“Modelo Daher”: entenda cobranças do proprietário aos anestesistas

Após expor áudios entre o médico José Carlos Daher e os anestesistas, a coluna detalha as supostas propostas e valores impostos

Jun 26, 2025 - 02:30
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“Modelo Daher”: entenda cobranças do proprietário aos anestesistas

Aporte financeiro e recolhimento de percentuais sobre os valores faturados pelos profissionais de anestesiologia. Médicos denunciam que, com a justificativa de um futuro rentável e promissor, José Carlos Daher, proprietário da rede de hospitais Daher, teria cobrado cerca de R$ 20 milhões para que os especialistas continuassem atendendo em sua unidade de saúde.

Áudios obtidos pela coluna, com exclusividade, revelados em reportagem veiculada nessa quarta-feira (25/6), expuseram propostas impositivas de Daher aos anestesistas. “Ou vocês compram ou eu vou ter que pagar alguém que tenha interesse em comprar”, sentenciou o médico e empresário em uma das reuniões feitas para tratar do negócio.

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Segundo o grupo de anestesistas, Daher teria deixado claro, em mais de uma oportunidade, que para trabalhar em seu hospital seria exigido um “aporte financeiro” por parte dos médicos. Quem não adotasse o “modelo”, teria de sair.

Os relatos apontam para valores em torno de R$ 500 mil por profissional, além de percentual sobre o faturamento total de cada médico anestesiologista que ali trabalhasse.

“Trabalha aqui até quitar o contrato”

Em pelo menos três reuniões realizadas em meados de 2023 para tratar do assunto, o médico amplamente conhecido na capital federal tentou vender seu modelo como um investimento irrecusável, ainda que o grupo sinalizasse a impossibilidade de arcar com os valores impostos.

“É um investimento dentro de uma organização hospitalar que tem 40 anos de idade; que tem o respeito da comunidade, isso tem que ser analisado dessa maneira”, argumentou Daher em uma das conversas.

Apesar da tentativa de convencer, em dado momento do diálogo, Daher teve como resposta do grupo que a quantia estabelecida chegava a ser “fantasiosa” para eles.

Como resposta, ele sugeriu que os jovens procurassem alternativas paralelas, como a entrega de imóveis e ajuda financeira aos pais.

“Não tem dinheiro? Tá bom. Você vai entrar e vai trabalhar, mas como vai me pagar? “ah, o meu pai me dá tanto, eu tenho um apartamento acolá, eu vou dar x por cento do que estou ganhando por mês, vou deixar aqui até quitar esse contrato que vamos fazer””, sugeriu.

Ouça:

Daher ainda defende que, abraçando seu projeto, o grupo estará segurando o espaço para eles. “Trabalha baratinho no começo porque depois vai ser dono de uma cota que vale tantos milhões, que é como vai ser daqui dois anos”, induziu.

Proposta para financiar reforma

Apesar da aparente boa-fé, os médicos alegam que, por trás da proposta, a intenção de Daher seria, na verdade, financiar a expansão das salas cirúrgicas do hospital.

A defesa dos anestesistas denuncia o médico pela cobrança e afirma que o dinheiro seria aplicado na ampliação da estrutura física do hospital.

Segundo os médicos e seus advogados, Daher havia comentado, pouco tempo antes de apresentar a proposta, que o hospital havia crescido e com isso, naturalmente, teria havido um significativo aumento da demanda.

Ele teria decidido, então, que aumentaria o número de salas do seu centro cirúrgico de seis para 12. O anúncio de Daher de que os profissionais precisariam arcar com “contribuições” veio logo após o veredito de que as salas seriam ampliadas.

De acordo com a defesa, na versão apresentada por Daher, os médicos anestesistas usavam aquele hospital e não pagavam nada por isso, por isso a contribuição seria justa.

Na versão da defesa, no “modelo do Daher”, o grupo de anestesia vinculado à unidade deveria pagar uma percentagem do faturamento das anestesias ao Hospital Daher, bem como uma ‘cota’ de admissão para poder atuar no Daher — o que dava direito ao grupo de trabalhar por 60 meses na unidade.

Os advogados alegam que após decidir que não cabia a eles o investimento de ampliação do centro cirúrgico, a equipe de anestesistas agregada à CAB teve seu contrato de prestação de serviços rescindido.

O teor foi apresentado aos investigadores e integra o processo que apura  a existência de um suposto cartel na prestação de serviços de anestesia no DF.

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