Nelson Barbosa: “A transição verde é um processo inevitável, que já começou”

Em live, o diretor do BNDES, Nelson Barbosa, defende a colaboração entre o Estado e o setor privado e destaca o papel do banco na COP30

Nov 4, 2025 - 12:30
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Nelson Barbosa: “A transição verde é um processo inevitável, que já começou”

“O mercado sozinho não resolve a crise climática.” A frase dita pelo economista Nelson Barbosa, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento e atual diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), resume o tom de urgência que marcou sua fala durante o painel “O BNDES e a Transição Verde no Brasil”, transmitido no YouTube do Metrópoles, a poucos dias da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30) que será realizada em Belém (PA).

Em conversa com a jornalista Vanessa Oliveira, Barbosa explicou, com clareza técnica e um senso agudo de realidade, que o país vive um ponto de virada: o momento em que as mudanças climáticas deixaram de ser tema de conferência e se tornaram uma questão de sobrevivência.

“O Brasil é um dos países mais afetados pelas variações climáticas. Estamos vendo secas severas, enchentes, e precisamos investir não só em mitigação, mas também em adaptação”, afirmou.

Segundo ele, a transição verde é um processo inevitável, que já começou – e o BNDES tem assumido papel central nesse novo modelo de desenvolvimento, ao reestruturar o Fundo Clima, criado em 2009 durante o segundo mandato do presidente Lula.

“Na época, o fundo movimentava cerca de R$ 300 milhões por ano. Hoje, falamos de R$ 10 bilhões em 2024 e R$ 15 bilhões em 2025, com previsão de chegar a R$ 50 bilhões em três anos. Isso muda de escala”, destacou Barbosa.

A ampliação de recursos, segundo ele, é uma decisão estratégica para financiar projetos de eletrificação do transporte urbano, energia renovável, reflorestamento e indústria verde – áreas fundamentais para que o Brasil cumpra suas metas climáticas e se torne referência global em sustentabilidade.

Barbosa reforçou que o desafio não é apenas ambiental, mas também econômico e social. “A transição verde precisa ser justa. Isso significa gerar empregos, renda e oportunidades nas regiões mais afetadas pelas mudanças climáticas, como a Amazônia e o Semiárido”, disse.

O Fundo Clima

No centro da estratégia do BNDES está o Fundo Nacional sobre Mudança do Clima, mais conhecido como Fundo Clima – um dos principais instrumentos de financiamento de projetos sustentáveis no país.

Criado em 2009 durante a COP15, na Dinamarca, o fundo nasceu com a missão de apoiar iniciativas capazes de reduzir emissões de gases de efeito estufa e promover o uso racional de recursos naturais.

“O Brasil foi o primeiro país do mundo a criar um fundo dessa natureza. Ele é alimentado com uma parcela da arrecadação de royalties do petróleo, um recurso que vem da exploração de energia fóssil e que agora financia justamente a transição para uma economia de baixo carbono.”Nelson Barbosa, diretor de planejamento e relações institucionais do BNDES

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O economista Nelson Barbosa, ex-ministro da Fazenda e atual diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)FOTOS: BRENO ESAKI/METRÓPOLES 2 de 3

A live foi realizada no estúdio do Metrópoles, em Brasília3 de 3

O economista Nelson Barbosa, ex-ministro da Fazenda e atual diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)FOTOS: BRENO ESAKI/METRÓPOLES

Durante quase uma década, o fundo teve atuação tímida, movimentando cerca de R$ 300 milhões por ano. Mas, segundo o ex-ministro, a retomada da agenda climática no atual governo e o compromisso com a COP30 fizeram o BNDES ampliar a escala do programa.

O banco

O BNDES também lançou uma plataforma digital de transparência, que permite a qualquer cidadão o acompanhamento, em tempo real, dos investimentos e dos resultados dos projetos.

“O BNDES nunca foi uma caixa-preta. Ele é um aquário. Todo mundo pode ver o que está acontecendo. Pode até discordar, mas pode ver”, disse Barbosa, enfatizando que a instituição é premiada há anos pelo Tribunal de Contas da União (TCU) como uma das mais transparentes do país.

Um país em movimento

A entrevista também abordou o Estudo Nacional de Mobilidade Urbana, coordenado pelo BNDES em parceria com o Ministério das Cidades, que analisou as 21 maiores regiões metropolitanas do Brasil.

 “Os projetos aprovados no ano passado vão evitar ou capturar o equivalente a quatro milhões de toneladas de carbono, o mesmo que nove meses de emissões do transporte urbano da Grande São Paulo.”Nelson Barbosa, diretor de planejamento e relações institucionais do BNDES

O objetivo é mapear os gargalos do transporte coletivo e priorizar projetos viáveis de médio prazo, com foco em reduzir emissões e melhorar a qualidade de vida urbana.

