Moraes autoriza policial que falou em “matar meio mundo” a ir ao STF
Wladimir Soares é réu pelo núcleo 3 de trama golpista, que, entre outros pontos, é acusado de elaborar o plano de matar Lula e Moraes
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou o policial federal Wladimir Matos Soares, de 53 anos, a participar presencialmente de julgamento na Primeira Turma da Corte, nestas terça-feira (18/11) e quarta-feira (19/11). Wladimir é um dos réus do núcleo 3, composto por nove militares e um policial que são julgados por promoveram ações como monitoramento e planejamento de ataques contra autoridades.
A acusação da PGR divide o grupo em três frentes de atuação: planejamento de assassinatos de autoridades, pressão sobre a cúpula das Forças Armadas para aderir ao golpe e propagação de desinformação sobre o sistema eleitoral.
De acordo com a PGR, réus do núcleo 3 elaboraram o plano “Punhal Verde e Amarelo”, que previa o assassinato do então presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do então vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), e do ministro do STF Alexandre de Moraes.
Wladimir pediu autorização para estar presente na sessão de julgamento e Moraes permitiu, em decisão publicada nesta segunda-feira (17/11). Wladimir foi flagrado em áudios obtidos e periciados pela Polícia Federal (PF) em momentos nos quais revela informações sobre a segurança do presidente Lula a servidores ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Em relação ao STF, o policial federal chegou a afirmar em uma das gravações que haveria um grupo armado para prender ministros da Corte. Ele chega a falar ainda que haveria disposição para uso de força letal e “matar meio mundo”.
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“Autorizo o deslocamento do requerente Wladimir Matos Soares nos dias 18/11/2025 e 19/11/2025, tão somente entre o local em que está custodiado e o local da sessão de julgamento, mediante escolta policial, a ser realizada de forma discreta e sem ostensividade no uso de armas”, decidiu Moraes sobre a presença do réu, que está preso, no julgamento.
Pedido de prisão
O procurador-geral da República (PGR), Paulo Gonet, no ínicio do julgamento, em 11 de novembro, pediu a condenação dos réus do núcleo 3 da trama golpista, conhecidos como “kid pretos” — expressão usada para designar militares de forças especiais do Exército. O julgamento é conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso.
Gonet ressaltou que as preliminares apontadas pela defesa foram superadas. Disse ainda que o recente julgamento da Ação Penal nº 2.694 mostra a complexidade da sequência dos fatos narrados e comprova os crimes apontados.
“As investigações escancaram a declarada disposição homicida e brutal da organização criminosa, que, para isso, se articulou e se lançou providências executórias devidamente armadas”, afirmou Gonet.
Segundo ele, para os kids pretos, “Moraes era considerado o centro de gravidade, o centro de poder”. “Sobre as ações de campo para a neutralização de autoridades públicas. As contribuições do major Rodrigo Bezerra de Azevedo, do major Rafael Martins de Oliveira, do tenente-coronel Hélio Ferreira Lima e do agente da Polícia Federal Wladimir Soares. Os acusados Rodrigo Bezerra de Azevedo, Rafael Martins de Oliveira e Hélio Ferreira Lima, militares identificados como as forças especiais, bem como Wladimir, agente de polícia da Polícia Federal, foram os responsáveis pelas iniciativas mais violentas da organização criminosa”, detalhou Gonet.
De acordo com o PGR, “a partir de seus conhecimentos táticos especiais, aderiram à organização criminosa, assumindo a tarefa de neutralizar violentamente autoridades centrais do regime democrático e tomando a si o trabalho conexo de propiciar o caos social”.
Entre os réus estão oficiais da ativa e da reserva e um policial. O grupo é formado por 10 acusados:
- General Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, acusado de dar aval aos planos golpistas e de incentivar Jair Bolsonaro a assinar um decreto de ruptura institucional.
- Tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, apontado como autor de uma planilha que detalhava as etapas do golpe e de planejar ataques contra Lula, Alckmin e Moraes.
- Tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira, acusado de monitorar autoridades e participar de reunião com Braga Netto sobre mobilização popular.
- Tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo, suspeito de integrar o grupo encarregado da neutralização de autoridades.
- Coronel Bernardo Romão Corrêa Netto, que teria participado de reunião em Brasília, em 28 de novembro de 2022, para pressionar generais a apoiar o golpe.
- Coronel Fabrício Moreira de Bastos, acusado de atuar na pressão sobre comandantes militares.
- Coronel Márcio Nunes de Resende Júnior, que teria redigido uma carta para convencer a cúpula das Forças Armadas a apoiar a ruptura democrática.
- Tenente-coronel Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros, acusado de colaborar na redação da mesma carta.
- Tenente-coronel Ronald Ferreira de Araújo Júnior, denunciado por incitação ao crime, por estimular animosidade das Forças Armadas contra os Poderes. A PGR pediu que sua acusação fosse rebaixada, por falta de provas de envolvimento direto.
- Wladimir Matos Soares, agente da Polícia Federal, acusado de monitorar Lula e repassar informações sobre sua segurança a aliados de Bolsonaro.
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1 de 10General do Exército Estevam Cals Theophilo Gaspar de OliveiraFoto: Comando Militar da Amazônia/Exército
Hélio Ferreira LimaReprodução
Militares foram alvo por contato com o tenente-coronel do Exército Rafael Martins de Oliveira, indiciado pela PFReprodução
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O coronel de infantaria Fabrício Moreira de BastosEB
Coronel Marcio Nunes Resende em interrogatório no STFReprodução/STF
Felipe Dalla Valle/Palácio Piratini
Reprodução 
O policial federal Wladimir Matos Soares, preso preventivamente e alvo de inquérito do golpe no STFReprodução
Os crimes
Nove dos 10 réus respondem por organização criminosa armada, tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, deterioração do patrimônio público e dano ao patrimônio tombado. Apenas Ronald Ferreira de Araújo Júnior teve a denúncia atenuada para incitação ao crime.
Segundo a PGR, os “kids pretos” formaram uma célula militar clandestina, dividida em missões específicas, que iam desde o planejamento de ataques até a propaganda golpista nas redes. Parte das provas se baseia em mensagens trocadas com o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.
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