Está tudo como dantes no processo sobre a tentativa de golpe
Em risco, só o prêmio pela delação de Mauro Cid

Digamos que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante-de-ordem de Bolsonaro, voltou a mentir ao dizer que recebeu uma sacola ou uma caixa de vinho com cerca de 100 mil reais das mãos do general Braga Netto para financiar despesas da trama golpista de dezembro de 2022. Os dois foram acareados ontem no Supremo Tribunal Federal pelos ministros Alexandre de Moraes e Luiz Fux.
E daí que Mauro Cid tenha mentido pela segunda vez em menos de 30 dias? Na condição de réus, ele e Braga Netto estão liberados para mentir à vontade. A lei lhes assegura isso. De resto, salvo uma confissão inesperada, o depoimento de acusados por crimes pesa pouco ou quase nada na decisão final dos seus julgadores. O que de fato importa são evidências e provas consistentes do crime.
Não foi a delação de Mauro Cid que desatou as investigações da Polícia Federal acerca da tentativa de golpe que se frustrou por falta de apoio militar. Mauro Cid só delatou para livrar-se de uma pena maior caso fosse condenado, como será. E mesmo assim, ainda por cima, não contou tudo que sabe. Arrisca-se a perder o prêmio por sua delação se restar provado que mentiu.
Portanto, seguirá sem alteração o processo sobre o golpe. Ou como preferem dizer os portugueses valendo-se de um dito popular do século 19: “Tudo como dantes no quartel de Abrantes”. Foi num castelo de Abrantes, cidade a 144 quilômetros de distância de Lisboa, que se instalou o alto comando das tropas de Napoleão Bonaparte que invadiram Portugal em 1807.
O país estava praticamente sem governo. O príncipe-regente Dom João VI e toda sua corte havia fugido para o Brasil. Ninguém em Portugal ousou enfrentar os franceses. E a quem perguntasse como estavam indo as coisas, a resposta irônica dos portugueses da arraia miúda era sempre a mesma:
“Está tudo como dantes no quartel d’Abrantes”.
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