para redes sociais, com conteúdos sobre o alto custo de vida em NY, os problemas de moradia e transporte e a falta de creches públicas.
Como Mamdani fala seis idiomas, um dos diferenciais da campanha foi a produção de vídeos em diversas línguas, como bengali, espanhol e árabe. Vale lembrar que Nova York é a cidade com mais imigrantes nos Estados Unidos, com cerca de 5,69 milhões de pessoas na região metropolitana.
Desde então, a candidatura dele ganhou repercussão dentro e fora dos Estados Unidos, sendo comparada, em termos de estilo de campanha, à ascensão de Donald Trump em 2016 — embora com propostas à esquerda.
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