Principal ameaça a Lula não é Tarcísio nem Ratinho (Leonardo Barreto)
O elemento para avaliar as condições de reeleição do presidente continua sendo o desempenho econômico

Enquanto muito se fala em Tarcísio ou Ratinho Júnior como adversários de Lula em 2026, não pode passar batido que o principal elemento para avaliar as condições de reeleição do presidente continua sendo o desempenho econômico.
Nesse sentido, o ambiente geral é de redução do ritmo da atividade. Segundo projeção divulgada pelo Banco Central (BC), 2026 deve registrar a menor taxa de crescimento do terceiro mandato de Lula (1,5%).
O responsável pelo crescimento menor é o aumento da taxa de juros empreendido pela autoridade monetária para trazer a inflação para a meta. Segundo o relatório do COPOM, a moderação da economia se concentra em empréstimos de mais longo prazo e consumo de produtos duráveis. A atividade ainda está aquecida na área de serviços, mais ligada à renda salarial média, e ao crédito emergencial.
A área política, claro, tem razões para ficar preocupada.
Nesta semana, analistas disseram que Fernando Haddad “rasgou a roupa” e antecipou a pressão política que recairá sobre Gabriel Galípolo, afirmando não ver razões para a taxa de juros estar em 15%.
Se não há relaxamento da Selic no horizonte, o governo deve reagir pelo lado do gasto. Aí há outro problema.
Pelo menos R$ 100 bilhões do orçamento para o ano que vem dependem de receitas não garantidas e da aprovação de leis no Congresso que aumentem impostos e cortem subsídios. Além disso, a projeção de crescimento do PIB utilizada para prever a arrecadação do ano que vem foi de 2,44%, algo bem diferente do que o BC está antecipando.
Nesta semana, a Receita divulgou uma queda na arrecadação em relação ao mês anterior de 1,5% em agosto, algo que não ocorria desde 2023. Por isso, o ministro Fernando Haddad foi ao Congresso nesta semana também dizer que, se a MP 1303 com aumento de impostos não for aprovada, não haverá financiamento para a agricultura no ano que vem.
Se política fosse álgebra linear, poderia se dizer que o ano eleitoral será de crescimento baixo, população endividada, crédito limitado, menos emprego, aumentos de salários menores e o governo agindo de forma comedida, sem muito o que fazer considerando a situação fiscal delicada.
Mas, como essa situação é insustentável para um presidente acostumado a ignorar limites, o cenário mais provável é buscar meios de injetar dinheiro na economia sem muita prudência, criando custos para o momento posterior ao da eleição e colocando muita pressão nas regras fiscais.
Leonardo Barreto, doutor em Ciência Política pela UnB
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