Moschino mira em referência artística, mas acerta em estigma de gênero
Em coleção inspirada em movimento artístico italiano, a grife Moschino apresentou bolsas em formatos inusitados, entre eles, uma panela

A Moschino manteve sua tradicional abordagem irônica na coleção de primavera/verão 2026, desfilada recentemente no Milão Fashion Week. Intitulado Niente (“nada”, em tradução livre), o compilado apresenta bolsas inspiradas em objetos comuns que carregam uma construção visual simbólica. Esse mesmo detalhe, por outro lado, pode ter tocado em um ponto polêmico: estigmas relacionados aos papéis de gênero.
Vem saber mais!
Modelo desfila com panela em desfile da Moschino na coleção de primavera/verão 2026
Conceito artístico por trás do desfile
Adrian Appiolaza, diretor criativo da grife, teve como inspiração o movimento Arte Povera, corrente artística italiana que marcou o fim da década de 1960 e questionava o valor comercial da arte por meio de itens corriqueiros do dia a dia. Entre baldes de areia e tijolos, a grife investiu em aleatoriedades.
Uma bandeja de tomate foi uma das bolsas do desfile
Jornais foram um dos itens transformados em bolsa
Dessa forma, a coleção transformou a silhueta de materiais não tradicionais e até mesmo “humildes” em arte, conectando o público ao cotidiano. Mas o que chama atenção é quantidade de itens domésticos presentes na coleção.
Colocar uma panela na mão das modelos mulheres pode não ter sido uma boa aposta
Panelas e mulheres
Com as panelas, o conceito artístico abriu margem para um recorte semiótico controverso. Em tese, bolsas em forma de panela ou bandejas de tomates, como alguns dos modelos vistos na passarela, conversam com a provocação sobre o que é considerado um objeto de valor na moda.
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Em contrapartida, ao colocar mulheres para carregar itens domésticos em uma passarela, sem levar em conta a história mais antiga que esse combo carrega, a Moschino reforça estigmas relacionados aos papéis de gênero.
Apesar da investida no conceito artístico, a marca pecou por deixar de levar em conta os estigmas dos papéis de gênero
Modelo desfila com uma bolsa que imita um tijolo
Adrian Appiolaza desfila na passarela do desfile da Moschino durante o desfile em Milão
Clichê com roupagem de inovação artística
A marca reafirmou seu DNA provocador mas, desta vez, talvez tenha escorregado mais para o clichê do que para a subversão. Afinal de contas, o desfile é da coleção feminina e está sendo apresentada por modelos mulheres.
Talvez esse não fosse o foco da coleção. Entretanto, se a moda, que se relaciona intrinsecamente com a arte, não se “lembra” das questões relacionadas aos papéis de gênero e demais vícios sociais, onde está a inovação? Os itens domésticos até poderiam ser mantidos: em um crítica ainda mais à frente de seu tempo, talvez as panelas pudessem ser vistas nas mãos de modelos do gênero masculino.
Confira abaixo os demais cliques da coleção apresentada no Milão Fashion Week, pela Moschino:
6 imagens
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O conceito artístico do desfile foi inspirado no movimento Arte PoveraDaniele Venturelli/WireImage via Getty Images2 de 6
A coleção carregava o lema de reutilizar, reciclar e reimaginarFerda Demir/Getty Images3 de 6
Uma modelo desfila na passarela do desfile da Moschino com bolsa em diferentes estampas Daniele Venturelli/WireImage via Getty Images4 de 6
Até mesmo nas saias, a marca manteve o ideal de reutilizaçãoEstrop/Getty Images5 de 6
Uma modelo desfila na passarela do desfile da Moschino Vittorio Zunino Celotto/Getty Images6 de 6
Em desfile anterior, a marca trouxe uma bolsa de macarrãoPietro D'Aprano/Getty Images
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