Uma discussão incômoda
Coluna Alex Medeiros Por Tribuna do Norte Em julho, setembro e novembro de 2022 eu publiquei aqui notas alertando sobre a erotização de menores entre 10 e 16 anos nas redes Instagram, Tik Tok e YouTube sem que nenhuma autoridade lançasse olhos naquilo. Mas estavam sempre alerta para patrulhar quem contrariava a pauta elegebesteira. […]


Coluna Alex Medeiros
Por Tribuna do Norte
Em julho, setembro e novembro de 2022 eu publiquei aqui notas alertando sobre a erotização de menores entre 10 e 16 anos nas redes Instagram, Tik Tok e YouTube sem que nenhuma autoridade lançasse olhos naquilo. Mas estavam sempre alerta para patrulhar quem contrariava a pauta elegebesteira. Pouco depois, a assessoria do Tik Tok enviou um e-mail avisando que impôs um limite etário. A verdade é que as redes são extensão de uma cultura antiga.
O Brasil tem uma longa e contraditória relação com a infância. Ao mesmo tempo em que proclama proteger menores, convive com práticas culturais e midiáticas que, ao longo das décadas, expuseram crianças a conteúdos e situações que ultrapassam em muito o limite saudável da sua idade. Nos anos 1990 e início dos 2000, a televisão aberta foi o grande palco desse fenômeno.
Auditórios incentivaram meninas, muitas pré-adolescentes, a participarem de coreografias sensuais ao som de grupos como É o Tchan. Crianças vestindo trajes iguais das dançarinas brincavam de dançar a “Boquinha da Garrafa”.
A conotação sexual da dança era óbvia para qualquer adulto, mas estranhamente era tratada como diversão inocente para plateias e até por familiares. Mães empurravam as filhas ao palco, orgulhosas da desenvoltura.
A ficção também entrou na dança. Novelas e filmes exibiram menores em situações de romance e sensualidade e eram envolvidos em tramas amorosas com adultos, sem críticas sobre limites éticos e o impacto na audiência jovem.
Nas artes, episódios recentes reacenderam a polêmica. Uma exposição em Porto Alegre, em 2017, incluiu uma performance onde crianças tocavam um homem nu, coisa que organizadores disseram ser apenas arte contemporânea. O episódio provocou indignação e abriu uma guerra de narrativas: de um lado, a defesa da liberdade artística, capitaneada pela esquerda e pela imprensa progressista; de outro, o argumento moral da proteção integral das crianças.
O que tais momentos têm em comum é a banalização de condutas que, sob o discurso da inocência ou da expressão artística, acabam atravessando a fronteira entre a valorização cultural e a sexualização precoce dos menores.
A adultização não é só vestir crianças como adultos ou incentivá-las a repetir gestos e coreografias de conotação sexual; é também projetar nelas expectativas, comportamentos e emoções que pertencem ao universo adulto.
O debate é incômodo porque exige que a sociedade olhe para o próprio passado e reconheça que o que ontem foi tratado como normal hoje é entendido como nocivo. Mas a polêmica não pode ser tática político-partidária.
A adultização de menores é tão antiga (como lembrou Jânio Vidal aqui ontem) que já virou patrimônio cultural não declarado. É como se o Brasil afirmasse que criança não precisa viver a infância; basta ser miniatura do mundo adulto.
No fundo, o problema não é só moral, é estético. Começou nos anos 60 com as meninas vestindo suas bonecas, depois se vestiram de bonecas e adiante incorporaram mulheres reais, com direito aos cosméticos e à “moda fashion”.
O mercado chamou de charme, a televisão tratou como brincadeira, as artes classificaram de livre expressão, a justiça interpretou como ousadia inocente e a esquerda decretou como quebra de tabus. Freud diria que é outra coisa. E é na coisa que entra em cena a pedofilia, hoje um negócio e uma política.
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