Estudo: brinquedos do Brasil têm altos níveis de substâncias tóxicas
Estudo brasileiro encontrou brinquedos que ultrapassam o limite permitido de bário, chumbo, crômio e antimônio, um risco para as crianças

Pesquisadores brasileiros identificaram que brinquedos plásticos comercializados no Brasil contêm níveis preocupantes de substâncias tóxicas. Ao todo, foram analisados 70 produtos fabricados no país, além de importados.
O estudo é o mais abrangente já feito no Brasil sobre toxicidade de produtos voltados para crianças. A pesquisa é fruto de uma parceria da Universidade de São Paulo (USP) com a Universidade Federal de Alfenas (Unifal), em Minas Gerais. Os resultados foram publicados em agosto na revista científica Exposure and Health.
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A equipe detectou que a maioria dos brinquedos não estava adequada às normas de segurança do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e da União Europeia.
Quase metade das amostras (44,3%) ultrapassou o limite permitido de bário, tendo concentrações até 15 vezes superiores à regulamentada. Exposições ao elemento químico podem provocar condições cardiovasculares e neurológicas, como arritmias cardíacas e paralisias.
Níveis altos de chumbo, crômio e antimônio também foram detectados. Eles estavam 32%, 24,3% e 20% acima do permitido, respectivamente.
O chumbo pode provocar problemas neurológicos irreversíveis nas crianças, lapsos de memória e diminuição do coeficiente de inteligência (Q.I.). Já o crômio pode estimular o desenvolvimento de câncer, enquanto o antimônio eleva o risco de danos gastrointestinais.
“Esses dados revelam um cenário preocupante de contaminação múltipla e falta de controle. Sugerimos medidas mais rígidas de fiscalização, como análises laboratoriais regulares, rastreabilidade dos produtos e certificações mais exigentes, especialmente para itens importados”, afirma o autor principal do estudo, Bruno Alves Rocha, da Unifal, à agência Fapesp.
Seleção dos brinquedos e testes
Para analisar os riscos às crianças de diferentes faixas econômicas, os pesquisadores adquiriram brinquedos em lojas populares e shoppings de Ribeirão Preto (SP). Rocha explica que, além de escolher brinquedos indicados para crianças de 0 a 12 anos, foram selecionados aqueles que eram mais fáceis de levar à boca, ação comum entre os pequenos e que eleva o risco de exposição a substâncias tóxicas.
A espectrometria de massa com plasma indutivamente acoplado (ICP-MS) foi a técnica escolhida para detectar metais e não metais nos produtos. Também foi usado o método de digestão ácida assistida por micro-ondas, que permitiu aos pesquisadores simular a liberação dos elementos químicos quando expostos à saliva das crianças.
Crianças podem ser expostas a substâncias tóxicas ao colocar brinquedos na boca
Ao todo, foram encontrados 21 substâncias com potencial tóxico: prata (Ag), alumínio (Al), arsênio (As), bário (Ba), berílio (Be), cádmio (Cd), cério (Ce), cobalto (Co), cromo (Cr), cobre (Cu), mercúrio (Hg), lantânio (La), manganês (Mn), níquel (Ni), chumbo (Pb), rubídio (Rb), antimônio (Sb), selênio (Se), tálio (Tl), urânio (U) e zinco (Zn).
Os testes de digestão ácida revelaram que a exposição a substâncias tóxicas varia de acordo com o tempo que a criança brinca com o objeto ou o deixa na boca. Por outro lado, as taxas de liberação das substâncias através do contato com o suco gástrico variaram entre 0,11% e 7,33%. Segundo Rocha, as porcentagens indicam que apenas uma pequena quantidade tóxica entra em contato com a saliva.
“Embora seja um aspecto positivo, o achado não elimina as preocupações de segurança, especialmente considerando as altas concentrações totais detectadas em muitas amostras”, afirma Rocha.
Cor bege
Ao examinar a cadeia de produção, os cientistas buscavam identificar como acontecia a contaminação dos brinquedos. Segundo Rocha, foram encontradas correlações entre níquel, cobalto e manganês, sugerindo origem comum na fabricação.
“Brinquedos de cor bege apresentaram concentrações mais altas de metais, possivelmente ligadas ao fornecedor da tinta, uma pista relevante para futuras ações de fiscalização”, ressalta o pesquisador.
Estudos anteriores já haviam indicado que a presença de alguns compostos em brinquedos, como bisfenóis, parabenos e ftalatos, poderiam afetar o sistema hormonal das crianças. “Esse não é o primeiro estudo com resultados tão alarmantes, o que só reforça a necessidade de ações urgentes para proteger a saúde das crianças”, finaliza Rocha.
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