O drama carioca (por André Gustavo Stumpf)

A prisão do presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Rodrigo Bacelar, completa o cenário.

Dezembro 6, 2025 - 10:00
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O drama carioca (por André Gustavo Stumpf)

O presidente Ernesto Geisel, nos anos setenta, estabeleceu objetivos estratégicos para o Brasil alcançar melhores índices econômicos. Era fundamental, na visão de seu principal assessor, o general Golbery do Couto e Silva, dividir Mato Grosso do Sul em dois estados, o que foi feito e, aparentemente, agradou um e outro lado. E levar o desenvolvimento brasileiro até aos vales úmidos do Maranhão, o que foi alcançado pelo pessoal da soja. O pequeno estado da Guanabara, que resultou da mudança da capital do Rio de Janeiro para Brasília em abril de 1960, deveria se fundir com o estado do Rio de Janeiro, para constituir um estado maior e capaz de gerar mais negócios e mais riqueza. Havia, na época, cinquenta anos atrás, o temor dos cariocas de que os políticos fluminenses, conhecidos por sua facilidade em tratar de assuntos complicados, terminassem por influenciar seus novos colegas. Aconteceu.

Os dois primeiros itens da estratégia dos militares para alavancar o crescimento econômico do país foram plenamente compensados. Os dois Mato Grosso constituem hoje cenário de enorme pujança agrícola. O agronegócio é grande vencedor na economia brasileira e o carro chefe nos números nacionais da balança comercial. O Maranhão, que era um estado esquecido no meio-norte brasileiro, assistiu a uma invasão dos produtores de soja e milho, de sul para norte, e se transformou em importante parceiro nacional no agronegócio. A Embrapa tem boa responsabilidade por este impressionante sucesso.

A divisão de Goiás aconteceu depois da Constituinte, em 1988, por obra e graça do esforço do deputado Siqueira Campos. Ele fez até greve de fome para conseguir que o presidente José Sarney assinasse os atos desafetando um estado de outro e criando o Tocantins. O estado que foi construído pela força da iniciativa privada, hoje é autônomo e também figura entre os maiores do agronegócio brasileiro. Além da soja e do milho, a criação de gado é muito forte naquelas plagas. O governo do PT tentou dividir o estado do Pará, em três estados distintos. Houve forte reação nativista e o projeto foi abandonado.

A história de fusões e divisões é uma tormenta na história da antiga Guanabara, cujo hino era a marcha Cidade Maravilhosa. Quando veio a fusão, o pequeno estado tinha superavit nas suas contas, realizara a grande obra do Aterro do Flamengo, no governo Carlos Lacerda, e de buscar água potável no rio Guandu, na baixada fluminense. Época em que foram abertos os túneis Santa Barbara, e Rebouças e que foi planejado o Metrô. Neste período, também, foram planejadas grandes obras viárias entre elas, o projeto da Barra da Tijuca, com o plano Lúcio Costa. Bons tempos cariocas. Este é o único lado bom desta história.

Os militares que deixaram funções nos quarteis da repressão, utilizaram suas técnicas de guerra para auxiliar na criação das milícias. Estas, por sua vez, conseguiram trabalhar junto ao tráfico internacional de drogas, que se conectou a prisioneiros organizados e estrangeiros comandantes do negócio da cocaína na América do Sul. Desta salada, resultou algo muito peculiar. O Rio de Janeiro, bonito, lindo, foi se apequenando. Perdeu parte de seu carnaval para a Bahia, perdeu a Bolsa de Valores e a Fórmula 1 para São Paulo. Restou, apenas, no Rio, a praia, o futebol, o Maracanã e a contravenção em larga escala. O estado da Guanabara era visto como rico, avançado e cosmopolita, enquanto o estado do Rio era considerado pobre, rural, atrasado. O atrasado prevaleceu sobre o moderno.

A prisão do presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Rodrigo Bacelar, completa o cenário. É a fotografia da avacalhação. Ele é acusado de vazar informações confidenciais sobre processo de prisão do deputado estadual Thiago Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, acusado de várias ilicitudes, entre elas de manter contato próximo com o Comando Vermelho. Bacelar não é o primeiro membro da famosa ALESP a ser preso. Não será o último. A confusão entre o particular e o público, ali, é conhecida. O melhor exemplo vem dos governadores do estado: os últimos cinco foram presos por corrupção.

De vez em quando, a polícia se enche de brios e faz operação pesada nas linhas vermelha e amarela, além de promover tiroteio nas comunidades vizinhas. Na última, mataram 121 pessoas, feriram um número não revelado de pessoas, mas foram aplaudidas pela população que concordou com a matança. O governador Cláudio Castro, enxergou no resultado da pesquisa melhores chances para sua candidatura ao Senado da República. Os cariocas começam a refazer suas expectativas. Ninguém quer acabar com o histórico bom humor dos moradores da cidade. Mas é melhor viver sem a ameaça constante de assalto e tiro e morte.

 

André Gustavo Stumpf, jornalista) (andregustavo10@terra.com.br)

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