7 de setembro: o espetáculo da política e a guerra simbólica

  Nos últimos anos, o 7 de setembro deixou de ser apenas uma data cívica. Tornou-se palco de uma disputa simbólica que revela a transformação da política brasileira em espetáculo. A Independência, que deveria unir o país em torno de sua memória histórica, foi convertida em arma de guerra narrativa e em instrumento para reforçar […]

Sep 6, 2025 - 22:00
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7 de setembro: o espetáculo da política e a guerra simbólica

 

Nos últimos anos, o 7 de setembro deixou de ser apenas uma data cívica. Tornou-se palco de uma disputa simbólica que revela a transformação da política brasileira em espetáculo. A Independência, que deveria unir o país em torno de sua memória histórica, foi convertida em arma de guerra narrativa e em instrumento para reforçar a polarização afetiva.

 

Este ano, o contexto é ainda mais explosivo. O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de tentativa de golpe de Estado e com previsão de encerramento em 12 de setembro, transforma o feriado em uma arena estratégica. Não se trata apenas de comemorar a nação, mas de marcar posições políticas, mobilizar afetos e testar forças.

 

É nesse ponto que o nós contra eles do neopopulismo se torna evidente. Não estamos diante de simples divergência política, mas da fabricação permanente de inimigos, com reforço de elementos conservadores pela direita. Essa lógica, descrita por Cas Mudde, estrutura o populismo: um “povo puro” contra uma “elite corrupta”. No Brasil, a radicalização desse discurso ganhou cores, símbolos e rituais coletivos.

 

A apropriação das cores e símbolos nacionais pela direita conservadora não é apenas simbólica; visa à construção de uma narrativa comunicacional e contribui para esvaziar o debate público. Não podemos aceitar que símbolos nacionais sejam sequestrados para servir a interesses ideológicos.

 

O que deveria ser patrimônio comum passou a ser apropriado como uniforme bolsonarista. Ao mesmo tempo, setores progressistas lutam contra essa captura dos símbolos nacionais. Esse processo se intensificou como estratégia após o “tarifaço” de Donald Trump e as ameaças à soberania nacional.

 

Como lembra Ernesto Laclau, a luta pela hegemonia passa exatamente pela capacidade de definir o significado dos símbolos.

 

O que veremos no 7 de setembro, especialmente no ambiente digital, é uma avalanche de mensagens orquestradas para reforçar o sentimento de pertencimento e identidade, gerando mobilização afetiva com poder de impactar a esfera pública. Guy Debord já havia antecipado que a política, na sociedade do espetáculo, se reduz a encenação. Importa menos o conteúdo e mais o impacto visual, a performance capaz de gerar emoção.

 

É sintomático que a Independência, um marco de união, tenha se tornado sinônimo de divisão cada vez mais aguçada. De um lado, bolsonaristas que tentarão projetar a imagem de resistência diante do processo judicial contra seu líder. De outro, progressistas que reivindicam a defesa da democracia e das instituições, esforçando-se para mostrar que os símbolos nacionais não podem ser sequestrados por uma facção política.

 

Não se trata de mera disputa estética. Está em jogo o significado da própria ideia de “povo brasileiro”. O 7 de setembro nos lembra que, na política atual, as batalhas decisivas não se travam apenas nas cortes ou no Congresso, mas no terreno dos símbolos. Quem vence essa guerra simbólica conquista muito mais do que corações e mentes: conquista o poder de definir o futuro da democracia no Brasil.

 

O 7 de setembro deveria nos lembrar da independência, mas virou vitrine da dependência da política brasileira aos afetos da polarização e aos algoritmos. Por isso, é essencial que o povo brasileiro comece a olhar para a política não apenas pelas redes sociais, mas de forma ampla e efetiva, valorizando os interesses coletivos e a defesa da democracia.

 

Vanessa Marques: jornalista, mestre em comunicação na Espanha e pós-graduada em economia e ciência política. Atua há 20 anos na comunicação política, com 13 anos de experiência na Câmara dos Deputados. Pesquisadora na UNB nas áreas de neopopulismo, espetacularização e mídias sociais digitais.

 

Por Vanessa Marques

Instagram: @vanessamarques.mkt

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