Do STF à Papuda: usuários tentam “replicar” política do Brasil em game
Jovens recriam STF, Congresso e governo, promovendo eleições, julgamentos e até prisões virtuais em um RPG político no jogo virtual Habbo

Usuários do jogo online Habbo Hotel, comunidade virtual voltada principalmente ao público adolescente, têm se aproximado cada vez mais de pautas do cotidiano brasileiro — inclusive da política nacional —, recriando órgãos como o governo federal, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional. A dinâmica inclui base e oposição ao governo, além de pressão pelo impeachment do atual presidente no jogo virtual.
Como forma de entretenimento e engajamento, os usuários recriam cenários e dinâmicas do poder público, adaptando espaços e funções para simular o funcionamento das instituições. As representações vão desde votações no Congresso e sessões de julgamento no STF até a edição de decretos presidenciais, transformando o jogo em um ambiente de interação e debate político.
O RPG, que tenta imitar a vida real, conta com Constituição Federal, Código Penal e até regimento do próprio STF, com instrumentos como HCs, ADIs, ADFs, entre outros. Também há um estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) adaptado para a “Ordem dos Advogados do Habbo”, permitindo que jogadores atuem na defesa de investigados em processos internos do RPG político.
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Os participantes buscam se espelhar em personalidades dos Três Poderes, como o ministro Alexandre de Moraes e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — com oposição política no Congresso Nacional semelhante à de Brasília, especialmente após a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Assim como na vida real, no game cabe ao presidente da República — também retratado na simulação — indicar os ministros para a Suprema Corte. Já os parlamentares podem propor projetos de lei e outras proposições e, no caso de deputados e senadores, também indicados por cada estado, a Mesa Diretora da Casa é responsável por aplicar medidas, como a suspensão do mandato.
“Quero que as pessoas percebam que a política não é algo distante ou inacessível, mas sim algo que faz parte da vida de todos nós. Espero que os jogadores entendam a importância do diálogo, da democracia e da participação ativa, mesmo que aqui seja num ambiente virtual. No fundo, a mensagem é que todos podemos contribuir para um mundo mais organizado e justo, seja na vida real ou no RPG”, afirmou o criador da ideia, o estudante John Hudson.
O “Congresso” do jogo é adaptado com características do Senado e as icônicas torres do Congresso Nacional, projetadas por Oscar Niemeyer em 1960.
Hudson explica que essa aproximação entre a estética do game e a vida real estimula os jogadores — em sua maioria adolescentes — a cobrarem representantes e a assumirem responsabilidades com seus deveres.
“Quando a gente apresenta a política de forma acessível, interativa e sem linguagem complicada, conseguimos quebrar aquela barreira do ‘isso não é para mim’. O RPG cria um ambiente seguro para testar ideias, debater e entender processos, e isso pode despertar um interesse real pela participação na política do mundo real”, disse.
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Quarto do STF no jogo simulado Habbo HotelReprodução2 de 4
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Congresso
Julgamento
Assim como no caso de Jair Bolsonaro, que será julgado no STF em setembro, a dinâmica do jogo busca replicar medidas semelhantes — desta vez, porém, contra um deputado do mundo virtual investigado pelo Ministério Público Federal (MPF) por corrupção e má conduta.
No “STF” do game, as punições aplicadas a parlamentares incluem o uso de tornozeleira eletrônica e prisão preventiva em uma espécie de “Papuda” adaptada dentro do jogo, destinada a jogadores condenados após julgamento. Tudo isso acontece em meio às eleições presidenciais e legislativas dentro do jogo, nas quais o público do Habbo elege seus “representantes” para os cargos de presidente, deputados e senadores virtuais.
“A maior surpresa foi ver o tanto de gente que abraçou a ideia. Eu imaginava que seria divertido, mas não que tanta gente iria querer participar com tanta dedicação. Outra surpresa foi perceber que, mesmo em um ambiente virtual, as pessoas conseguem construir vínculos fortes, trabalhar em equipe. É muito interessante ver as articulações acontecendo, principalmente em época de eleição”, afirmou Hudson.
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