Os futuros possíveis de Osaka (por Marcos Magalhães)

No mundo real as notícias por enquanto são de um mundo que se debruça em guerras

Jun 25, 2025 - 11:30
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Os futuros possíveis de Osaka (por Marcos Magalhães)

O viajante que gosta de acompanhar o ritmo das longas viagens intercontinentais não tira o olho dos mapas eletrônicos à sua frente. Ao perceber como o avião passa perto de zonas de conflito, como o Irã, o passageiro percebe como pode ser frágil a paz global.

Este foi o caso, há poucos dias, de milhares de pessoas que retornavam à Europa depois de visitar o Japão. Não viram mísseis perdidos nos céus daquela parte do planeta. Mas bastava um olhar atento sobre o mapa a bordo para imaginar como um conflito aberto no Oriente Médio poderia colocar em risco a estabilidade internacional.

O risco, por enquanto, parece afastado. O presidente Donald Trump anunciou um cessar-fogo entre Israel e Irã – o primeiro uma potência nuclear e o segundo um candidato à mesma posição. Os mísseis, que cruzaram os mesmos céus dos aviões de carreira, deixam de buscar seus alvos e de demonstrar força.

A trégua pode ser duradoura? O Irã estaria pronto para renunciar à continuidade de seu programa nuclear? Israel estaria disposto a sentar-se à mesa de negociações com os representantes de um regime que planeja o fim do Estado judeu?

Seria necessária uma boa dose de otimismo para acreditar em uma solução negociada de curto prazo. Mas esse otimismo poderia ser alimentado pela preocupação com o claro risco de uma guerra prolongada e aberta na região. Uma guerra que poderia, no pior cenário, reinaugurar o risco atômico.

O único país que já viu de perto os horrores de uma guerra nuclear – e que começa a se rearmar com o refluxo da antes generosa ajuda dos Estados Unidos – agora aposta na construção de cenários mais promissores para o futuro próximo.

Na Expo 2025, em Osaka, pavilhões de países de todo o mundo exibem planos de nações ricas e pobres para buscar um futuro mais justo e sustentável para o planeta. Imagens e sons buscam ainda atrair simpatia de visitantes internacionais.

O pavilhão brasileiro – ainda que bastante criticado pela intervenção artística de sua primeira sala – aposta na divulgação da imagem de um país aberto ao mundo, multicultural e pronto para exercer papel de destaque na transição energética do planeta.

Estão ali as imagens de um país que aposta nos biocombustíveis e nas energias renováveis, que amadurece a produção de carros flex híbridos e que tem uma indústria aeronáutica já envolvida em projetos de descarbonização.

A França exibe sua aposta na convergência de arte com novas tecnologias. Portugal mostra sua proximidade com o país anfitrião, por meio de palavras portuguesas incorporadas há séculos ao idioma japonês. E lembra a importância dos oceanos para a saúde do planeta.

A Coreia do Sul dá um show de modernidade com danças de luzes e vídeos sobre encontros de novas e antigas gerações.

Se não abre margem a um otimismo aberto, a exposição ao menos indica que existem propostas e projetos capazes de tornar o planeta um local mais sustentável e socialmente justo. O que se fará delas? Ainda depende muito dos países, cujos pavilhões estão tão próximos em Osaka, mas cujas relações às vezes permanecem tão distantes.

A trégua anunciada entre Israel e Irã alivia o cenário. Mas ainda estão no radar a guerra entre Rússia e Ucrânia e o massacre da população civil de Gaza.

No mundo real as notícias por enquanto são de um mundo que se debruça menos sobre a construção de futuros possíveis, como os mostrados em Osaka, e mais sobre os preparativos cada vez mais detalhados de guerra.

 

Marcos Magalhães. Jornalista especializado em temas globais, com mestrado em Relações Internacionais pela Universidade de Southampton (Inglaterra), apresentou na TV Senado o programa Cidadania Mundo. Iniciou a carreira em 1982, como repórter da revista Veja para a região amazônica. Em Brasília, a partir de 1985, trabalhou nas sucursais de Jornal do Brasil, IstoÉ, Gazeta Mercantil, Manchete e Estado de S. Paulo, antes de ingressar na Comunicação Social do Senado, onde permaneceu até o fim de 2018.

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