Presença de facções criminosas bate recorde e cresce 32% na Amazônia

Expansão do crime organizado nos estados da Amazônia Legal atinge maior nível histórico, com 344 municípios sob influência de facções

Nov 19, 2025 - 21:30
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Presença de facções criminosas bate recorde e cresce 32% na Amazônia

A presença de facções criminosas na Amazônia Legal cresce em ritmo acelerado e alcançou, em 2025, o maior patamar já registrado desde o início do monitoramento feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

O número de municípios com atuação de grupos, como Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), saltou de 260 para 344 em um ano — um aumento de 32%, segundo a nova edição do relatório Cartografias da Violência na Amazônia, divulgado nesta quarta-feira (19/11), durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), em Belém (PA).

Os dados mostram que, em apenas dois anos, o avanço das facções praticamente dobrou na Amazônia. Em 2023, 178 municípios tinham registros de facções. Agora, são 344, o equivalente a 44,6% das 772 cidades amazônicas.

O levantamento ressalta que esse aumento pode refletir tanto uma expansão real das organizações quanto o aprimoramento metodológico da pesquisa e a intensificação de operações policiais, que acabam revelando grupos antes não identificados.

Expansão acelerada de facções

Em 2025, 84 novos municípios da região entraram na lista de regiões sob influência direta de facções. Em 2024, a terceira edição do relatório já trazia um salto expressivo: 46% de aumento em relação a 2023.

O novo levantamento revela, ainda, que a ramificação do crime organizado na Amazônia rompe a lógica urbana: 166 dos 344 municípios com facções são rurais. Os grupos criminosos ganham força em rotas fluviais, áreas de fronteira internacional e regiões dominadas por atividades ilegais de garimpo, madeira e grilagem.

Quase 60% da expansão – 50 dos 84 novos municípios – ocorreram no estado do Mato Grosso. O Pará foi o segundo estado com maior número de acréscimos, com 18 municípios ligados às facções.

A presença territorial das facções é distribuída:

  • 258 municípios registram atuação de uma única facção;
  • 86 cidades têm disputa simultânea entre duas ou mais organizações criminosas.

No último ano, o Comando Vermelho ampliou o domínio e aparece, agora, em 286 cidades, consolidando-se como a facção mais presente na Amazônia. Já o PCC mantém estabilidade, com presença em 90 municípios.

Ecossistema criminal interligado

A nova edição do relatório destaca que o avanço das facções na Amazônia Legal faz parte de um ecossistema criminal interligado, no qual o narcotráfico se integra a crimes ambientais e economias predatórias.

Essa simbiose, descrita pelos pesquisadores como uma “evolução estratégica”, reorganiza territórios, redes de poder e formas de violência.

Com isso, as facções funcionam como um Estado paralelo: cobram pedágio para atividades ilegais, impõem normas e disciplinam comportamentos com violência. A disputa por rotas de drogas se transforma em governança territorial em áreas onde o Estado não chega.

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Ouro ilegal é a moeda do crime

O garimpo ilegal de ouro é o elo central entre o narcotráfico e atividades ambientais ilícitas:

  • o capital das drogas é reinvestido no garimpo;
  • o ouro extraído ilegalmente funciona como moeda de troca para a compra de cocaína na Colômbia e no Peru;
  • Facções controlam cadeias de extração mineral em Terras Indígenas (TI), como na TI Sararé (MT), onde o CV impõe regras, tributos e controla a entrada de pessoas e insumos.

As mesmas rotas clandestinas — fluviais e aéreas — servem para transportar ouro, cocaína, armas e trabalhadores cooptados.

Além do garimpo, as facções diversificam investimentos e parcerias com grupos ligados ao desmatamento e grilagem – usados para legalizar ocupações e lavar recursos – , à exploração madeireira, que abastece mercados clandestinos e serve de fachada logística, e pesca predatória.

Essa diversificação consolida o que pesquisadores chamam de “portfólio interdependente de negócios ilícitos”, transformando a floresta em um ativo econômico estratégico para o crime organizado.

Impacto direto na vida da população

A expansão das facções pelo território altera a dinâmica da violência e tende a aumentar riscos especialmente para mulheres, povos indígenas e moradores de áreas isoladas, que vivem fora do alcance das políticas públicas.

As mulheres, por exemplo, vivem em hipervulnerabilidade. A Amazônia Legal apresenta taxas de violência sexual 33,8% maiores que a média nacional. Em áreas de garimpo ilegal, a violência contra as mulheres se torna parte de um sistema de coerção, com exploração sexual, servidão por dívida, punições e controle disciplinar. A presença de facções armadas amplia o risco.

Em Terras Indígenas, especialmente no Vale do Javari, Yanomami, Sararé, Munduruku e Kayapó, facções impõem novas dinâmicas de risco às comunidades.

As regiões funcionam como corredores do macrotráfico e pontos de microtráfico nas aldeias. Há aliciamento de adolescentes, risco de contaminação por mercúrio e degradação ambiental acelerada.

No Alto Solimões, o tráfico já explora a ausência do Estado e utiliza territórios indígenas como rotas estratégicas para o escoamento de cocaína, aponta o relatório.

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