Social media do crime: como o CV usa a web para disseminar fake news
A facção usa redes sociais para manipular informações, intimidar rivais e influenciar moradores. A Polícia Civil tem reagido à prática
Desde que as facções criminosas surgiram no território brasileiro, em meados da década de 1970, o crime organizado tem recorrido a diversas estratégias para ampliar seu poder e lucrar por meio de atividades ilícitas. A coluna apurou que o Comando Vermelho (CV) estruturou uma espécie de “assessoria do crime”, utilizada para driblar a polícia, fortalecer a influência territorial e disseminar informações falsas.
Com presença consolidada em 25 estados e no Distrito Federal, segundo levantamentos de inteligência e de órgãos de segurança, o modus operandi é semelhante em todas as regiões. Em plataformas como X (antigo Twitter), WhatsApp e comunidades no Telegram, líderes criminosos compartilham comunicados e avisos à população.
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Um cargo específico
As divulgações não são simples mensagens feitas por qualquer integrante. Dentro das células criminosas, os traficantes são “escalados” para funções específicas.
Washington César Braga da Silva, de 35 anos, alvo da megaoperação de 28 de outubro e ainda foragido, é apontado como uma espécie de “gestor do crime”. Conhecido como “Grandão”, ele geria o crime no Complexo da Penha e elaborava comunicados disseminados na web.
As investigações apontam que também montava escalas de plantão nos pontos de venda de drogas, definia normas de comportamento e estratégias de defesa, além de gerenciar as finanças da facção.
“Guerra de narrativas”
A Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro (PCERJ) passou a disputar o controle de narrativas. A assessoria de comunicação, antes vista apenas como setor administrativo, agora é usada como instrumento estratégico para informar a população em diferentes plataformas.
Na sede da Polícia Civil, na Rua da Relação, uma equipe de oito profissionais mostra as operações em outro formato. Segundo o chefe da assessoria de comunicação, Iuri Cardoso, o Secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, vê a necessidade de investir nisso.
“O Curi tem a visão de que existem duas guerras: a primeira no front, onde os policiais cumprem a missão; a segunda, mais importante, é a guerra da narrativa.”
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1 de 4Diante da engrenagem criminosa, a PCERJ tem brigado para manter o controle das narrativasAline Massuca/Metrópoles
A equipe da assessoria de comunicação da PCERJ estuda as melhores formas de bater de frente com a fábrica de fake newsAline Massuca/Metrópoles
Mariana Albuquerque, coordenadora de mídias sociais da PCERJ, orientando a equipeAline Massuca/Metrópoles
Aline Massuca/Metrópoles
A linguagem do público
Para “furar a bolha”, a equipe estuda as melhores formas de se conectar com diferentes públicos. Um exemplo é o vídeo publicado em outubro, quando o mistério da reta final da novela “Vale Tudo” dominava a internet.
A coordenadora de mídias sociais da PCERJ, Mariana Albuquerque, sugeriu usar a tendência para impulsionar conteúdos sobre armamento ilegal. O vídeo mesclou cenas da novela para alertar sobre o porte ilegal de armas e alcançou milhares de visualizações.
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