Ex que matou ativista trans em BH tem prisão convertida em preventiva
Durante audiência, suspeito afirmou que é dependente químico e sofre de transtorno de ansiedade. Ativista foi morta na segunda-feira (20/10)
Matheus Henrique Santos Rodrigues, de 24 anos, suspeito de matar e espancar a ex-namorada em uma rua da região de Venda Nova, em Belo Horizonte (MG), teve a prisão em flagrante convertida em preventiva após audiência de custódia realizada nesta quarta-feira (22/10).
A vítima, identificada como Christina Maciel Oliveira, de 45 anos, era agente de educação popular em saúde, com atuação voltada para o cuidado e a inclusão de pessoas trans e travestis. Ela foi agredida e morta pelo ex-companheiro após uma discussão na Rua Padre Pinto, na tarde de segunda-feira (20/10). O crime foi registrado por câmeras de segurança.
Segundo o juiz Leonardo Damasceno, da Secretaria de Audiência e Custódia (Seac), a conversão foi necessária devido à periculosidade do agressor, ao histórico criminal dele e pela extrema gravidade do crime.
Durante a audiência, o juiz afirmou que as imagens das câmeras de segurança mostraram pelo menos nove chutes na cabeça da ativista trans, conforme exibido na audiência de custódia. Ele também enfatizou que a mulher foi atacada em via pública, sob a justificativa de que o relacionamento havia terminado.
“A motivação decorrente da não aceitação do término do relacionamento, que se amolda ao contexto de feminicídio, denota menosprezo pela vida da mulher e sentimento de posse, o que eleva, sobremaneira, a reprovabilidade da conduta”, disse Damasceno.
Na audiência, Matheus afirmou que é dependente químico e sofre de transtorno de ansiedade e nervosismo.
O crime
A ativista pelos direitos da população LBGT+ foi agredida por Matheus após uma discussão. Segundo o boletim de ocorrência, testemunhas contaram que os dois começaram a discutir no meio da rua, quando o agressor passou a golpear Christina com socos. Após ela ter caído na calçada, Matheus continuou o ataque e deu vários chutes na cabeça dela.
No registro, consta que o casal discutia frequentemente. De acordo com a Polícia Militar do Estado de Minas Gerais (PCMG), Matheus contou que Christina o informou que queria encerrar o relacionamento e pediu que ele deixasse a casa onde moravam.
Matheus disse que não concordava com a separação. Após isto, ambos discutiram e ele deu início às agressões. Testemunhas que estavam na rua acionaram o Serviço Móvel de Atendimento de Urgência (Samu), mas Christina não resistiu aos ferimentos e morreu no local.
O suspeito permaneceu na cena do crime até a chegada da PMMG e foi levado à delegacia. Conforme a corporação, Matheus já tinha passagens pela polícia por roubo, furto, tráfico e consumo de drogas, dano, lesão corporal e ameaça, além de ter medida protetiva solicitada por outra mulher. O caso é investigado pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) como feminicídio.
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Quem era a vítima?
Christina era reconhecida como mobilizadora social e agente de educação popular em saúde, com atuação em projetos voltados para o cuidado e a inclusão de pessoas trans e travestis.
Mulher preta e periférica, ela era considerada uma referência comunitária pela atuação em causas sociais e pelo acolhimento a outras mulheres trans. A deputada federal Duda Salabert (PDT-MG) era colega da vítima e lamentou o assassinato.
“Ontem, após eu publicar um vídeo de uma trans assassinada em BH, descubro tragicamente que essa trans era Cris. As imagens são traumáticas, virulentas, violentas. Dizem os jornalistas que ela foi morta em espaço público pelo ex-companheiro que não aceitou o fim do relacionamento. “Transfeminicídio”, escreveu Duda Salabert nas redes sociais.
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O corpo dela foi enterrado nesta terça-feira (21/10) no Cemitério Belo Vale, em Santa Luzia, na Grande Belo Horizonte.
Por meio de nota, o Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável (Insea), uma das entidades ativistas às quais Christiane era ligada, lamentou a morte. “Ela era muito amada, tinha sonhos e inspirou muitas pessoas que precisavam dela. É doloroso perder alguém que fez tanto por quem mais precisava. Sua morte não pode ser tratada como mais uma estatística: é resultado direto da negligência social e institucional diante da vida e da dignidade de pessoas trans”, diz o texto publicado nas redes sociais.
O Metrópoles não conseguiu localizar a defesa do suspeito, e o espaço permanece aberto para manifestação. A reportagem também entrou em contato com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp-MG) e aguarda retorno.
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