Morte de influenciador coloca plataformas na mira do governo francês

Investigadores assistirão mais de 300 horas de gravações da fatídica transmissão para tentar compreender as circunstâncias do suposto crime

Agosto 23, 2025 - 01:00
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Morte de influenciador coloca plataformas na mira do governo francês

A morte de um influenciador francês na segunda-feira (18/8), durante uma transmissão em tempo real, chocou a França. Raphael Graven, 46 anos, morreu durante um streaming que tinha previsão de durar doze dias. Enquanto o caso é investigado, o governo francês debate medidas para melhorar o controle de conteúdos e práticas nessas plataformas.

“Ops, algo deu errado”: essa é a mensagem exibida nesta sexta-feira (22) na plataforma de streaming Kick quando o canal de Jean Pormanove – também chamado de JP – é procurado. Esse era o pseudônimo usado pelo francês neste site de transmissões em tempo real que exibiu, entre tantas humilhações e violências impostas por outros influenciadores, sua própria morte.

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Após ter bloqueado no início da semana os polêmicos vídeos em que JP aparece sendo alvo de agressões físicas e psicológicas pelos gamers Narutovie e Safine, a Kick voltou a liberar o acesso ao material na quinta-feira (21/8). A justificativa fornecida pela direção da plataforma foi o desejo de colaborar com as investigações as autoridades francesas. No entanto, o site foi acusado de querer tirar proveito da popularidade que alcançou com a morte do influenciador.

Ameaçada pela Autoridade de Regulação da Comunicação Audiovisual e Digital da França (Arcom) de ter seu funcionamento proibido no país, a plataforma voltou atrás em sua decisão nesta tarde. Enquanto isso, investigadores têm a missão de assistir a mais de 300 horas de gravações da fatídica transmissão para tentar compreender as circunstâncias da morte de JP.

Dupla investigação

O canal “Jeanpormanove” na plataforma Kick é alvo de uma dupla investigação do Ministério Público de Nice, no sul da França. A primeira teve início em dezembro após a publicação de uma reportagem do site francês de notícias Mediapart, e a outra foi aberta após a morte de JP.

O influenciador entrou no universo dos streamings de jogos online há cinco anos, fazendo transmissões na plataforma americana Twitch. Com reações exageradas e teatrais, ele se tornou famoso na comunidade de gamers. Com outros três streamers de um grupo chamado Le Lokal, JP passou a fazer lives na Kick, devido às regras mais brandas, um controle menor das performances e uma remuneração maior do que em outras plataformas.

Com o objetivo de provocar reações exageradas em JP, dois influenciadores do grupo, Narutovie e Safine, começaram a agredi-lo, e observaram os pagamentos dos seguidores aumentarem com as violências, que iam de humilhações e xingamentos a socos, chutes, estrangulamentos e sufocamentos. Segundo a imprensa francesa, o próprio JP faturava por mês até € 6 mil (cerca de R$ 38 mil).

Morte ao vivo

Em agosto, o grupo Le Lokal anunciou o desafio de realizar um streaming de 12 dias, sem interrupção, de uma casa alugada no sul da França. Durante a transmissão, JP era frequentemente espancado e chegou a receber choques elétricos de uma coleira instalada em seu pescoço.

No segundo dia, o influenciador comentou com os colegas que não estava passando bem e que precisaria ir a um hospital, mas foi impedido. JP também enviou uma mensagem para a mãe dizendo ter sido sido “sequestrado” por “um conceito de merda”.

Na madrugada do décimo dia do streaming, o grupo estava dormindo diante das câmeras quando seguidores começaram a alertá-los do comportamento incomum de JP, pálido e imóvel durante horas. Um dos gamers chegou a atirar uma garrafa de água na cabeça do influenciador, que não reagiu. A live foi subitamente interrompida e a polícia foi acionada, confirmando a morte de JP.

Resultado da autópsia

Os primeiros exames, realizados pelo Instituto Médico Legal de Nice, foram revelados na noite de quinta-feira (21), e apontaram que o corpo do JP não apresenta “lesões traumáticas”. O laudo afirma que as prováveis causas da morte “parecem ser de natureza médica ou toxicológica”.

O jornal Le Monde obteve informações com uma fonte próxima às investigações que diz que o trabalho se concentra agora em saber se outros elementos ligados ao streaming poderiam ter ocasionado a morte do influenciador. As escassas horas de sono podem ter resultado em uma crise cardíaca, ou o consumo de produtos tóxicos – incentivado pelos seguidores da transmissão – pode ter envenenado JP.

Por meio de advogados, os gamers que agrediam JP alegam que tudo se tratava de uma encenação e que a vítima consentia participar do que chamam de “brincadeiras”. No entanto, a irmã do influenciador, classifica sua morte de “intolerável” e acredita que JP tenha morrido “de exaustão”.

A ministra francesa da Inteligência Artificial e do Digital, Clara Chappaz, classificou o caso de “horror absoluto” e acionou a Arcom, o mais alto órgão de supervisão de mídias na França e a Plataforma Pública de Alerta a Conteúdos Ilícitos na Internet. A ministra também exigiu explicações sobre as falhas de moderação na plataforma Kick, evocando a possibilidade de interdição da plataforma.

O governo francês estuda a possibilidade de um maior controle dos streamings, prevendo uma possível penalização dos usuários que incentivarem violências nas transmissões. Já o presidente Emmanuel Macron defende a proibição das redes sociais para os menores de 15 anos.

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