O estudo avaliou 190 projetos, selecionando 42 com maior potencial de impacto, entre metrôs, VLTs e corredores de BRT. Além dos benefícios ambientais, a ampliação do transporte coletivo reduz desigualdades e melhora a produtividade das cidades.

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Energia no país

Nelson Barbosa destacou também o potencial energético do país. “Nosso sistema elétrico é majoritariamente renovável, baseado em hidrelétricas. Isso é uma vantagem, mas também nos torna mais vulneráveis. Quando chove pouco, o país precisa acionar as termelétricas, e isso aparece na conta de luz de todos nós. Por isso precisamos diversificar a matriz e investir em energia solar, eólica e biogás”, pontuou.

O diretor ainda citou o biogás produzido em aterros sanitários, um segmento ainda pouco explorado no Brasil, mas com enorme capacidade de reduzir emissões e gerar empregos locais. “Esses projetos transformam o que antes era um problema ambiental – o lixo urbano – em uma solução energética limpa. É o tipo de inovação que a transição verde exige.”

Guardião verde

Ao falar sobre o desafio ambiental, Nelson Barbosa adota um tom mais urgente. “Preservar a Amazônia exige pensar também no povo que vive lá. São mais de 20 milhões de pessoas. Não existe floresta em pé sem uma economia de pé”, reforçou.

Entre as principais iniciativas estão as concessões da Floresta Nacional do Jatuarana (AM) – marco recente que amplia em 35% a área total sobre manejo florestal na região amazônica – e da Floresta Nacional do Bom Futuro (RO)

Esses projetos unem governos locais, comunidades indígenas e o setor privado em modelos de exploração de baixo impacto, geração de renda e vigilância ambiental.

O ex-ministro detalhou que o manejo sustentável permite a retirada controlada de apenas 3 a 5 árvores por hectare ao ano, com regeneração natural e certificação da madeira, uma estratégia que combina preservação e viabilidade econômica.

“Não é vender floresta. É manejar, vigiar e proteger. A floresta continua sendo do Estado, mas quem cuida dela é a própria população que dela vive. Isso é política pública inteligente.”Nelson Barbosa, diretor de planejamento e relações institucionais do BNDES

Essas concessões, segundo Barbosa, fazem parte de um plano mais amplo que ele chama de “Grande parede verde brasileira”, inspirado no projeto Great Green Wall, em execução na África.

A meta é criar uma faixa contínua de áreas reflorestadas e protegidas entre a Amazônia e o Cerrado, bloqueando o avanço do desmatamento e promovendo a recuperação de solos degradados.

“Queremos transformar o Arco do Desmatamento no Arco da Restauração, uma grande parede verde de esperança e trabalho.”

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Os resultados já são concretos: nos últimos dois anos, o BNDES mobilizou R$ 3,4 bilhões para projetos florestais, o que representa 70 milhões de árvores plantadas e mais de 23 mil empregos diretos.

A estimativa é que, somando as concessões em análise, o banco atue sobre uma área total do tamanho do estado de São Paulo.

Governo e mercado

O economista reforçou, entretanto, que nenhuma política pública sobrevive apenas de boas intenções. “Em democracias, os grandes projetos enfrentam sempre duas resistências: política e financeira. É preciso colaboração entre governo federal, estados, municípios e o Congresso. O desafio é garantir recursos e também segurança jurídica para que os projetos saiam do papel.”

Barbosa fez uma defesa firme da cooperação entre Estado e iniciativa privada como pilar da transição verde.

“Há problemas que o mercado sozinho não resolve. Eles exigem regulação, coordenação e participação social. O governo não deve fazer tudo, mas deve organizar, fiscalizar e garantir justiça ambiental.”Nelson Barbosa, diretor de planejamento e relações institucionais do BNDES

Para Barbosa, a transição energética e ambiental é também uma transição civilizatória.

COP30: um legado para o futuro

O economista encerrou sua participação na live do Metrópoles com uma mensagem voltada às novas gerações: “Confiem nas instituições, participem do processo e não se deixem paralisar pelo ceticismo. O futuro não será decidido por quem duvida, mas por quem age”.

Por fim, Barbosa adiantou que o BNDES deve anunciar novos projetos na COP30, que será realizada em Belém, consolidando o papel do Brasil como liderança climática global.

“Será uma COP de entregas. Teremos resultados concretos para mostrar e, como sempre acontece no Brasil, com grande participação popular.”

BNDES

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